“Na comunidade de artrópodes no sistema agrícola há um grande dinamismo, com mutações constantes…”
Evaldo Kazushi Takizawa é Engenheiro Agrônomo graduado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ – USP. Takizawa fundou em 1995 a Ceres Consultoria Agronômica Ltda, sediado na cidade de Primavera do Leste- MT, com mais de 3,35 milhões de hectares de consultoria em diversas culturas como soja, milho, algodão, sorgo, painço, braquiárias, forrageiras, coberturas vegetais, girassol, mamona, feijão caupi, feijão comum e gergelim.
O entendimento do agroecossistema das culturas desenvolvidas nas regiões do Cerrado Brasileiro permite criar uma percepção clara da composição de artrópodes nestes sistemas de produção agrícola. Quando a cultura do algodoeiro está envolvida neste processo, pelas características de grande atratividade de artrópodes desta planta, há maior complexidade nestas interações.
Na comunidade de artrópodes no sistema agrícola há um grande dinamismo, com mutações constantes e a antropização do bioma Cerrado afetando o equilíbrio dessa população. Cada agricultor é único e o seu manejo promove a singularização dos organismos vivos na lavoura. Com essa consciência inicial a abordagem tratada neste texto refere-se a uma visão pessoal e genérica do complexo de artrópodes da agricultura desenvolvida no Planalto Central do Brasil.
Para melhor compreensão das pragas é pertinente narrar algumas características do ambiente tropical que governa toda a vida presente nesta região, caracterizado por duas estações durante o ano, uma quente e úmida e outra quente e seca. No Cerrado, a irrigação expande a cada nova safra, tornando o ambiente ainda mais favorável ao desenvolvimento de uma grande organização de seres vivos.
Na base da cadeira alimentar estão as extensas lavouras de soja, milho e algodão, sendo este um ecossistema favorável ao progresso de herbívoros (pragas), não existindo assim, uma interação harmônica numa monocultura. Esse sistema de produção favorável a explosão de pragas é o predominante no Cerrado brasileiro.
As principais pragas neste cenário são as pragas comuns dos cultivos de soja, milho e algodão. Porém, com advento da biotecnologia com plantas tolerantes as lagartas, houve uma mudança na comunidade de pragas com a mosca branca, ácaros, percevejos (Dichelops e Euschistus) e tripes (Caliothrips e Frankliniella), tornando-as importantes. As lagartas (Spodoptera e Helicoverpa) com sinais de resistência a plantas transgênicas e alguns insetos da família Chrysomelidae vêm se destacando entre elas. Do gênero Myochrous e Cerotoma, respectivamente o Cascudinho e Vaquinha que também estão presentes na cultura do algodoeiro sem danos constatados.
Se destacam também as pragas específicas do algodoeiro como o bicudo e o pulgão, favorecidos pela dificuldade da destruição dos restos culturais num sistema sem uma rotação de culturas efetiva.
No cenário atual, o manejo integrado de pragas tem como alicerce o uso de inseticidas e acaricidas sintéticos, e, em alguns casos, o número de intervenções pode chegar a 25 durante o ciclo do algodão, utilizando os mais variados grupos químicos. Nos últimos anos, há uma proposta de uso de inseticidas de ação biológica, porém, a preocupação é a falta de regulamentação e da capacitação dos profissionais sobre as particularidades do controle biológico e os riscos envolvidos, principalmente quando multiplicados na propriedade sem o critério para atender os níveis de eficiência do controle das pragas do algodoeiro.
O panorama para o futuro indica que as pragas do algodoeiro se manterão como quesito sério no sistema de produção e a alternância da importância das pragas ocorrerá a medida que as atuais dificuldades forem solucionadas, já que o ambiente tropical é povoado por uma diversidade de indivíduos que aguardam sua vez na cadeia alimentar.
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