“Atualmente, os esforços estão concentrados na prospecção de novas estirpes microbianas, na obtenção de extratos vegetais…”
Paloma Liborio é analista de pesquisa da Santa Clara Agrociência, graduada em agronomia pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, mestre em genética e melhoramento de plantas pela Unesp e doutora em agronomia pela UEL e Embrapa Soja, incluída entre as 100 doutoras do agro 2023 da Forbes.
AgriBrasilis – Como é realizado o processo de P&D dos bioinsumos? Quanto tempo demora para que uma nova solução biológica chegue ao mercado?
Paloma Liborio – O processo de Pesquisa e Desenvolvimento de um bioinsumo inclui a pesquisa e identificação de novos ativos biológicos, o desenvolvimento da formulação, a realização de testes de eficácia em ambientes controlados e em campo, bem como a análise de segurança, aprovação e registro junto às autoridades regulatórias, MAPA, Anvisa e Ibama.
No atual contexto regulatório brasileiro, os biológicos destinados ao controle de pragas, doenças e nematoides estão submetidos à mesma legislação dos agrotóxicos, conforme a Lei 7.802. No entanto, o tempo necessário para que uma solução biológica chegue ao mercado brasileiro é significativamente menor em comparação aos defensivos químicos.
Em média, a introdução de um novo produto biológico pode levar cerca de três anos, dependendo da complexidade, especificidade e dos requisitos regulatórios. Os defensivos químicos demandam um período de aproximadamente sete anos até sua disponibilização no mercado.
AgriBrasilis – Qual é o estado da arte da pesquisa em bioinsumos? Que novidades devem surgir no mercado no curto e médio prazo?
Paloma Liborio – A pesquisa em bioinsumos está em constante evolução e expansão. Atualmente, os esforços estão concentrados na prospecção de novas estirpes microbianas, na obtenção de extratos vegetais e no aprimoramento de formulações existentes.
No curto e médio prazo, vislumbramos o desenvolvimento contínuo de soluções mais eficazes e específicas para diversas culturas, avanços significativos na compreensão das interações entre microrganismos e plantas, e regulamentação que acompanhe o crescimento da adoção de bioinsumos, à medida que práticas mais sustentáveis se consolidam como uma prioridade global.
Além disso, alguns pontos merecem destaque:
- A base atual de microrganismos presente nos bioinsumos ainda é limitada. Existe vasto potencial em fase de prospecção e a ser explorado para a produção de novos produtos.
- Evolução na utilização dos ingredientes ativos gerados por microrganismos e seus metabólitos. Esse enfoque visa otimizar a produção e a eficácia dos bioinsumos, aproveitando todo o potencial dos microrganismos.
- Investimentos mais focados no aprimoramento dos produtos de base biológica. Essa abordagem envolve a aplicação de tecnologia avançada nas formulações, buscando maior compatibilidade dos bioinsumos com outros produtos, além de promover aumento significativo na vida útil desses produtos.
- Técnicas avançadas de biologia molecular para a ativação de rotas metabólicas dos microrganismos para maximizar os benefícios dos bioinsumos, aprimorando a eficácia e a adaptabilidade a ambientes e culturas diversos.
AgriBrasilis – O boom dos bioinsumos na agricultura está trazendo mais pesquisadores para o mercado? Por quê?
Paloma Liborio – Os bioinsumos oferecem amplas oportunidades para profissionais de diversas áreas. Esse setor tem o potencial de movimentar R$ 50 bilhões até 2030. Esse crescimento tem gerado alta demanda por profissionais altamente qualificados, levando as empresas a buscar profissionais com mestrado e doutorado, por exemplo.
A indústria está avançando para uma maior profissionalização e ao desenvolvimento de novas formulações e tecnologias. Esse movimento alinha-se com uma colaboração mais estreita com as universidades e instituições de pesquisa. Nesse contexto, pesquisadores encontram um ambiente dinâmico e tecnológico para conduzir pesquisas no setor privado, o que tem contribuído para a atração de talentos para as empresas.
A colaboração entre o setor privado, universidades e instituições de pesquisa já é uma realidade no Brasil, e que tende a se expandir ainda mais. O fortalecimento da sinergia entre esses setores desempenha papel crucial para impulsionar o desenvolvimento econômico do país.
AgriBrasilis – O profissional de bioinsumos é mais preocupado com sustentabilidade?
Paloma Liborio – Enquanto profissional na área de bioinsumos, vivencio os benefícios e o impacto positivo desses produtos nas lavouras e no meio ambiente. Os bioinsumos são uma alternativa ecologicamente mais amigável, derivados de fontes naturais, e causam menor impacto ambiental em comparação com os produtos químicos convencionais.
A ênfase na sustentabilidade reflete uma compreensão mais aprofundada dos desafios ambientais, sociais e econômicos que nosso planeta enfrenta. Como cidadãos e profissionais, temos um papel crucial na busca de soluções que conciliem as necessidades presentes com a capacidade das futuras gerações.
Essas preocupações alinham-se com os princípios do ESG (Environmental, Social, and Governance), que englobam a implementação de práticas sustentáveis, o respeito ao meio ambiente, a promoção do bem-estar social e a garantia da governança ética e transparente.
AgriBrasilis – Qual é o mercado do Grupo Santa Clara? Que investimentos a empresa planeja para os próximos anos?
Paloma Liborio – O Grupo Santa Clara está há mais de 50 anos no mercado, concentrando sua atuação nos setores de fertilizantes especiais e proteção de plantas. Os segmentos nos quais a empresa está envolvida são considerados de insumos de alta tecnologia, com um faturamento total do mercado estimado em R$ 31,5 bilhões na safra 2023/24.
Para os próximos anos, a empresa inclui em seu planejamento estratégico o lançamento de 16 novos biodefensivos, com significativo investimento em sua empresa de defensivos biológicos, a Inflora Biociências. Com o intuito de suportar esse crescimento, está prevista a construção de uma planta em uma área de 40 hectares, compreendendo uma unidade industrial e um Centro de Inovação e Vitrine Tecnológica. Esse empreendimento faz parte de um aporte total de R$ 125 milhões, sendo R$ 100 milhões destinados para a nova unidade industrial de biodefensivos.
Além dos investimentos na Inflora, o Grupo Santa Clara está em processo de expansão de sua principal unidade industrial, com um aumento de 100% em sua área e de 248% em sua capacidade de expedição de fertilizantes.
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