2024 deve ser ano “mais estável” para setor de agroquímicos, mas agricultores devem ter cautela

“Embora o pico de preços causados pelos impactos negativos do ano passado já tenha passado e o cenário para 2024 também seja difícil, acreditamos que esse será um ano mais estável para o setor de agroquímicos…”

André Savino é presidente da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil, formado em engenharia agronômica pela Unesp, com MBA em administração de empresas pela Fundação Dom Cabral.

André Savino, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos

André Savino, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos


AgriBrasilis – Por que o setor de agroquímicos deve passar pelo “rebote de 2023”?

André Savino – A agricultura no Brasil e no mundo é muito cíclica. Estou há mais de 26 anos nesse mercado e já vivenciei crises de diversos tipos. 2023 foi difícil para toda indústria e, no caso do agronegócio, foi um ano de ajustes no qual o setor enfrentou grandes desafios, como a queda dos preços dos produtos do campo e problemas no mercado externo.

Nós vínhamos de uma demanda muito forte em 2022, logo após o fim da pandemia, o que acelerou a oferta da produção e demanda por alimentos, inclusive abrindo novos mercados internacionais para o agro brasileiro e fomentando a aplicação de tecnologia no campo.

“2023 foi difícil para toda indústria e, no caso do agronegócio, foi um ano de ajustes no qual o setor enfrentou grandes desafios, como a queda dos preços dos produtos do campo e problemas no mercado externo”

Embora o pico de preços causados pelos impactos negativos do ano passado já tenha passado e o cenário para 2024 também seja difícil, acreditamos que esse será um ano mais estável para o setor de agroquímicos, com menos adaptações às oscilações do mercado. Mesmo assim, o cenário segue sendo desafiador e vai exigir uma gestão cautelosa por parte dos agricultores.

AgriBrasilis – O que mais definiu o mercado no ano passado?

André Savino – Em 2023, a indústria do agronegócio foi muito impactada pelos custos de produção elevados e a queda no preço das principais commodities produzidas no país. Esses dois fatores, somados a alterações na temperatura média e nos índices de chuvas provocadas pelo El Niño, comprometeram a margem de lucros dos produtores.

AgriBrasilis – Quais são as expectativas após a aprovação da lei dos agrotóxicos nº 14.785/2023?

André Savino – Sem dúvida, a aprovação da lei é uma grande evolução para o marco regulatório de defensivos agrícolas no país e representa a modernização da agricultura nacional. Sem renunciar aos controles técnicos e científicos dos órgãos competentes, que estão entre os mais rígidos do mundo, a lei vai viabilizar avanços na aprovação de novas moléculas e garantir processo mais ágil para o registro de produtos eficientes, tecnológicos e mais sustentáveis.

AgriBrasilis – Por que houve queda da receita da Syngenta em 2023 e qual é a perspectiva para 2024?

André Savino – O rendimento da companhia em 2023 no Brasil se deve basicamente pelos elevados custos de capital de giro para os clientes, originado pelas taxas de juros mais elevadas e sustentadas durante todo o ano. Esse movimento levou muitos compradores a fazerem pedidos de insumos mais perto da aplicação, fator que pesou bastante na comparação com 2022, quando o grupo atingiu recordes de vendas e lucros.

AgriBrasilis – Qual é a importância da distribuição através de lojas próprias de agroquímicos?

André Savino – A Synap, plataforma comercial da Syngenta, permite conectar os nossos serviços, inovações e tecnologias aos agricultores das principais regiões produtoras do Brasil, proporcionando cobertura de mercado muito mais eficiente e bem-posicionada.

Por meio da Synap, que está presente nos principais estados produtores com lojas das bandeiras Atua Agro (PR, SC e RS),  Dipagro (MT e RO), Agro Jangada (MS) e Agrocerrado (MG e GO), conseguimos atender nossos clientes de forma mais ampla e completa.

Considerando todas as bandeiras que a compõem, a Synap integra mais de 80 unidades. Juntas, elas somam mais de 25 milhões de hectares atendidos por mais de 350 consultores comerciais, dedicados às demandas de agricultores de todos os portes e lavouras de cultivos diversos.

Um dos nossos princípios estratégicos é construir um ecossistema forte, onde as cadeias do negócio funcionem em harmonia e nos aproximem dos agricultores. Isso é possível graças ao ecossistema formado por nossa rede de distribuição parceira, hoje composta por mais de 200 distribuidores, pelas cooperativas que têm papel fundamental de desenvolvimento tecnológico, principalmente para o pequeno e médio agricultor, e pela Synap.

AgriBrasilis – A Syngenta costuma lançar 5 novos produtos por ano. Que moléculas novas devem ser lançadas em 2024?

André Savino – Dentre as novidades recentes, tivemos o lançamento de produtos derivados de plinazolim, molécula inovadora que protege mais de 40 cultivos diferentes, como soja, milho, algodão, café, arroz e uma ampla gama de frutas, hortaliças e plantas ornamentais.

O plinazolim é um ingrediente ativo inédito, com um novo modo de ação, indicado para manejo de amplo espectro de pragas para as quais os produtos existentes já não oferecem mais um controle tão efetivo, como percevejos, ácaros, tripes, lagartas, brocas e até mesmo formigas.

Nos próximos meses, teremos outras duas inovações, atualmente em fase de registro. A primeira delas é a Tymirium Technology [ciclobutrifluram], fungicida e nematicida para tratamento de sementes e aplicação no solo; e Rizoliq UHC, o primeiro inoculante líquido de longa vida para pré-tratamento de sementes da soja do mercado brasileiro.

 

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