Produção, mercado e demanda doméstica aparente de quinoa peruana

Publicado em: 25 de fevereiro de 2021

Artigo de Professor Dr. Waldemar Mercado, da Universidade Nacional Agrária La Molina no Peru

A quinoa foi considerada pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) um superalimento devido ao seu rico valor nutritivo. 

Artigo escrito para a AgriBrasilis por Waldemar Mercado, professor na Universidade Nacional Agrária La Molina, Lima, Peru. Doutor em Engenharia de Produção e Mestre em Desenvolvimento Agrícola em Planejamento e Políticas na América Latina e Caribe, o Economista possui experiência acadêmica e de pesquisa em comércio agrícola, previsão tecnológica, gestão de programas acadêmicos e economia agrícola.


A quinoa, pelo seu alto valor nutricional, foi promovida pelas Nações Unidas, que declarou 2013 como o “Ano Internacional da Quinoa” (AIQ), com o objetivo de difundir o cultivo e seu consumo como alternativa para o fortalecimento da segurança alimentar mundial. Segundo FAOSTAT, em 2019 o Peru foi o primeiro produtor de quinoa do mundo com 55% do total e a Bolívia o segundo com 41% do total.

 

No Peru, seu cultivo se expandiu rapidamente, em 2010 produziu 41 mil toneladas e passou para 115 mil toneladas em 2014, e registrou 96 toneladas em 2020. Durante o boom da quinoa (2013-2014), o cultivo passou das montanhas (cordilheira ) para o litoral (litoral), assim em 2010 a produção da serra representou 97% e o litoral 3% do total, em 2014, a serra produziu 60% e o litoral 40% do total. Os agricultores do litoral, abertos às sinalizações do mercado e do agronegócio, adotaram o produto durante o boom, mas o abandonaram quando os preços caíram, portanto, em 2020 o litoral representava apenas 6% da produção total. Os preços pagos ao produtor e os preços pagos pelo consumidor aumentaram de 2005 a 2014 e, após o boom, de 2015 a 2020, diminuíram (Tabela 1).

 

A quinoa ficou em quarto lugar nas exportações agrícolas não tradicionais em 2014 e, em 2015, o Peru tornou-se o líder mundial do mercado. No período 2010-2020, as exportações em volume aumentaram a taxas de 27,5% ao ano, o valor FOB registrou taxas de 35,6% ao ano e os preços FOB de 19,7% ao ano (Tabela 1). As correlações entre exportação (t) e produção total foram de +0,64, e entre o preço FOB com o preço ao produtor +0,99, influenciando o mercado para as variáveis ​​internas.

 

A queda nos preços da quinoa após o AIQ, devido ao excesso de produção e práticas produtivas inadequadas, a falta de alternância da safra no litoral aumentou as pragas, o que fez com que os Estados Unidos devolvesse alguns contêineres por considerá-los de má qualidade.

A produção de quinoa no Peru recai principalmente sobre pequenos produtores (individuais e associados) que cultivam em condições secas (com água da chuva). Em 2012, de acordo com o Censo Agropecuário, dos 69 mil produtores de quinoa, 94% praticavam o cultivo de sequeiro. Na estrutura agrária, 58% dos produtores dirigem unidades menores que 3 ha, 14% entre 3 a 5 ha, 14% de 5 a 10 ha e 14% mais que 10 ha, sendo sua produção na agricultura de subsistência e familiar , e infere-se que os 42% restantes correspondem à agricultura comercial (IICA, 2015). O principal departamento de produção é Puno, que em 2012 concentrava 82% dos produtores e produzia 68% do total nacional, onde a produção atende pequenos produtores quíchuas e aimarás acima de 3.600 metros acima do nível do mar, nos arredores do lago Titicaca (Mapa), onde se destina a si -consumo em alta proporção, entre 16% a 42%.

 

Tabela 1: Produção, Preços e Exportações de quinoa no Peru, 2012-2020

   2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Produção em t Costa  2,455 7,550 46,052 29,406 10,242 6,543 6,439 11,266 7,295
Serra 41,757 44,577 68,674 76,259 69,027 72,114 80,298 78,510 88,883
Total t 44,212 52,127 114,726 105,665 79,269 78,657 86,737 89,776 96,178
Preços em USD/kg Produtor 1.5 2.3 2.8 1.5 1.2 1.1 1.2 1.4 1.1
Consumidor 3.6 4.2 6.7 4.0 2.7 2.8 2.9 3.5 2.9
FOB exportac. 2.9 4.3 5.4 3.4 2.3 2.3 2.4 2.8 2.5
Comércio exterior Exportação t 10,888 18,691 36,691 41,614 44,167 51,330 50,479 49,682 35,200
Exp. miles USD 31,630 79,608 196,779 142,762 102,628 120,400 122,414 136,674 88,167
Importação t 1 23 42 106 79 79 87 89 98
Demanda Interna Aparente (DIA) DIA, em t 33,326 33,459 78,077 64,157 35,181 27,406 36,345 40,184 61,076
População, miles 30,139 30,475 30,814 31,152 31,487 31,826 32,162 32,510 32,626
DIA percap, kg 1.11 1.10 2.53 2.06 1.12 0.86 1.13 1.24 1.87

Fonte: SIEA-MINAGRI 2020. Adex Data Trade/Aduanas 2021, IICA 2015 y Agrodata.com 2021.

 

As exportações de quinua passaram de 5 mil MT em 2010 para 51 mil em 2017. O valor das exportações FOB em 2010 foi de 31,6 milhões de USD, foi o máximo em 2014 com 196,8 milhões de USD, ano em que houve um preço mais elevado devido ao AIQ (Tabela um). Os principais destinos das exportações são os Estados Unidos, que em 2020 representavam 31% do total, Canadá com 8%, Europa com 30% do total (Holanda 8%, Itália 6%, Espanha 4%, França 4%, Unidos Reino 4%, Alemanha 2% e Bélgica 2%), Chile 4%, Brasil 3% e outros países com 24% (Adex Data, 2021).

 

As exportações de quinoa em valor FOB em 2020 foram branca, vermelha, preta, tricolor quinoa, grãos secos a granel, convencional (79%), orgânica (19%) e com alguma transformação (2%), como quinua gelatinizada, em pó, torrados, massas, bebidas não alcoólicas, flocos, quinoa nativa da pérola, superior, orgânica, gourmet, natural, caramelizada, expandida, pré-cozida, açucarada, entre outros, apresentando tendência de diversificação (Adex Data, 2021). São as empresas europeias e norte-americanas que vendem quinoa em mercados orgânicos saudáveis ​​e algumas ONGs que promovem o seu comércio em mercados solidários na Europa e nos Estados Unidos.

 

O Peru importa quinoa principalmente da Bolívia, a importação legal é pequena, foi de 1 t em 2012 e 106 t em 2015. A quinoa boliviana é bem avaliada e preferida por sua boa apresentação, poucas impurezas e tamanho de grão maior, as importações aumentam a taxas anuais de 33% de 2013-2020. Também há contrabando de fluidos na fronteira de Desaguadero (Peru-Bolívia), segundo Gout (2013) e IICA (2015), a quinua que entra no Peru vindo da Bolívia, é comercializada internamente ou exportada como peruana, estimando-se a entrada ilegal entre 8 mil. a 12 mil toneladas por ano.

 

A Demanda Interna Aparente (DIA) determina a quantidade de alimentos disponíveis para consumo humano e outros usos no território nacional no ano, como Balanço de Abastecimento, e resulta da soma da Produção (QN) com Importação (I), descontando as exportações ( E): DIA = QN + I – E. O DIA da quinua mostra sua estabilidade até antes do AIQ (2010-2012), e posteriormente torna-se altamente variável, oscilando entre 33 mil t a 78 mil t (Figura 1). O DIA per capita da quinua (DIA total / população total) mostra um valor médio de 1,4 kg por ano de 2010-2020, mas se as importações ilegais forem consideradas, sua média seria de 1,8 kg nesses mesmos anos.

 

Segundo a FAO-ALADI (2014), o consumo estimado de quinoa para 2012 nos principais países produtores e exportadores em kg / pessoa foi de 2,4 na Bolívia, 1,2 no Peru e 0,02 no Equador. Nas áreas produtoras, Hinostroza (2016) estima que 95% da população urbana consome quinua, e em Lima, capital do país, Mercado e Luján (2020) estimam que 88% da população consome quinua, sendo seu consumo menor nos estratos A / B alto, em relação aos estratos D / E baixo.

 

A expansão do consumo externo da quinua está atrelada a alimentos saudáveis, associados a produtos orgânicos ou tradição cultural, o interesse do mercado externo tem promovido sua diversificação e utilizações: (i) tipo de alimento para consumo humano dado seu alto valor nutricional como insumo nas preparações culinárias diversas, no mercado nacional as principais formas de consumo são a quinoa de pérolas, farinhas, flocos, pré-cozidos, barras nutritivas, barras energéticas, néctar, biscoitos, pães, bolos, expandidos, cervejas, extrusados, entre outros; (ii) Indústria farmacêutica e medicamentosa, devido ao seu conteúdo vitamínico, sais minerais, e aqueles voltados para a tolerância do paciente celíaco que assegurariam um grande mercado internacional; (iii) Na indústria cosmética, artigos de beleza e cuidados pessoais, em produtos como sabonetes, xampus e cremes corporais, devido às propriedades bioquímicas que o tornam competitivo com outros produtos de uso semelhante; (iv) Usos de conteúdo cultural na região andina.

 

Finalmente, a rede interna de comércio de quinoa é principalmente centralizada, com governança de driver de comprador, por comerciantes, empresas de processamento, exportadores e consumidores, com poucos casos de sucesso em que pequenos produtores associados podem comercializá-los diretamente em mercados especiais, produtos orgânicos e comércio justo.