“…produção de grãos na Amazônia Legal está ligada à conservação das florestas, essenciais para manter a produtividade…”
Britaldo Silveira Soares-Filho é pesquisador associado do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, membro permanente do corpo docente do programa de pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais.
Soares-Filho possui graduação em geologia pela UFMG, mestrado pelo INPE e doutorado pela USP.
AgriBrasilis – Como o Código Florestal protege a Amazônia da expansão agropecuária?
Soares-Filho – O Código Florestal, na verdade, não protege a Amazônia da expansão da agropecuária. O que ele faz é proteger a Amazônia do desmatamento ilegal, ou seja, aquele que não é permitido pela lei, posto que o Código estabelece que precisamos conservar a reserva legal e as áreas de APP, as áreas de preservação permanente.
Obviamente, para isso, há necessidade de fiscalização ambiental, o que é difícil numa região tão vasta e em áreas distantes na Amazônia.
AgriBrasilis – Os sistemas agroflorestais são viáveis no bioma?
Soares-Filho – Sim, com certeza. Por exemplo, a questão do cacau sombreado hoje é uma produção que está em plena expansão ao longo da Amazonia, que é o cacau plantado sob a sombra das árvores nativas.
AgriBrasilis – De que formas a rastreabilidade de produtos agrícolas pode conter o desmatamento?
Soares-Filho – Primeiro, você pode excluir os matadores das cadeias agrícolas fazendo a rastreabilidade: por exemplo, a rastreabilidade do gado, a rastreabilidade da soja. Isso é importante para que o Brasil possa alcançar mercados cada vez mais exigentes. Por exemplo, a União Europeia aprovou recentemente regulação proibindo a importação de produtos agrícolas ligados ao desmatamento.
Então, é muito importante o Brasil desenvolver essas plataformas. Dessa forma, nosso país sai à frente e isso é uma grande oportunidade de negócio associada com a conservação dos nossos biomas.
AgriBrasilis – Como a perda florestal interfere na produção de grãos?
Soares-Filho – A redução da área florestal e das vegetações nativas reduz a quantidade regional de chuvas. Ela também atrasa o início da estação de chuvas, da estação agrícola de chuvas, reduz o comprimento dessa estação e aumenta as temperaturas. Com isso, ela aumenta as perdas agrícolas. Isso se torna mais proeminente, por exemplo, em anos de El Niño, condição em que já existe o impacto da seca. Esses problemas pioram por conta das mudanças climáticas. A conservação florestal é uma aliada do agronegócio, pois ela permite manter a produtividade das lavouras.
AgriBrasilis – Faz sentido produzir grãos na Amazônia Legal?
Soares-Filho – Depende. Existem vastas áreas hoje no Mato Grosso, Pará, Maranhão, ocupadas pela soja e pela dupla safra de soja e milho. Se essa é a melhor maneira de desenvolver uma agricultura sustentável na Amazônia, isso é questionável.
Deveriam existir alternativas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental. Mesmo assim, é importante ressaltar que essa produção de grãos na Amazônia Legal está ligada à conservação das florestas, essenciais para manter essa produtividade do agronegócio.
AgriBrasilis – É possível alcançar o equilíbrio de carbono na Amazônia?
Soares-Filho – Se você se refere ao balanço de carbono da floresta, ou seja, a floresta Amazônica, ela opera como um “sumidouro”, sequestrando o carbono, o CO2 da atmosfera, e sintetizando esse carbono em termos de biomassa, mas também emite de volta esse CO2 devido à degradação, ao desmatamento florestal.
É importante hoje pensarmos primeiro na conservação, na redução do desmatamento e dos fatores que degradam a floresta, como os grandes incêndios que afetaram a região amazônica em 2024. Obviamente temos que trabalhar também com a mitigação das mudanças globais, que estão elevando essa degradação da floresta Amazônia, ocasionando mais secas e incêndios frequentes e mais intensos.
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