Soluções verdes: biomassa, biocombustíveis e descarbonização do agro

“A instalação de painéis solares e o uso de resíduos agrícolas para a produção de biogás podem substituir fontes de energia fósseis nas propriedades agrícolas…”

Emanuele Graciosa é pesquisadora no Centro de Inovação e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, graduada em engenharia agrícola, com mestrado e doutorado em bioenergia pela Universidade Federal de Viçosa.

Emanuele Graciosa, pesquisadora no Senai


AgriBrasilis – Quais são os caminhos para a descarbonização do agro?

Emanuele Graciosa – A descarbonização do agro envolve diversas estratégias e práticas integradas. Em primeiro lugar, a agricultura de baixo carbono é essencial, utilizando técnicas de conservação do solo, como plantio direto, rotação de culturas e uso de cobertura vegetal para aumentar a absorção de carbono no solo. O Manejo Integrado de Pragas – MIP também desempenha papel crucial, reduzindo o uso de pesticidas químicos e adotando métodos biológicos e naturais para o controle de pragas.

A utilização de energia renovável é outra via importante para a descarbonização. A instalação de painéis solares e o uso de resíduos agrícolas para a produção de biogás podem substituir fontes de energia fósseis nas propriedades agrícolas. A gestão de resíduos agrícolas também é crucial, com a compostagem transformando resíduos orgânicos em fertilizantes ricos em nutrientes. O “agroflorestamento” integra árvores e plantas perenes com culturas agrícolas para melhorar a biodiversidade e o sequestro de carbono, e o uso de culturas de cobertura protege e enriquece o solo entre as safras principais.

“A descarbonização promove o uso sustentável dos recursos naturais, garantindo a viabilidade da produção agrícola a longo prazo e preservando recursos como solo, água e biodiversidade”

A descarbonização do agro é necessária por várias razões. É uma resposta crucial às mudanças climáticas, uma vez que o agronegócio é uma das principais fontes de emissões de Gases do Efeito Estufa – GEE. Mitigar as mudanças climáticas e suas consequências devastadoras para o meio ambiente e a sociedade é imperativo. A descarbonização promove o uso sustentável dos recursos naturais, garantindo a viabilidade da produção agrícola a longo prazo e preservando recursos como solo, água e biodiversidade.

AgriBrasilis – O que é e para que serve a biomassa?

Emanuele Graciosa – Biomassa é um termo utilizado para descrever a matéria orgânica de origem vegetal ou animal que pode ser usada como fonte de energia. A biomassa é o material mais abundante no planeta, com cerca de 550-560 bilhões de toneladas de carbono. Sendo uma fonte de energia renovável e sustentável, a biomassa pode ser utilizada para a produção de calor, eletricidade, biocombustíveis e de outros produtos de valor agregado.

AgriBrasilis – Como a biomassa e os biocombustíveis estão relacionados com a descarbonização?

Emanuele Graciosa – A biomassa e os biocombustíveis desempenham papel fundamental na descarbonização pois substituem os combustíveis fósseis, que são as principais fontes de emissões de CO2. Ao substituir combustíveis fósseis por biomassa e biocombustíveis, é possível reduzir significativamente as emissões de GEE associadas à produção de energia e ao transporte.

A principal vantagem da biomassa é que ela opera em um ciclo de carbono fechado. As plantas absorvem CO2 da atmosfera durante o crescimento e, quando a biomassa é convertida em energia, o CO2 é liberado de volta à atmosfera, mas esse carbono foi recentemente capturado pelas plantas, resultando em um balanço de carbono neutro. Isso contrasta com os combustíveis fósseis, que liberam carbono armazenado há milhões de anos, contribuindo para o aumento das concentrações de CO2 atmosférico.

AgriBrasilis – Qual é o panorama do biogás no Brasil? Como é produzido o biometano e de que formas esse produto é utilizado?

Emanuele Graciosa – De acordo com a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o país tem potencial de produzir diariamente 120 milhões de metros cúbicos (m³) de biogás, sendo equivalente a 35% da demanda elétrica atual. O biogás tem ganhado destaque no Brasil como uma fonte de energia renovável e sustentável, especialmente considerando a grande quantidade de resíduos orgânicos disponíveis no país. O Brasil possui potencial significativo para a produção de biogás por conta da sua vasta produção agropecuária, da disposição de resíduos urbanos e industriais, e do grande volume de efluentes sanitários.

O biometano é um gás renovável produzido a partir do biogás, que passa por processos de purificação para remover impurezas e componentes indesejados, resultando em um gás com alto teor de metano, similar ao gás natural fóssil. Inicialmente, o biogás é produzido através da digestão anaeróbica de resíduos orgânicos em biodigestores. Esse processo envolve a decomposição de matéria orgânica por microrganismos em ambiente sem oxigênio. O biogás bruto é então purificado para remover impurezas, como dióxido de carbono (CO2), sulfeto de hidrogênio (H2S), água e outros contaminantes. Essa purificação pode ser feita por meio de processos como absorção, adsorção, membranas e criogenia. Após a purificação, o biometano é comprimido para ser armazenado ou transportado.

O biometano possui várias aplicações, sendo uma alternativa renovável e sustentável ao gás natural fóssil. Pode ser utilizado em usinas termelétricas para a geração de eletricidade, como combustível veicular, comprimido (GNC) ou liquefeito (GNL) para abastecer veículos pesados, como caminhões e ônibus, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.

O biometano também pode ser usado como combustível em processos industriais que demandam gás natural, substituindo o gás natural fóssil em caldeiras e fornos. Pode ser injetado na rede de distribuição de gás natural, abastecendo residências e estabelecimentos comerciais para uso em aquecimento, cocção e geração de água quente.

 

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