Preços e rentabilidade dos agroquímicos no Brasil
Dentre os desafios fitossanitários da lavoura brasileira ao longo do ano de 2020, houve um grande destaque para a demanda internacional aquecida por grãos, que sobretudo, devido à alta do dólar frente à moeda brasileira, fez com que a safra fosse convidativa aos produtores para investir nas exportações. Mas pelo mesmo motivo, o preço da importação dos insumos esteve alta e com longo prazo médio de pagamento, gerando certa instabilidade financeira entre os acordos.
Considerando este contexto, a AgriBrasilis entrevistou Fabio Torreta, presidente da UPL Brasil desde 2019, quando a empresa concluiu a aquisição da Arysta LifeScience, de cujo escritório na América Latina esteve à frente desde maio de 2015. Fabio Torreta é engenheiro agrônomo graduado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP) e especialista em marketing e gestão pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), possuindo mais de 30 anos de experiência profissional no agronegócio.
AgriBrasilis – Desde a incorporação da Arysta em 2018, quais foram as realizações da UPL e quais benefícios resultantes para a agricultura no Brasil?
Fabio Torreta – Com a aquisição da Arysta LifeScience, na época, pelo valor de US$ 4,2 bilhões, a UPL se tornou a quinta maior empresa de soluções agrícolas do mundo, com receita anual de US$ 5 bilhões. Essa união de empresas fez com que nosso portfólio se tornasse o mais robusto do mercado. São mais de 13.600 registros.
Além disso, a integração permitiu que a UPL ampliasse sua presença na agricultura global. Estamos em mais de 130 países, com mais de 10 mil colaboradores, o que significa que atuamos em cerca de 90% da produção de alimentos em todo o mundo. Essa integração foi bastante benéfica para os produtores brasileiros, tendo em vista que a ampliação no número de produtos ajudou a compor um pacote completo de soluções para saúde vegetal, permitindo que as plantações alcancem seu máximo potencial genético com sustentabilidade, permitindo melhor qualidade e maior produção.
AgriBrasilis – O que representa o Brasil para a UPL?
Fabio Torreta – O Brasil é um dos mais importantes polos agrícolas do mundo e se coloca como o maior mercado da UPL. Dessa forma, o país é uma peça fundamental na nossa estratégia, que, muito além da venda de insumos, é contribuir para o desenvolvimento da agricultura e da produção sustentável de alimentos.
Nós somos a quarta maior empresa do setor no mercado e, aqui, contamos com mais de duas centenas de consultores técnicos nas principais regiões agrícolas do país e atuamos fortemente em soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, hortaliças, frutas e pastagem, com um portfólio integrado de soluções que vão desde o tratamento de sementes até a mesa do consumidor, incluindo serviços e tecnologias digitais. Essa forte presença, tanto local como global, nos faz vislumbrar estar entre as três maiores empresas do mercado agro nos próximos três anos. Para que esse projeto se torne realidade, o Brasil é uma peça estratégica fundamental.
AgriBrasilis – Em menos de 2 anos da incorporação da Arysta veio a pandemia. Como foi a passagem por esta transformação?
Fabio Torreta – O processo de unificação das empresas aconteceu antes do início da pandemia, ao longo de 2019. O profissionalismo e o empenho das equipes foram essenciais para que esse processo tivesse sucesso.
O principal passo envolveu a integração do portfólio e das equipes. Afinal, separadas, as empresas já possuíam grande número de marcas. Dessa forma, já em maio de 2019, passamos a reunir nossos colaboradores para disseminar conhecimento sobre toda a linha de produtos, cultura, processos. Com isso, temos o objetivo de oferecer aos agricultores soluções inovadoras, com programas completos de manejo fitossanitário integrando o controle químico, biológico e fitoestimulação, proporcionando não só o controle, mas também uma maior rentabilidade ao produtor.
Quanto ao público interno, o objetivo foi fazer uma transição o mais tranquila possível.
AgriBrasilis – Muito se fala sobre novas tecnologias e inovação no agro. O senhor poderia citar algumas destas tecnologias no mercado de agroquímicos e quais são os seus benefícios? Qual o papel da UPL na implementação e divulgação destas tecnologias?
Fabio Torreta – A UPL é pioneira na defesa da inovação. Junto à integração, lançamos um novo conceito: o OpenAg. O objetivo dessa ideia é tornar a companhia uma rede aberta à inovação e à tecnologia, auxiliando o produtor a produzir mais alimentos e de forma mais sustentável e segura para atender à crescente demanda no planeta. Nesse plano, estimulamos a saúde vegetal, por meio da interação de insumos químicos e biológicos, é o que chamamos de Programa Pronutiva. Nossos dois centros de pesquisa no país vêm desenvolvendo há anos estas soluções combinadas mais sustentáveis diretamente no campo.
Além disso, continuamos investindo forte na inovação agrícola. No Brasil, por exemplo, estamos direcionando US$ 100 milhões para pesquisas e desenvolvimento nos próximos anos. Novas ferramentas digitais como o FlyUp, lançado o ano passado, ajudarão na otimização do uso dos produtos sintéticos. No exterior, inauguramos um centro de pesquisa e desenvolvimento – o OpenAg Center –, nos Estados Unidos. Ações como essas ajudam a criar tecnologias cada vez mais modernas, o que representa uma etapa essencial para a implementação de soluções eficazes para os problemas do campo e que ajudem a garantir a segurança alimentar.
AgriBrasilis – Como se comportou o mercado de agroquímicos em 2020 e quais são as expectativas do setor para este ano?
Fabio Torreta – O mercado brasileiro reduziu -4,1% em “Sell-in” (USD) e -10,4% em “Sell-out” (USD) ou POG. Devido à grande desvalorização da moeda local (-31%) e altos estoques no campo, construídos antes da desvalorização, as empresas não conseguiram repassar o câmbio para os preços em Reais e perderam muita rentabilidade. Para este ano, o cenário da agricultura para os cultivos de exportação é ótimo (preço das commodities em dólar + câmbio desvalorizado), porém os preços das matérias-primas dos defensivos estão subindo 2 dígitos altos em dólar, frete marítimo disparou e para complicar, o setor adicionou no ano passado ao redor de 1,3 bilhão de USD nos estoques dos canais.
As exportações do agro bateram recordes em valor nominal e porcentual do PIB. O agro como um todo tem tido bons resultados? Quais os mercados que mais sofreram com a pandemia?
Fabio Torreta – O agronegócio brasileiro é uma potência sem igual e tem crescido ano a ano. Em 2020, o valor bruto da produção cresceu 15%. Com um cenário de dólar alto, os exportadores naturalmente tiveram ótima oportunidade de aumentar a renda. Foram mais de US$ 100 bilhões em exportações, no total.
Entretanto, setores essenciais, como o de insumos fitossanitários, que dependem da importação de matérias-primas, acabaram impactados pelo câmbio. Em 2020, isso refletiu parcialmente nos preços de insumos, mas é natural que haja reposição dos valores, visando a correção das perdas obtidas no ano passado. Temos a esperança de que a economia se normalize rapidamente, para que a agricultura possa ser cada vez mais produtiva e acessível para o consumidor final.
AgriBrasilis – Quais foram as experiências e aprendizados do agro em relação a pandemia e quais as perspectivas que o senhor visualiza no pós pandemia?
Fabio Torreta – A pandemia do novo coronavírus alterou dramaticamente a forma de trabalhar e nos relacionar: nossas reuniões virtuais, já existentes, se intensificaram, e os eventos antes presenciais passaram a ser digitais, algo que transformou uma das importantes formas de contato com nossos clientes. Felizmente, isso não foi um ponto negativo e, pelo contrário, nos trouxe oportunidades diferentes.
Ademais, a pandemia nos permitiu olhar para um dos pilares da UPL, que é a ESG (governança ambiental, social e corporativa). Nos tornamos líderes mundiais nessas práticas, o que nos dá ainda mais disposição para transformar o planeta em um lugar melhor, em benefício de uma população vulnerável e da natureza, que precisa ser cada vez mais preservada.
Para 2021, apesar do recrudescimento das infecções por coronavírus, temos confiança de que a vacinação ajude a conter o problema. Estamos muito otimistas, esperamos que o mercado pratique preços mais justos, ajudando a recuperar a rentabilidade do setor e vamos crescer através de um intenso e eficiente trabalho, algo que temos feito a cada dia, com o apoio de uma equipe dedicada e altamente especializada.
