Existem 43 populações de plantas daninhas resistentes aos herbicidas na Argentina

“…existem 43 populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas, que pertencem a 24 espécies diferentes. Dessas 43 populações, existem 9 populações com resistência múltipla…”

Fernando Oreja é pesquisador da Oregon State University, e especialista em plantas daninhas da Argentina. Oreja é engenheiro agrônomo e doutor em ciências agrárias pela Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires, com pós-doutorado pela North Carolina State University.

Fernando Oreja, especialista em plantas daninhas


AgriBrasilis – Por que a população de plantas daninhas resistentes na Argentina está aumentando?

Fernando Oreja – A população de plantas daninhas do país está aumentando devido ao uso repetido dos mesmos herbicidas. A mudança no sistema de semeadura, do preparo convencional para o sistema de plantio, eliminou o controle mecânico de plantas daninhas e seu controle passou a depender exclusivamente de herbicidas. Além disso, o plantio direto foi possível graças à adoção de culturas tolerantes a herbicidas, que permitiram a aplicação dos produtos quantas vezes fosse necessário,  mesmo com a cultura estabelecida. Isto aumentou a pressão de seleção para os herbicidas, principalmente no caso do glifosato.

AgriBrasilis – Quais são as perspectivas para a resistência de plantas daninhas no país? Quantos casos de resistência múltipla existem?

Fernando Oreja – Na Argentina, até o momento em que publicamos nossa última pesquisa, existem 43 populações de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, que pertencem a 24 espécies diferentes. Dessas 43 populações, existem 9 populações com resistência múltipla, sendo a grande maioria resistente ao glifosato.

O herbicida com mais casos de resistência é de longe o glifosato, com 92% das populações resistentes, seguido pelos inibidores de ALS, com 29%, e auxínicos, com 17%. Apenas 8% das populações são resistentes aos inibidores de ACCase, e 4% aos PPOs.

AgriBrasilis – O glifosato é o herbicida com mais casos de resistência. As empresas agroquímicas forneceram orientações sobre a aplicação adequada do produto?

Fernando Oreja – Sim. No começo, considerava-se que esse herbicida apresentava uma baixa probabilidade de aparecimento de populações resistentes ante outros herbicidas, mas uma vez que começaram a aparecer casos de resistência, as empresas de pesticidas começaram a fazer recomendações para reduzir o surgimento de novas populações resistentes. Por exemplo, algumas dessas recomendações são: aplicar a dose comercial do herbicida, com o tamanho de planta sugerido nos rótulos dos produtos, utilizar água de qualidade adequada, e evitar misturas de herbicidas com antagonismo, etc.

AgriBrasilis – Quais plantas daninhas são mais preocupantes e em quais culturas? Quais regiões da Argentina são as mais afetadas?

Fernando Oreja – As plantas daninhas mais preocupantes são os carurus, ou Amaranthus hybridus e Amaranthus palmeri, seguidas pelo azevém perene e anual (Lolium perene e Lolium multiflorum) e espécies pertencentes à família Brassicaceae, como Raphanus sativus, Brassica rapa, Brassica napus e Hirschfeldia incana. A buva (Conyza sumatrensis e Conyza bonariensis) também é uma planta daninha importante.

A cultura com maior número de populações resistentes é a soja, com 74% das espécies, com muita resistência ao glifosato e aos inibidores de ALS, seguida pelo milho, com 40% de resistência ao glifosato e aos inibidores de ALS. O trigo é a terceira cultura com maior número de populações, com 30% (maior incidência de resistência dos inibidores de ACCase).

As regiões mais afetadas do país são a Zona Central e Zona Sul das províncias de Santa Fé e Córdoba, onde predominam as espécies de plantas daninhas de verão, e a zona sul da província de Buenos Aires, típica área de trigo, onde predominam as espécies de inverno.

AgriBrasilis – Que medidas podem mitigar o problema das plantas daninhas resistentes? O “Manejo Integrado” é a única resposta?

Fernando Oreja – Sim. Como o aparecimento de plantas daninhas resistentes é um fenômeno evolutivo, retirar o fator que está selecionando os indivíduos (nesse caso, o herbicida) é a melhor forma de reduzir o crescimento dessas populações.

Retirar o herbicida do sistema agrícola pode não ser uma tarefa simples, e para isso consideramos que devem ser adotadas medidas de gestão integrada, que considerem todas as opções de controle: distância entre linhas, densidade de plantio, plantio de genótipos mais competitivos, modificação de datas de semeadura, rotação de culturas, adoção de culturas de cobertura, a rotação de herbicidas com diferentes modos de ação, combinação de herbicidas residuais e de contato, uso de doses comerciais de herbicidas e com plantas de tamanho adequado, utilização do controle mecânico quando possível, etc.

 

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