Negócio agroflorestal: “A certificação orgânica e agroecológica pode potencializar as vendas e atender o mercado dos produtos agroflorestais, que está crescendo exponencialmente.”
Martin Ewert é permacultor, gestor ambiental, mestre e doutor em agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina, além de especialista em mercados agroflorestais na The Nature Conservancy.
Ewert tem interesse nas áreas de elaboração e gestão de projetos de meio ambiente, agricultura regenerativa, conservação da natureza, empreendedorismo sustentável, serviços ambientais, governança e planejamento estratégico.
Sistemas agroflorestais são fundamentados na inteligência da natureza, pois geram riqueza de forma diversificada, cíclica e contínua. Os lucros não são apenas financeiros, mas também ecológicos, sociais, políticos e culturais.
Por meio desses sistemas, podemos pensar em novas formas de fazer agricultura de modo ético, superar a pobreza no campo, aumentar os rendimentos com produtos da biodiversidade e promover uma alimentação saudável.
Sistemas agroflorestais podem ainda combater as mudanças climáticas, sequestrar carbono da atmosfera, são eficazes produtores de água, provedores de um solo rico em nutrientes e fundamentais na manutenção dos serviços ecossistêmicos indispensáveis para a vida no planeta.
Vale lembrar que cada modelo agroflorestal é único e depende de diversos fatores para sua concepção. Ao elaborar um projeto, entre os objetivos principais, devemos considerar a restauração florestal, a recuperação de áreas degradadas, a melhoria da qualidade de vida das agricultoras e agricultores, o cuidado com as pessoas, o cuidado com a terra, tendo como foco especialmente a eficiência produtiva para atender o mercado e a comercialização justa.
Costumo dizer que existem inúmeros ganhos ecológicos ao implantar um sistema agroflorestal, que geralmente só fazem sentido para as agricultoras e agricultores quando o retorno produtivo e financeiro é atingido. Para garantir o retorno financeiro do investimento é preciso dedicação na hora do planejamento.
A partir do planejamento é possível criar um negócio agroflorestal altamente rentável. Para tanto, a análise financeira é uma das principais ferramentas que irá potencializar um projeto eficiente no âmbito ecológico e financeiro dos sistemas agroflorestais. Por meio da análise financeira é possível criar um panorama de produção do sistema no longo prazo, observar as diferentes fases de sucessão florestal, custos e receitas, fluxo de caixa, demanda de mão de obra e estratégias necessárias para a gestão e tomada de decisão no manejo, colheita, beneficiamento e comercialização.
É evidente que com o planejamento adequado os sistemas agroflorestais têm a possibilidade de gerar renda o ano todo por meio da produção e comercialização de diversos produtos. Vale destacar que o beneficiamento da matéria prima é fator decisivo para agregar valor aos produtos e acessar nichos de mercado específicos.
A certificação orgânica e agroecológica pode potencializar as vendas e atender o mercado dos produtos agroflorestais, que está crescendo exponencialmente. Esse mercado deve acompanhar ainda a venda de créditos de carbono e o pagamento por serviços ambientais. Nessa perspectiva, um caminho de sucesso é a autonomia das agricultoras e agricultores para que possam escolher a melhor forma de comercializar seus produtos.
Por fim, com base no desenvolvimento de pesquisas cientificas, é preciso promover novas políticas públicas e fortalecer aquelas já existentes, como o Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que são atualmente um importante instrumento para combater a fome. Também com o avanço do conhecimento, o acesso ao crédito rural, como por exemplo, o PRONAF florestal, deve ser ampliado para pequenos agricultores familiares, favorecendo de modo geral os negócios agroflorestais em todo o Brasil.
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