“Estamos trabalhando em uma campanha para reduzir a oferta, incentivando a diminuição da área plantada…”
Denis Dias Nunes é produtor rural, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), sócio proprietário da Agroriza Agricultura e Pecuária e da Agroriza Planejamento Agropecuário Ltda.
Nunes é Engenheiro Agrônomo pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel e ex-presidente da Associação dos Agrônomos.
AgriBrasilis – Quais os motivos da crise no mercado de arroz?
Denis Nunes – O cenário atual é resultado de uma combinação de fatores. Os preços elevados registrados no ano passado levaram os países do Mercosul a ampliar significativamente a área cultivada. Além disso, as condições climáticas no Rio Grande do Sul foram muito favoráveis, permitindo que atingíssemos recordes históricos de produtividade por hectare. Soma-se a isso o retorno da Índia ao mercado exportador de arroz, o que aumentou a oferta global e pressionou os preços internacionais. O resultado foi uma conjuntura de superoferta e desvalorização do produto.
AgriBrasilis – Por que os preços estão tão baixos?
Denis Nunes – A queda é consequência direta da oferta elevada, tanto no mercado interno quanto no internacional. Quando há excesso de produto disponível, o preço ao produtor cai rapidamente, pois o mercado busca equilibrar oferta e demanda. Essa dinâmica tem sido intensificada pela concorrência externa e pela grande safra colhida na região Sul.
AgriBrasilis – Os preços para o consumidor final caíram na mesma proporção? Por quê?
Denis Nunes – Não. A queda de preços para o consumidor final ocorre de forma mais lenta porque há várias etapas e agentes envolvidos até que o produto chegue às prateleiras. Primeiro, a indústria beneficiadora compra o arroz, depois o produto passa pelo atacado e pelo varejo, até ser repassado ao consumidor. Esse processo envolve negociações e prazos diferentes, o que cria um certo “delay”.
AgriBrasilis – Quais os impactos da concorrência do arroz importado, especialmente do Paraguai e do Uruguai?
Denis Nunes – A concorrência é bastante desleal. Paraguai e Uruguai produzem essencialmente para exportação e consomem muito pouco internamente. No caso do Paraguai, praticamente toda a produção é direcionada ao mercado brasileiro, principalmente para indústrias de beneficiamento em Minas Gerais e São Paulo. Eles têm custos de produção menores, logística mais favorável e não pagam ICMS, o que lhes confere vantagem competitiva. Como dependem do mercado brasileiro, se o preço aqui cai, eles também reduzem seus preços para manter a competitividade. Isso pressiona ainda mais os produtores nacionais.
“…é fundamental que o governo utilize instrumentos do Programa de Garantia de Preços Mínimos…”
AgriBrasilis – Por que a Federarroz recomenda a adesão ao contrato público de opção e venda de arroz?
Denis Nunes – Porque ele permite ao produtor negociar acima dos preços atuais de mercado, que estão abaixo do preço mínimo. O contrato oferece a possibilidade de vender por um valor melhor à Conab, e o produtor mantém a opção de entregar o produto ou não, dependendo da evolução dos preços no mercado. Se o mercado reagir e os preços subirem, ele pode optar por não exercer o contrato. É uma ferramenta importante para dar segurança em um momento de forte desvalorização.
AgriBrasilis – Que medidas o governo deveria adotar para ajudar o setor?
Denis Nunes – Primeiro, precisamos de salvaguardas comerciais e de uma investigação rigorosa para garantir que o arroz importado cumpra as mesmas exigências ambientais e trabalhistas impostas aos produtores brasileiros. Caso contrário, trata-se de concorrência desleal. Além disso, é fundamental que o governo utilize instrumentos do Programa de Garantia de Preços Mínimos, como os prêmios de escoamento da produção, para ajudar no equilíbrio do mercado e permitir que os produtores consigam competir.
AgriBrasilis – Quais as perspectivas para os próximos meses?
Denis Nunes – Infelizmente, o cenário é bastante negativo. Estamos trabalhando em uma campanha para reduzir a oferta, incentivando a diminuição da área plantada e o aumento das exportações, com o objetivo de reduzir os estoques de passagem. Sem essas medidas, a tendência é de que os preços continuem pressionados e a rentabilidade do produtor permaneça comprometida nos próximos meses.
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