Especialista considera alarmante o uso de agrotóxicos na Costa Rica

plaguicidas en Costa Rica

“80% dos pesticidas utilizados na Costa Rica são considerados ‘altamente perigosos’”

Fernando Ramirez-Muñoz é pesquisador e docente do Instituto Regional de Estudos Sobre Substâncias Tóxicas da Universidade Nacional da Costa Rica. Ramirez-Muñoz é engenheiro agrônomo, doutor em ciências naturais para o desenvolvimento e membro da Rede de Ação Sobre Pesticidas e Suas Alternativas Para a América Latina.

Fernando Ramirez-Muñoz, pesquisador da Universidade Nacional da Costa Rica


AgriBrasilis – Porquê proibir os pesticidas na Costa Rica?

Ramirez-Muñoz – Além da elevada utilização de pesticidas na Costa Rica, certos pesticidas já proibidos em outros países devido ao seu elevado perigo para a saúde e o ambiente continuam a ser utilizados.

De acordo com o parecer da ONU, deveria ser iniciada uma retirada de pesticidas, especialmente aqueles considerados Altamente Perigosos, por causarem efeitos graves e irreversíveis no longo prazo. Existem pesticidas que continuam a causar muitos problemas de contaminação nas fontes de água potável: este foi o caso do bromacil, por exemplo, que já está proibido por esse motivo, depois de muitos anos de espera pela sua retirada; também é o caso do clorotalonil, etoprofós, glifosato, paraquate, etc.

AgriBrasilis – Você considera alarmante o uso de agrotóxicos no país?

Ramirez-Muñoz – Sim, principalmente em algumas culturas como hortaliças, banana e abacaxi. O consumo aumenta a cada década, e a intensidade do uso se acelera, causando muitos problemas aos vizinhos das plantações que utilizam esses produtos. A biodiversidade, fonte de divisas para o país devido à atração de turistas, é reduzida e afetada pelo uso intensivo de agrotóxicos.

Em relação aos herbicidas, por exemplo, a Costa Rica possui sete espécies de plantas consideradas daninhas que desenvolveram resistência a diversos herbicidas, em diversas culturas. Os demais países da América Central possuem apenas uma espécie desse tipo cada, o que indica a alta pressão de seleção de resistência devido ao uso frequente de herbicidas.

AgriBrasilis – Por que faltam novas moléculas?

Ramirez-Muñoz – Na Costa Rica existe um sistema de registo muito robusto, que leva em conta os aspectos sanitários e ambientais, e não apenas a eficácia agrícola que os produtos apresentam para o controle de pragas. Por isso, muitas moléculas novas que apresentam características de alta persistência ou toxicidade não são registradas, apesar de serem de última geração. Também existe falta de pessoal para realizar avaliações de risco ambiental dessas substâncias, além de uma falta de interesse por parte da indústria química em registar pesticidas em culturas que não geram lucros elevados.

AgriBrasilis – Os pesticidas vendidos atualmente são obsoletos?

Ramirez-Muñoz – Nem todos. Existe uma vasta gama de princípios ativos, sendo que alguns são muito antigos, como acontece com o 2,4-D, organofosforados e até organoclorados, e substâncias contendo arsênico, com reconhecidas propriedades cancerígenas. Existem também alguns agrotóxicos de última geração que já estão apresentando problemas de resistência.

Fonte: Instituto Regional de Estudos Sobre Substâncias Tóxicas da Costa Rica

AgriBrasilis – 80% dos agrotóxicos utilizados no país são considerados “altamente perigosos”. Por que isso ocorre? Quais são as substâncias mais utilizadas?

Ramirez-Muñoz – Essa informação é correta: 80% dos pesticidas utilizados na Costa Rica são considerados “altamente perigosos”. Algumas culturas como a banana, com grandes áreas e utilização muito elevada, utilizam mancozebe, clorotalonil, paraquate, glifosato, e outros produtos que são considerados “altamente perigosos”.

O mancozebe, por exemplo, representa 40% do uso total de pesticidas na Costa Rica, e é aplicado principalmente por via aérea em plantações (50.000 ha) principalmente de banana e banana-da-terra.

O glifosato é utilizado sem controle em lavouras, áreas urbanas, beiras de estradas, canais e estradas. Um caso especial é o do paraquate, usado principalmente por pequenos agricultores (sem qualquer tipo de proteção) e em plantações de abacaxi, em doses assustadoramente altas: até 20 litros/ha de paraquate 20%, ou seja, 4 kg/ha – um pecado ambiental.

AgriBrasilis – O senhor poderia comentar sobre o uso do glifosato e suas alternativas?

Ramirez-Muñoz – O glifosato é o principal herbicida utilizado no país, e o segundo pesticida mais utilizado em termos de quantidade. É utilizado em todas as culturas (para preparação do terreno antes da semeadura) e em culturas perenes várias vezes (até 8 vezes por ano); também em áreas urbanas, quintais, para secar cana-de-açúcar, nas margens de oleodutos e ferrovias, para limpar terrenos baldios, etc.

Existem muitas alternativas ao glifosato, para as mais diversas situações. Trocá-lo por outro herbicida não é a única opção. A agroecologia, por exemplo, é vista como elemento-chave para a mudança do sistema produtivo. Não podemos continuar a produzir alimentos à base de produtos altamente tóxicos e perigosos, que contaminam importantes recursos, como o solo, o ar, os trabalhadores agrícolas, os animais, etc.

Fonte: Instituto Regional de Estudos Sobre Substâncias Tóxicas

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