Melhoramento de café na Colômbia

Café na Colômbia

“…desenvolvimento de variedades com alta produção e boa granulometria; alta qualidade da bebida; resistência contra ferrugem…”

María Del Pilar Moncada Botero é agrônoma pela Universidad de Caldas, mestre em melhoramento de plantas pela University of Wisconsin, Ph.D e pós-doutora pela Cornell University.

Pilar Moncada é consultora em melhoramento genético, tendo atuado como pesquisadora do Centro Nacional de Investigaciones de Café (Cenicafé) por mais de 30 anos.

coffee breeding

Pilar Moncada, consultora em melhoramento genético especializada em café

AgriBrasilis – O que mais se procura no melhoramento genético de café na Colômbia?

Pilar Moncada – Os dois principais problemas fitossanitários para o cultivo de café na Colômbia são a ferrugem do café, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, e a broca do café, Hypothenemus hampei.

Um grave problema em potencial é o CBD (Coffee Berry Disease), doença causada por Colletotrichum kahawae, que atualmente não ocorre no país.

Por outro lado, a qualidade da xícara de café é atualmente a característica que mais contribui para o preço internacional do café.

Portanto, o melhoramento do café na Colômbia se concentra no desenvolvimento de variedades com alta produção e boa granulometria; alta qualidade da bebida; resistência contra ferrugem e CBD; tolerância à broca; e adaptação à zona cafeeira do país.

O desenvolvimento de variedades permitiu aumentar em quatro vezes a produtividade. Em relação ao tamanho do grão, houve uma mudança de variedades que apresentavam 50-55% de café do tipo supremo (nome para o grão de maior qualidade na Colômbia) para variedades com percentual superior a 90%.

AgriBrasilis – Quanto tempo leva para desenvolver uma nova variedade de café? Como isso pode ser reduzido?

Pilar Moncada – O desenvolvimento de uma variedade leva muito tempo, aproximadamente 25 anos. Começa com o cruzamento dos progenitores que proporcionam as características desejadas na nova variedade. Os frutos desse cruzamento compõem a primeira geração (F1).

As plantas da primeira geração devem ser mantidas no campo até frutificarem para obter a segunda geração filial (F2). Para chegar a esta geração e obter seus frutos, são necessários pelo menos 6 anos.

Posteriormente, deve ser feita a seleção e o avanço para a geração F5. Em cada geração, são necessários no mínimo 6 anos desde o plantio até a avaliação e seleção para avançar para a próxima geração. Isso porque a avaliação da produtividade deve ser feita com dados de pelo menos 3 safras anuais.

Para chegar à quinta geração e realizar sua avaliação e seleção, são necessários cerca de 25 anos.

O tempo para obter uma nova variedade pode ser reduzido usando ferramentas como SAM (seleção assistida por marcadores). Assim, é possível realizar as avaliações em mudas de 6-8 meses de idade em cada geração.

Quando a característica é determinada por um único gene, a identificação de marcadores associados é relativamente simples e, uma vez identificados, seu uso permite uma seleção confiável.

Quando a característica é determinada pelas ações cumulativas de muitos genes e do ambiente (quantitativa), a identificação dos marcadores associados é um processo mais complexo.

Identificamos alguns marcadores associados à produção de café. No entanto, é necessário validá-los antes, para selecionar os genótipos mais produtivos.

Atualmente na Colômbia existem marcadores ligados aos diferentes genes relatados para resistência ao CBD. Uma vantagem desses marcadores é que eles nos permitem avaliar a resistência sem que as plantas estejam acometidas pela doença.

AgriBrasilis – Quais são as principais investigações em andamento e quais são as expectativas?

Pilar Moncada – As variedades estão atualmente sendo desenvolvidas com os seguintes objetivos:

  1. Alta qualidade de xícara e alta produtividade. É utilizado material genético etíope como genitores masculinos, identificados com produtividade semelhante à espécie C. canephora, e com muito boa qualidade de copa. Como genitores femininos, são utilizadas variedades comerciais com resistência à ferrugem e CBD, alta produção e grande tamanho de grão.
  2. Resistência à ferrugem utilizando diferentes genes de resistência de C. canephora e C. arabica. As variedades resistentes atuais contêm os genes de resistência do Híbrido de Timor (híbrido natural entre as espécies Coffea arabica e Coffea canephora encontrado na Ilha de Timor).
  3. Tolerância à broca. Quando a broca chegou na Colômbia em 1989, foi realizada avaliação do germoplasma em busca de genes com resistência a esta praga. Foram encontrados alguns genes de plantas nos quais o número de estágios biológicos do inseto foi reduzido, o que implica em uma redução populacional significativa. Esses genes estão sendo utilizados para desenvolver variedade tolerante a ser utilizada como componente de um programa de manejo integrado.
  4. Resistência ao CBD. Atualmente as variedades com resistência à ferrugem contêm resistência ao CBD do Híbrido de Timor. Os cruzamentos estão sendo feitos usando outros genes de resistência diferentes disponíveis em outras variedades ou espécies.
  5. Resistência à seca, a fim de desenvolver variedades resistentes às mudanças climáticas.

O programa de melhoramento visa reduzir o uso de agroquímicos no controle de pragas e doenças, utilizando variedades resistentes às principais pragas e doenças da cultura na Colômbia, respeitando o ambiente, além de reduzir os custos de produção para o cafeicultor.

A espécie C. arabica é reconhecida por sua qualidade na xícara. Existem outros fatores críticos para se obter um café de boa qualidade como clima, altitude, manejo no campo, colheita, beneficiamento, torrefação. O programa de melhoramento pode contribuir para o fator genético.

A utilização de material genético de cafés etíopes de ótima qualidade permitirá obter uma variedade sem igual em qualidade.

AgriBrasilis – Qual a importância de uma coleção de germoplasma como a do Cenicafé (Centro Nacional de Pesquisa do Café)?

Pilar Moncada – Na Colômbia, é cultivada a espécie C. arabica, originária da Etiópia. Algumas sementes desta espécie chegaram ao continente americano, contendo parte da variação genética de sua população ancestral. Esse chamado efeito “fundador”, assim como o fato de ser uma espécie autopolinizadora, ao contrário das demais espécies do gênero Coffea, resulta em uma variação genética estreita.

A Coleção Colombiana de Café tem material genético da Etiópia coletado em duas missões realizadas no país na década de 1960, uma realizada pela FAO e outra pela ORSTOM (França). A variabilidade genética presente na espécie está representada nesta coleção.

A coleção de germoplasma é de grande importância por ser o reservatório de genes. Pode-se dizer que é a matéria-prima para o desenvolvimento de variedades em qualquer programa de melhoramento.

Por exemplo, quando o objetivo é desenvolver uma variedade com tolerância à seca, o primeiro passo é ter uma fonte que forneça o(s) gene(s) de resistência à seca. Para identificar essa fonte de genes, é necessário avaliar o germoplasma.

 

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