“…a constante evolução dos sistemas regulatórios internacionais e a necessidade de harmonização com outros países adicionam camadas adicionais de complexidade…”
Luis Claudio Perfeito Damasceno é head global de assuntos regulatórios e governamentais na UPL, formado em biologia pela Mackenzie, com pós-graduação em proteção de plantas pela Universidade Federal de Viçosa e MBA pela Esalq/USP.

Luis Claudio Perfeito Damasceno, head global na UPL
AgriBrasilis – Por que os brasileiros se destacam na área regulatória de pesticidas?
Damasceno – Alguns fatores são a importância da agricultura para a economia do Brasil, o protagonismo global como potência exportadora de alimentos e à necessidade de um sistema regulatório robusto para garantir a segurança e eficiência destes produtos. A formação acadêmica de alto nível e a adaptabilidade dos profissionais brasileiros também são cruciais.
AgriBrasilis – Qual é a sua atuação na área? Qual foi a trajetória e os pontos de destaque de sua carreira?
Damasceno – Atuo na área regulatória de pesticidas há quase 3 décadas. Comecei como estagiário em uma consultoria regulatória e depois migrei para a indústria em 2004, na Isagro SpA, empresa italiana que estava expandindo para a América Latina. Durante esse período, liderei equipes de regulamentação e desenvolvimento de produtos, registrando produtos em mais de 20 países.
Em 2009, assumi a liderança da equipe regulatória latino-americana de uma empresa americana, Chemtura AgroSolutions. Descentralizei a equipe para estar mais próxima das autoridades regulatórias, o que acelerou o processo de registro de produtos. Em 2012 fui contratado pela Bayer para transformar a equipe de regulamentação do Brasil e de parte da América Latina. Conseguimos resultados significativos, incluindo o registro de uma nova molécula após um incomodo jejum de 9 anos sem registro de uma inovação.
Em 2018, fui enviado para a sede da empresa na Alemanha, para liderar uma equipe global em segurança ambiental de produtos por 3 anos. Após esse período, voltei para a área regulatória para liderar o time global de fungicidas, o que foi uma experiência única. Em 2023, ingressei na UPL como responsável global de ciências regulatórias e assuntos governamentais, ainda sediado na Alemanha, liderando uma transformação na função, com foco em eficiência, redução de custos, e efetividade através da adoção de processos e ferramentas digitais para criar um espírito de comunidade global, de alto desempenho e internacional, espalhada por cinco continentes.
AgriBrasilis – O que levou o senhor a atuar fora do Brasil?
Damasceno – A oportunidade surgiu como parte de um plano de desenvolvimento de carreira quando ainda estava na Bayer. Foi um grande desafio sair da zona de conforto, para liderar uma função global na sede da empresa na Alemanha, enfrentando uma cultura totalmente diferente da que eu estava acostumado. Essa tem sido uma jornada excepcional, em que estive adquirindo novos conhecimentos e expandindo meus horizontes profissionais e pessoais, enquanto compartilho minha experiência acumulada no Brasil e América Latina. O que era para durar 3 anos se tornou uma jornada de quase 8 anos, enriquecendo minha vida e a de minha família através de trocas culturais e profissionais.
“O cenário regulatório brasileiro é caracterizado por suas peculiaridades e complexidades….”
AgriBrasilis – Como foi a transição do ambiente regulatório brasileiro para o internacional?
Damasceno – A transição foi tranquila e enriquecedora. A base técnica e de gestão de pessoas é universal. Apesar de desafios, o Brasil possui um dos sistemas regulatórios mais complexos e robustos do mundo, o que facilitou minha adaptação. Trabalhar próximo ao time, viajando para diversos países, entendendo oportunidades e desafios locais, dialogando com produtores e autoridades foi essencial para o meu aprendizado e construção de estratégias inovadoras, essenciais para transformar a função regulatória em uma vantagem competitiva para a empresa.
AgriBrasilis – O cenário brasileiro é mais complexo?
Damasceno – O cenário regulatório brasileiro é caracterizado por suas peculiaridades e complexidades. Muitas dessas características decorrem do sistema federal tripartite, no qual três órgãos são responsáveis pela análise e concessão de registros de pesticidas. Após a obtenção do registro federal, o produto ainda precisa ser cadastrado em cada um dos Estados onde será comercializado.
A complexidade se agrava com a necessidade de mais investimento em remuneração, intercâmbio e treinamento, equipando órgãos reguladores com profissionais suficientes para atender à alta demanda de um país com vocação agrícola. O Brasil é o país que tem o processo de registro de pesticidas mais demorado do mundo, o que não favorece ninguém, muito menos os agricultores.
Essas características exigem uma abordagem regulatória multifacetada e flexível. Além disso, a constante evolução dos sistemas regulatórios internacionais e a necessidade de harmonização com outros países adicionam camadas adicionais de complexidade.
AgriBrasilis – Quais são as tendências mais relevantes para os próximos anos?
Damasceno – Para os próximos anos, a demanda por produtos mais seguros e sustentáveis impulsionará inovações em formulações e métodos de aplicação. Produtos biológicos continuarão ganhando destaque como complementação ou alternativa aos pesticidas químicos, com o Brasil liderando a transformação regulatória nesse campo. A biotecnologia continuará sendo crucial, e a digitalização e tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, transformarão o monitoramento, aplicação e regulação de pesticidas.
AgriBrasilis – O senhor gostaria de voltar a atuar no Brasil? Por quê?
Damasceno – Sim, claro! O Brasil é o meu país e tenho muito orgulho em ter nascido em um país que possui um potencial agrícola imenso. A oportunidade de contribuir para a produção de alimentos de uma forma sustentável, e ao mesmo tempo preservar a incrível e única biodiversidade que temos em nosso país, é extremamente motivadora.
Além disso, acredito que a experiência internacional pode ser valiosa para enfrentar os desafios locais e promover o desenvolvimento da área regulatória e de soluções inovadoras e sustentáveis para a agricultura brasileira.
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