“Desvalorização cambial: Questão crítica para os agroquímicos no Brasil”

Juan Ferreira, Sumitomo Chemical
Publicado em: 3 de dezembro de 2020

Presidente para América Latina da Sumitomo Chemical Co. discorre sobre setor de defensivos agrícolas.

A América Latina tem se mostrado uma das regiões mais atraentes do mundo em termos de agricultura e demais mercados relacionados ao agronegócio. Em entrevista, Ferreira fez uma análise para a AgriBrasilis sobre o setor de defensivos agrícolas com foco na região da América Latina, abordando temas de tendências de mercado, a
recente aquisição da Nufarm e os possíveis impactos do coronavírus no setor de soluções agronômicas.

Juan Ferreira é presidente para a América Latina da Sumitomo Chemical Co. e conselheiro estratégico global do Presidente do Setor de Saúde e Cultivo. Na presidência latino americana, ele lidera uma equipe inovadora no desenvolvimento de soluções sustentáveis para ajudar os agricultores em todo o mundo a alimentar nossa crescente população e promover a agricultura moderna. Além disso, ele é sócio de venture capital do fundo The Yield Lab Agtech, membro do conselho consultivo da Seed-X e membro do conselho consultivo da Aggio.

Juan é bacharel em economia e mestre em marketing pela Universidad de Los Andes, possui MBA executivo pela Florida International University e programas executivos pela Harvard Business School e Northwestern University – Kellogg School of Management.

 


 

AgriBrasilis – A COVID-19 está causando prejuízos no setor produtivo. Qual o reflexo no agronegócio e no setor de agroquímicos no Brasil e na América Latina?

Juan Ferreira – O setor Agropecuário tem sido apontado como essencial no quadro de pandemia pelos governos do Brasil e da LATAM, mas no dia a dia pudemos perceber alguns impactos nas operações de campo, nas relações com clientes e em alguns países até mobilidade limitada para viagens e visitas de campo. Acho que sentimos falta de poder nos encontrar pessoalmente. Isso afeta de alguma forma nossa interação face a face com clientes, agricultores e pesquisadores, bem como afeta as atividades de promoção de campo que são tão importantes.

Da mesma forma, as agências reguladoras na maioria dos países também são afetadas pelo bloqueio e algumas partes do trabalho estão sendo atrasadas, principalmente relacionadas aos registros de novos produtos. Isso, no final, afeta todos os setores, pois pode atrasar a inovação chegando às mãos dos agricultores e de seus campos.

Comercialmente, acredito que não há impacto significativo e que o setor tem conseguido vender e fornecer produtos de acordo com o sistema de distribuição e também para os agricultores que se preparam para a campanha do próximo verão. Nós, como empresa japonesa, temos uma visão de longo prazo dos negócios e isso beneficia a abordagem a uma região como a América Latina. A agricultura na América Latina é um setor chave da economia e acreditamos que a situação pandêmica vai acabar e continuaremos trazendo inovação, boa conexão com os principais stakeholders, distribuidores e principalmente agricultores.

 

Complexo da Sumitomo – Maracanaú, Ceará


 

AgriBrasilis – Há uma tendência de consolidação no setor de defensivos agrícolas. A própria Sumitomo Chemical comprou a Nufarm. Como o senhor vê este setor nos próximos anos?

Juan Ferreira – Você tem razão, houveram algumas propensões de consolidação, principalmente entre as empresas de P&D, em busca de pegada, portfólio, pipeline e principalmente eficiência do negócio ao longo dos últimos anos. Para algumas empresas, tenho certeza de que a atratividade do mercado LATAM tem sido um dos
motivadores, como o caso da Sumitomo Chemical adquirindo as operações da Nufarm em países-chave da região.

De qualquer forma, acho que a consolidação é feita principalmente no nível da empresa de pesquisa e a maior parte do foco em termos de consolidação irá para os sistemas de distribuição e varejo, como já está acontecendo em todos os principais mercados como o Brasil. Alguns distribuidores e grupos de investidores dos EUA estão em busca de oportunidades para entrar no mercado LATAM e estão trabalhando na consolidação de varejistas privados principalmente no Brasil e na Argentina.

 

AgriBrasilis – A Nufarm era uma das grandes players de produtos pós-patente. Qual a estratégia da Sumitomo Chemical atuando neste segmento?

Juan Ferreira – Acreditamos no conceito de agricultores em busca de soluções eficientes. Manteremos o foco na área de pesquisa e desenvolvimento com o lançamento de novas moléculas e produtos bioracionais de nosso pipeline, além de ter um robusto portfólio de pós-patentes de alta qualidade para oferecer aos agricultores.

As soluções de um modelo híbrido, no qual podemos oferecer um conjunto de produtos, é o que buscamos. Neste modelo híbrido, podemos oferecer um amplo portfólio, com excelentes produtos químicos proprietários, produtos biológicos inovadores e, agora, excelentes produtos pós-patente de alta qualidade. Acreditamos que isso acabará beneficiando os agricultores.

 

AgriBrasilis – A variação cambial nos últimos meses tende a ser um fator de risco para os negócios de uma forma geral?

Juan Ferreira – A desvalorização da moeda local em relação ao dólar e a flutuação diária do câmbio é a questão mais crítica para a gestão dos negócios de Agroquímicos no Brasil e em alguns outros países da região LATAM. Além disso, no caso do Brasil, a indústria do setor vende com base em pagamentos de longo prazo, acima de 220 dias em alguns casos, financiando os lojistas privados e os agricultores. Este modelo de negócios requer uma quantidade significativa de capital de giro e fica fortemente exposto à flutuação do câmbio entre o momento do faturamento e a
cobrança.

No sentido de que reduz as margens, já que a maioria dos produtos tem uma base de custo em dólares americanos de uma forma ou de outra, e a capacidade de traduzir isso no preço dos produtos é limitada e, na maioria dos casos, atrasada. Então, em períodos de forte oscilação do câmbio como o que estamos tendo neste ano, a margem do setor
é fortemente impactada no cumprimento dos compromissos com varejistas e produtores.

 

AgriBrasilis – Que obstáculos e desafios o senhor considera mais relevantes no mercado de defensivos agrícolas no Brasil e na América Latina?

Juan Ferreira –  O mercado é muito competitivo como em todas as outras partes do mundo, mas a América Latina e especificamente o Brasil estão se tornando mais genéricos e consequentemente encolhendo as margens devido à entrada de vários novos concorrentes chineses diretamente ou fornecendo produtos para as empresas locais.

Por outro lado, as empresas japonesas são altamente respeitadas como inovadoras e produtoras de produtos e serviços de alta qualidade. Portanto, eu diria que a velocidade com que os órgãos reguladores podem rever as inovações é essencial para estabelecer um equilíbrio e um campo de competição para a concorrência.

 

AgriBrasilis – O Brasil tem maior destaque no mercado de agroquímicos no mundo. Qual a estimativa para a safra 2020/21?

Juan Ferreira – A América Latina tem vocação agrícola e o setor agrícola continuará em expansão no Brasil e em vários outros países, conseqüentemente é atraente para toda e qualquer empresa focada no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a agricultura e produção de alimentos. A expectativa de área plantada para a próxima safra é positiva, visto que prevemos alguma expansão da área de lavouras em linha, exceto algodão.

No entanto, principalmente no Brasil, o mercado de Agroquímicos foi severamente impactado pela desvalorização da
moeda local e flutuação do câmbio, conseqüentemente presumimos uma redução de aproximadamente 10%, em nossa estimativa grosseira, não necessariamente por causa da redução de volume usada no mercado, mas principalmente por meio da redução de estoque e erosão de preços em dólares americanos.