Manejo de resistência a inseticidas

Publicado em: 15 de dezembro de 2021

Pragas reduzem de 20% a 40% da produção agrícola mundial. Ciclo de vida curto e alta taxa de reprodução colaboram para o desenvolvimento de resistência em insetos, assim como a alta frequência de uso dos produtos.

Diferentes mecanismos interferem na sensibilidade dessas pragas aos compostos químicos: modificações comportamentais, redução de penetração na cutícula dos insetos, aumento da capacidade do metabolismo de desintoxicação e modificações biológicas nos sítios ativos dos inseticidas.

Fernando Gava, Presidente do IRAC Brasil

AgriBrasilis entrevistou Fernando Gava, Trait Development Country Manager na BASF, Presidente do IRAC – Brasil, Engenheiro Agronômo e Mestre em Produção Vegetal pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
O Comitê de Ação de Resistência a Inseticidas (IRAC) é formado por um grupo de técnicos e profissionais especializados em fitossanidade com objetivo de prevenir ou retardar o desenvolvimento de resistência em insetos e ácaros. O Comitê é dedicado a prolongar a eficácia dos inseticidas e acaricidas, combatendo a resistência.

AgriBrasilis – Quais são os fundamentos para os programas de Manejo de Resistência a inseticidas e como é a atuação do IRAC?
Fernando Gava – Programas de manejo da resistência a inseticidas são mais eficazes quando conduzidos abrangendo a maior parte de plantação possível. Nos grandes cenários de cultivo no Brasil, isso naturalmente significa que o manejo integrado de pragas e o manejo da resistência aos inseticidas não estão nas mãos de apenas um indivíduo. Os benefícios da implementação das melhores práticas em manejo de pragas ficam mais evidentes quando os produtores conseguem coordenar e comunicar as atividades através de um programa de manejo de resistência em grandes áreas.
A base para uma estratégia eficiente para o Manejo de Resistência a inseticidas são:
• Planejar com antecedência, considerando quando o controle de insetos será necessário durante o ciclo da lavoura, garantindo que uma variedade de opções de controle de insetos esteja disponível.
• Construir um plano de manejo de pragas para a plantação, mas considerar também as pragas que podem se transferir de uma plantação para outras plantações.
• Fazer uso eficaz das opções disponíveis para controle de insetos, utilizando os níveis de ação aprovados localmente para o manejo de pragas.
• Fazer rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, de modo a evitar a seleção de resistência.
• Seguir sempre as recomendações dos fabricantes e produtores de sementes relativas à semeadura do refúgio, dose de bula de inseticidas e uso de equipamentos de aplicação adequados.
• Evite a semeadura paralela ou sequencial de culturas hospedeiras dos mesmos insetos-pragas
Desde sua criação, o IRAC vem trabalhando em três projetos básicos: institucional, educacional e de pesquisa. O institucional foi concebido para apresentar o IRAC-BR à comunidade científica, extensionistas e produtores rurais. O educacional tem como meta a criação de material técnico-didático para divulgação das questões relacionadas à resistência e implementação de estratégias de manejo. O projeto de pesquisa visa a maximizar esforços no intuito de monitorar e desenvolver trabalhos específicos no campo de resistência de pragas a pesticidas.

AgriBrasilis – É possível prever ou antecipar a ação das pragas no campo?
Fernando Gava – É muito difícil por conta da interface com diversos fatores tanto bióticos como abióticos. Mas podemos atuar preventivamente para evitar a presença e o desenvolvimento de resistência de pragas através da adoção do conjunto de boas práticas citadas abaixo:

Princípios de Manejo Integrado de Pragas

AgriBrasilis – Quais as causas para o aparecimento da resistência em insetos?
Fernando Gava – A resistência a inseticidas pode ser definida como “uma mudança hereditária na sensibilidade de uma praga ou população que se reflete na falha repetida de um produto em atingir o nível esperado de controle quando usado de acordo com a recomendação do rótulo para essa espécie de praga (IRAC)”.
A resistência surge com o uso excessivo ou uso indevido de um inseticida ou acaricida contra uma espécie de praga e resulta da seleção de formas resistentes da praga e a consequente evolução de populações resistentes a aquele inseticida ou acaricida.

AgriBrasilis – Quais as principais preocupações atuais em relação a produtos específicos e resistência?
Fernando Gava – As seguintes resistências (tabela abaixo) foram relatadas em populações brasileiras. Os responsáveis pela execução de programas de manejo de pragas devem consultar especialistas locais para determinar se os produtos que contêm esses inseticidas são considerados eficazes no controle das pragas alvo. No caso de ausência de informações sobre a suscetibilidade do inseto a esses inseticidas, dar preferência a modos de ação alternativos que não sejam afetados pela resistência.

Casos de resistência contra inseticidas

AgriBrasilis – Os produtos biológicos ajudam a minimizar o surgimento de resistência em insetos?
Fernando Gava – Sem dúvida nenhuma. É muito importante, especialmente no caso de insetos, a adoção de métodos que auxiliam no manejo. Os produtos biológicos trazem diversidade ao sistema e diferentes modos de ação comparados aos inseticidas químicos, sendo uma ferramenta extremamente importante para possibilitar a rotação de estratégias.

 

Informações adicionais: Tabelas de Classificação dos principais inseticidas e acaricidas de acordo com o modo de ação e grupo químico
Essas informações auxiliam na tomada de decisão a campo para a adoção das Boas Práticas Agrícolas na prevenção e manejo de pragas nas diferentes culturas agrícolas.

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