Mercado de agtechs está só começando no Brasil

“Em nossa visão, o mercado de agtechs está só começando, frente a representatividade que temos do agro no PIB do Brasil…”

Henrique Galvani é CEO da plataforma de equity crowdfunding Arara Seed, formado em administração de empresas pela Unifafibe e em contabilidade pela Universidade Paulista.

Henrique Galvani, CEO da plataforma de equity crowdfunding Arara Seed

Henrique Galvani, CEO da plataforma de equity crowdfunding Arara Seed


AgriBrasilis – O que faz uma startup atrair investimentos?

Henrique Galvani – Os estágios de investimento em startups são bem definidos. Eles começam com os investidores-anjos, aceleradoras, depois seguem para investimento semente (pre-seed e seed) e começam as rodadas mais profissionais, chamadas de séries A, B, C, etc.

Um fator que serve para diferenciar uma rodada de investimento é o objetivo do investimento buscado e a tração da empresa. Algumas rodadas acontecem com fins determinados, como o foco em aquisição de clientes, para aquelas empresas que já estão com suas soluções testadas e com um product-market fit (PMF) estabelecido.

Uma dica para os empreendedores que estão buscando captação: tenha claramente definido o porquê de estar captando, aonde quer chegar (milestones), o quanto você precisa para alcançar os objetivos da rodada, quando atingirão os milestones, o quanto está disposto a ofertar de share (%) da startup e como usará os recursos do investimento (distribuição do capital).

Levante capital para atingir ao menos um milestone de relevância para o seu negócio em prazo de 12 a 18 meses, e este será de suma importância para a estratégia em longo prazo.

“Para a Arara Seed, as agtechs são muito mais do que tecnologia: são uma forma de aumentar a produtividade de alimentos no campo, visando aumentar níveis de segurança alimentar no Brasil e mundo”

AgriBrasilis – Como funciona um sistema de equity crowdfunding?

Henrique Galvani – Ao investir via Arara Seed, o equity crowdfunding do agro, você está investindo seu capital em troca de participação societária de uma empresa com alto potencial de crescimento. Por enquanto, esse ativo não tem liquidez como uma bolsa de investimento, contudo, os retornos podem ser exponenciais.

Do lado dos empreendedores, ao levantar fundos diretamente de uma base ampla de investidores, como é o caso do equity crowdfunding, estes podem ser clientes potenciais ou atuais, a startup pode validar seu produto ou serviço e aumentar o engajamento e a lealdade do cliente. Além disso, o processo de levantar capital via crowdfunding tende a ser mais rápido em rodadas convencionais (que levam de 6 a 18 meses).

As rodadas de investimentos via Arara Seed contam com o apoio do investidor líder, que desempenha papel fundamental antes e após a rodada. Além do capital financeiro, essa figura também pode agregar em termos de conexões, expertise de mercado, atuação no conselho, bem como apoiador da próxima rodada de captação. Uma das vantagens dessa modalidade é que ela democratiza o acesso ao investimento em startups, pois os cheques são a partir de R$ 1 mil. O legal da Arara Seed é que ela faz a curadoria dos investimentos para os investidores, além de entrar com recursos próprios em todas as rodadas de captação.

AgriBrasilis – No ano passado, a Arara Seed captou R$ 2,3 milhões, abaixo da meta de R$ 4,5 milhões. Por quê?

Henrique Galvani – Até agora, entre rodadas públicas (equity crowfunding) e privadas, levantamos mais de R$ 20 milhões. No ano passado, o mercado de venture capital como um todo sentiu as altas taxas de juros que vivenciamos. Nossas projeções para 2024 são otimistas, visto que a SELIC pode alcançar 9% no final desse ano.

AgriBrasilis – Que critério é utilizado para aplicação dos recursos? O acesso ao capital é o principal gargalo das startups?

Henrique Galvani – Buscamos agtechs, foodtechs e climate techs que estejam captando uma rodada pre-seed com cheques entre R$ 400 mil e R$ 2 milhões, e com valuation máximo de R$ 35 milhões.

Algumas premissas importantes para captar conosco:

– Que a startup esteja com o MVP validado;

– Que esteja inserida em um mercado de oportunidades relevante;

– Receita Bruta acima de R$ 400 mil por ano (ou receita do último mês x 12 = R$ 400 mil);

– Que a maior parte do time de fundadores esteja full-time na operação;

– Tenha um captable saudável;

– Que não é extremamente dependente de caixa para crescer;

Cada investidor tem sua tese de investimentos específica. Em nosso caso, avaliamos tanto drivers quantitativos quanto qualitativos. Citamos exemplos de drivers quantitativos, como: mercado, canal de distribuição, modelo de negócio, ICP etc. Na outra mão, temos os drivers qualitativos como: time x complementaridade, concorrência, captable x estrutura de governança.

AgriBrasilis – Qual é o perfil dos investidores que buscam a empresa?

Henrique Galvani – Hoje, na Arara Seed, temos dois perfis de investidores, o que chamamos de investidores institucionais, que são fundos, grupo de anjos e investidores estratégicos que possuem tese de investimentos no agro. E os investidores pessoas físicas que querem diversificar seu portfólio, investindo em startups promissora no setor que alimenta o Brasil e o mundo. Praticamente 72 % de nossos investidores já tinham alguma relação com o agro.

AgriBrasilis – Existem mais de 1,7 mil agtechs no Brasil. Esse mercado está saturado? Dessas, quantas sobrevivem após 3 anos?

Henrique Galvani – Não vejo o mercado como saturado, mas como cheio de oportunidades. Em nossa visão, o mercado de agtechs está só começando, frente a representatividade que temos do agro no PIB do Brasil.

Em 2050, seremos aproximadamente 10 bilhões de pessoas ao redor do mundo.  Uma população tão grande exige crescimento exponencial da produção de alimentos, o que consequentemente, aumenta a necessidade de financiamento. Para a Arara Seed, as agtechs são muito mais do que tecnologia: são uma forma de aumentar a produtividade de alimentos no campo, visando aumentar níveis de segurança alimentar no Brasil e mundo.

Não temos esse dado de quantas agtechs sobrevivem após o 3º ano, o que sabemos é que mais de 70% das startups brasileiras falham em captar um Series A. Nos EUA, segundo levantamento realizado pelo CBInsights com startups americanas, essa taxa é maior do que 50%. E, à medida que essas startups amadurecem, a taxa de sucesso para levantar um novo investimento vai caindo até restarem apenas 3% que conseguem realizar um Series E. Por aqui esses números ainda parecem distantes, mas demonstram que existe um enorme potencial de amadurecimento do mercado e de necessidade de financiamento das startups.

AgriBrasilis – Quais são os planos de investimento da Arara Seed? Qual é a meta para os próximos 5 anos?

Henrique Galvani – Esse ano pretendemos captar R$ 5 milhões em rodadas de equity crowdfunding e mais R$ 5 milhões em rodadas privadas (fora os R$ 10,2 milhões que já captamos para a Bem Agro no mês passado). Além disso esperamos lançar o instrumento de debt na Arara Seed, destinado para agtechs e empresas do agro que se enquadram nos termos da RCVM 88 e que queiram estruturar sua rodada de captação pública através de instrumentos de dívidas.

Nos próximos 5 anos, espero estar bem próximo da meta de captar e investir R$ 200 milhões para startups e empresas da cadeia de valor do agro.

 

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