“…consequência da redução do consumo brasileiro foi a mudança de foco da cadeia para novos clientes, principalmente os internacionais, para reduzir a dependência do mercado interno…”

Yago Travagini Ferreira, head de pecuária da Agrifatto
Yago Travagini Ferreira é head de pecuária da Agrifatto e responsável pelas análises e atendimento aos clientes. Travagini é economista formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, focado em análise de mercado do agronegócio e especializado em bovinocultura de corte. Foi professor de derivativos agrícolas da Escola de Negócios Saint Paul.
AgriBrasilis – Qual é a atuação da Agrifatto e quais são seus objetivos?
Yago Travagini – A Agrifatto é uma casa de análises de ativos agropecuários focada em gerenciamento de riscos mercadológicos. Nosso principal objetivo é auxiliar o produtor a gerenciar seu risco na hora de comercializar.
AgriBrasilis – O consumo de carne bovina está em um dos menores patamares já registrados. Que fatores motivaram essa queda? Quais as consequências na cadeia produtiva e o que se espera para os curto e médio prazos?
Yago Travagini – A principal motivação para a redução do consumo interno de carne bovina no Brasil foi a perda de poder de compra do brasileiro.
Entre 2015 e 2021 o PIB per capita do Brasil diminuiu e com isso o brasileiro viu seu poder de compra reduzir fortemente, fazendo com que ele migrasse seu consumo da proteína bovina para proteínas de menor valor. A consequência da redução do consumo brasileiro foi a mudança de foco da cadeia para novos clientes, principalmente os internacionais, para reduzir a dependência do mercado interno e conseguir avançar em produtividade mesmo diante de uma população com menor poder de compra. Um desses clientes é a China.
Para o curto e médio prazo, espera-se uma retomada no consumo interno, visto que os indicadores de PIB demonstram uma melhora no curto prazo, assim como outros indicadores como desemprego e renda média do trabalhador.
AgriBrasilis – Qual o panorama das exportações brasileiras de carne bovina? Como tem se comportado a demanda chinesa?
Yago Travagini – As exportações de carne bovina brasileira devem fechar 2022 com recorde e 2023 também apresenta boas expectativas. Os chineses têm sido os principais importadores mundiais de carne bovina e também devem encerrar 2022 com o maior volume importado da história.
Cabe a ressalva de que nas últimas semanas, com a preocupação crescente com uma recessão no mundo ocidental e a desvalorização do Yuan chinês, os chineses têm reduzido fortemente os preços pagos na proteína bovina brasileira.
AgriBrasilis – Quais as diferentes fases do ciclo pecuário? Como os problemas nas diferentes fases produtivas podem afetar o resto da cadeia?
Yago Travagini – Existem três fases no ciclo pecuário: retenção, transição e descarte, que diz respeito basicamente ao que os pecuaristas estão fazendo com suas fêmeas. Na fase de retenção, os pecuaristas estão retendo suas fêmeas visto que os preços na pecuária de maneira geral estão bons. Eles retêm as fêmeas com o intuito de produzir mais.
Na fase de descarte, com os preços em queda, os pecuaristas tendem a encaminhar mais fêmeas para linha de abate para “fechar as contas” e fazer isso através do descarte acima da média de fêmeas.
A fase de transição é a que estamos agora, em que saímos de uma retenção intensa em 2021 e caminhamos para um descarte de fêmeas em 2023.
AgriBrasilis – O senhor disse em 2021 que uma das lições para o ano era a importância do uso de ferramentas de gestão de riscos de preço. Por que são importantes essas ferramentas? Quais as lições para 2022?
Yago Travagini – As ferramentas de gestão de risco de preço são importantes para justamente reduzir o risco que o pecuarista corre na hora de comercializar seu animal. O pecuarista que travou seus animais em 2022 ficou bem menos exposto às altas variações que o preço do boi gordo teve durante esse ano. Ou seja, quem fez o uso de ferramentas de gestão de risco sofreu menos com a alta volatilidade do mercado.
AgriBrasilis – O que significa dizer que o aumento nos preços da arroba depende do encurtamento das escalas de abate e da redução de estoques?
Yago Travagini – Significa dizer que os preços só poderão de fato melhorar se começarmos a ver uma diminuição na quantidade de bovinos ofertados aos frigoríficos. Com menos oferta, existe mais disputa pelos animais. Com a maior disputa, a tendência é que os preços subam, visto que os frigoríficos precisam gerar matéria-prima para abastecer seus estoques.
