Startup da Argentina fecha parceria com a NASA para monitoramento de cultivos

“As empresas nos pagam para que possam se conectar com nossos produtores rurais. Dessa forma, elas podem adotar a rastreabilidade…”

Diego Hoter é co-fundador e CEO da ucrop.it, uma plataforma colaborativa que busca registrar os “Históricos de Cultivo” de produtores rurais. Hoter é ex-diretor executivo da Torrepueblo, com MBA pela Universidade de Edinburgh.

Diego Hoter, CEO da ucrop.it


AgriBrasilis – Qual é o objetivo da parceria do ucrop.it com a NASA?

Diego Hoter – Nosso objetivo é desenvolver algoritmos geoespaciais utilizando aprendizado de máquinas, ou machine learning, voltados para a medição de indicadores ambientais e de sustentabilidade. No caso particular da parceria com a NASA, estamos desenvolvendo um algoritmo focado na eficiência da nutrição de culturas.

Os resultados gerados por esse algoritmo serão utilizados como evidências/dados para nossos Históricos de Cultivo. O objetivo é mensurar diferentes aspectos funcionais e de melhoria ambiental vinculados ao uso de fertilizantes pelos produtores rurais e pelas empresas com as quais esse produtor estiver associado.

AgriBrasilis – O que são os “Históricos de Cultivo” que a empresa oferece?

Diego Hoter – O Histórico de Cultivo é um documento registrado no blockchain que contém dados sobre as atividades de manejo de uma propriedade rural, análises sobre sustentabilidade, dados sobre os solos, etc. Os Históricos de Cultivo podem ser personalizados dependendo do contrato digital entre os agricultores e as empresas. Esses documentos são armazenados de forma segura, criptografada e confidencial.

O Histórico de Cultivo é fundamentado por conjuntos de dados eletrônicos e documentais, com o aval da verificação realizada por um agrônomo da ucrop.it, que auxilia o produtor na digitalização bem-sucedida do histórico das suas safras. Tudo isso é feito de acordo com os objetivos e métricas que a empresa vinculada ao agricultor deseja.

O uso do blockchain faz com que os dados estruturados sejam imutáveis. Com base nesses dados, pode-se gerar QR codes, que podem ser anexados em produtos e marcas, por exemplo, com objetivo de atestar a sustentabilidade da produção agrícola para o consumidor final ou para outras empresas participantes da cadeia de valor.

O Blockchain é uma tecnologia que permite a verificação de dados descentralizados de forma massiva, com a certeza de que esses dados não poderão ser modificados. Essa tecnologia funciona como um “cartório digital”, que atesta esses dados. No caso da agricultura sustentável, o blockchain fornece robustez e transparência para a utilização de métricas como a pegada ou balanço de carbono, uso da água, impacto ambiental, etc.

AgriBrasilis – Qual é o papel da empresa na América Latina?

Diego Hoter – Nós conectamos produtores e empresas do agro para que possam fechar acordos, delimitar e verificar seus Históricos de Cultivo, utilizando métricas ​​reais de sustentabilidade. As empresas podem utilizar essas métricas para quantificar o impacto de seus produtos, marcas e processos, através de acordos com os produtores rurais. É possível estabelecer uma rastreabilidade em nível de “quem”, “como”, “quando”, e “onde”, por exemplo. Tudo isso por meio de incentivos financeiros em troca do uso desses dados.

Estamos presentes em oito países: EUA, Canadá, México, Equador, Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália. Apenas em 2022, nós demarcamos 1,2 milhões de hectares de culturas sustentáveis ​​verificadas. Contamos com mais de 750 produtores, que são usuários gratuitos em nossa plataforma, além de mais de 60 empresas (multinacionais e regionais).

As empresas nos pagam para que possam se conectar com nossos produtores rurais. Dessa forma, elas podem adotar a rastreabilidade e análise de impacto em seus produtos, marcas ou processos.

AgriBrasilis – Quanto a ucrop.it já conseguiu arrecadar em investimentos?

Diego Hoter – Até o momento, nós captamos mais de US$ 9 milhões, oriundos de investidores dos EUA, América Latina e Europa. Esperamos alcançar nosso ponto de equilíbrio financeiro até 2024.

 

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