Por que o atraso nas compras de fertilizantes para 2024?

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“…consequência mais séria desse atraso na tomada de decisão de compra é o impacto que pode haver na entrega…”

Marcelo Mello é diretor de fertilizantes da consultoria StoneX Brasil, formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas.

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Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX Brasil


AgriBrasilis – Por que o atraso nas compras de fertilizantes para 2024? Quais as consequências?

Marcelo Mello – Os principais motivos para o atraso das compras, principalmente para as demandas do 1°sementre de 2024, são o atraso e incertezas com relação ao plantio da safra verão 2023/24; relação de troca pouco atrativa, principalmente de nitrogenados com milho, que prevaleceu até início de novembro de 2023; e a elevada taxa de juros.

A consequência mais séria desse atraso na tomada de decisão de compra é o impacto que pode haver na entrega / recebimento do fertilizante devido aos problemas logísticos que tendem a ser mais intensos.

AgriBrasilis – Quais os meses mais significativos para a aquisição de fertilizantes pelos agricultores?

Marcelo Mello – Soja e milho representam aproximadamente 60% da demanda brasileira de fertilizantes. Considerando que o plantio da soja se concentra entre os meses de setembro e novembro, e a safrinha de milho entre janeiro e fevereiro, e que a aquisição de fertilizantes normalmente é realizada de dois a três meses antes do plantio, a maior movimentação de compras tende a ocorrer entre os meses de junho a agosto e outubro e novembro.

AgriBrasilis – Quanto os fertilizantes têm representado dos custos de produção?

Marcelo Mello – Para grãos, como soja e milho, os fertilizantes representam cerca de 30 a 40% do custo de produção nas principais regiões agrícolas brasileiras.

AgriBrasilis – O que marcou o mercado de fertilizantes em 2023?

Marcelo Mello – Diferentemente dos últimos dois anos, onde a volatilidade de preços foi altíssima, no 1º semestre de 2023 o complexo NPK ainda trabalhou no canal de queda iniciado em meados de 2022, entrando em um canal lateral a partir do 2º semestre. Os preços menos voláteis e em um patamar inferior aos de 2022 incentivaram uma recuperação do consumo / entregas durante 2023. Como referência, em 2022 o consumo recuou 10%, mas em 2023 a estimativa é que ele retome o patamar recorde histórico atingido em 2021.

“Soja e milho representam aproximadamente 60% da demanda brasileira de fertilizantes”

AgriBrasilis – O terremoto em Marrocos em setembro prejudicou o mercado de fosfatados? Por quê?

Marcelo Mello – Considerando que o Marrocos foi o maior exportador mundial de fosfatados de alto teor em 2022, de acordo com os dados oficiais da International Fertilizer Association, o segmento acendeu um sinal de alerta quando o terremoto atingiu o país em meados de setembro de 2023.

Porém, em poucos dias, ficou claro que o terremoto não havia gerado nenhum impacto relevante na cadeia de produção e exportação de fosfatados.

AgriBrasilis – Como o mercado está reagindo sobre a possível reativação das fábricas da Petrobras?

Marcelo Mello – A Unigel, empresa que arrendou desde novembro de 2019 as antigas plantas de nitrogenados da Petrobras em Sergipe e na Bahia, vem enfrentando dificuldades financeiras. No início de novembro de 2023, a Unigel suspendeu a produção em sua planta de Camaçari, BA, que, segundo a empresa, vinha operando com déficit desde o final de 2022, por conta do alto custo do gás natural.

AgriBrasilis – O Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas acaba de aprovar as diretrizes, metas e ações do novo Plano Nacional de Fertilizantes. Quais são as expectativas do setor?

Marcelo Mello – O Plano Nacional de Fertilizantes é de extrema importância para o país. A expectativa do segmento é que a dependência do Brasil pelo mercado internacional diminua. Porém, resultados desta política deverão ser observados apenas entre 2030 – 2040. Como parte deste esforço, a retomada das obras para conclusão da planta de produção de amônia e ureia UFNIII em Três Lagoas foi incluída em setembro de 2023 no PAC do Governo Federal para o MS.

 

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