“…necessitamos de profissionais dispostos, que busquem formação específica para essa cadeia de negócios e que estejam disponíveis para mudança de um grande centro urbano para cidades do interior…”
André Ceruzi é CEO e fundador da AGROSearch, empresa especializada no recrutamento de profissionais para o agronegócio da América Latina.
Ceruzi possui especialização em agronegócios e gestão socioambiental pela Fundação Getúlio Vargas.
André Ceruzi, CEO e fundador da AGROSearch
AgriBrasilis – Trabalhar no agro é questão de afinidade ou remuneração?
André Ceruzi – Trabalhar no agronegócio é compreender a missão dessa cadeia e entender que temos uma responsabilidade global com a segurança alimentar. Essa responsabilidade nos leva a evoluir continuamente em tecnologia para atender a crescente demanda.
Cada vez mais profissionais qualificados são exigidos pelo agronegócio brasileiro. Como a demanda ainda é maior que a oferta, as remunerações são superiores quando comparadas com as de outros mercados. Muito mais do que afinidade, necessitamos de profissionais dispostos, que busquem formação específica para essa cadeia de negócios e que estejam disponíveis para mudança de um grande centro urbano para cidades do interior.
AgriBrasilis – O agro remunera mais do que outros setores?
André Ceruzi – Com certeza. Existe uma alta demanda de cargos operacionais, como mecânicos e operadores, passando por técnicos especializados, especialistas e gestores.
A demanda é por profissionais com experiência e conhecimento, que agreguem eficiência, qualidade e gestão. Infelizmente, a disponibilidade desses profissionais é menor do que a demanda. Devemos viver esse movimento por mais alguns anos até que as faculdades de negócios e empresas de cursos se sedimentem no mercado e consigam formar mais profissionais.
Também existe um desafio em relação ao perfil dos profissionais. Atualmente, o agro ainda restringe a adaptação de profissionais de outras cadeias, como a de bens de consumo, por exemplo, tornando a integração desses profissionais mais morosa. O “agronomês” atrapalha a velocidade da adaptação, por exemplo.
AgriBrasilis – Quais as competências mais desejadas pelo agro?
André Ceruzi – Os profissionais mais disputados possuem formação técnica, mas também desenvolveram competências em gestão de pessoas, gestão de indicadores e desenvolvimento de planos estratégicos para a produção agrícola. Também são valorizados os profissionais técnicos com competências em vendas e desenvolvimento de negócios.
AgriBrasilis – Como um profissional pode se atualizar e se destacar no setor?
André Ceruzi – Através de cursos de especialização, processos de trainee e principalmente através da mentoria de um profissional mais experiente.
Conhecer a cadeia e suas nuances é fundamental. Se o profissional vem de outro segmento ou cadeia de negócios, ele precisa fazer uma imersão nesse mercado para aumentar suas chances de aderência.
Também avaliamos o tempo de permanência dos profissionais nas posições em que atuaram, evitando dar destaque para aqueles que permanecem menos de três anos em suas últimas passagens. Vale lembrar que o ciclos de venda e avaliação de alguns setores do agro são mais longos. Em menos de dois anos é muito difícil avaliar a perfomance de alguns profissionais.
AgriBrasilis – Qual a relação entre demanda e oferta por profissionais? Existe equilíbrio entre vagas e profissionais qualificados?
André Ceruzi – Não existe um equilíbrio e os centros de formação universitários acabam formando profissionais muito técnicos, deixando competências de gestão e negócios em segundo plano. Em virtude disso, o profissional leva mais tempo para se formar, o que gera esse desequilíbrio entrem oferta e demanda. Para se ter ideia, a média que temos hoje, entre os mais de 40.000 candidatos que entrevistamos, é de três vagas para cada profissional qualificado.
AgriBrasilis – Quais os erros mais cometidos pelos empregadores durante os procedimentos de contratação?
André Ceruzi – Todos querem profissionais prontos e acabam gastando até três vezes mais por não terem um processo de formação ou de capacitação profissional. Dessa forma, o turn-over é alto e a retenção não é focada no desempenho de crescimento, mas na dependência daquele profissional, tornando a mão de obra cara e mais difícil de reter.
A falta de planejamento também resulta em erros de contratação quando as empresas contratam apenas para acompanhar a demanda de mercado e não se preparam para receber profissionais que demandam formação ou rápida adaptação ao negócio.
A área de RH ficou em segundo plano por muito tempo e agora temos um olhar mais crítico para isso.
AgriBrasilis – Que ferramentas as empresas utilizam para aumentar a motivação e a retenção de talentos nas empresas?
André Ceruzi – O bom e velho Plano de Desenvolvimento Individual é uma ferramenta bem útil nesses casos, além de um bom plano de remuneração e benefícios consolidado.
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