Registro de micoinseticidas cresceu 300% em 6 anos

micoinseticidas

“Os biológicos eram vistos como uma ferramenta complementar. Hoje isso mudou, e passaram a ser uma ferramenta essencial…”

Simone Velozo é coordenadora de portfólio na Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial – EmbrapII, foi supervisora de laboratório da Iharabrás e coordenadora de desenvolvimento de produtos da Lallemand. Velozo é bióloga pela Unisagrado, mestra e doutora em proteção de plantas pela Universidade Estadual Paulista.

Simone Velozo, coordenadora de portfólio na EmbrapII


O controle biológico no Brasil apresenta um crescimento exponencial, na ordem de 30% ao ano, o que supera a média global, de aproximadamente 14%.  Produtos formulados a base de fungos que controlam insetos (micoinseticidas) têm ampla participação nesse crescimento. Os biológicos eram vistos como uma ferramenta complementar. Hoje isso mudou, e passaram a ser uma ferramenta essencial, parte do cotidiano do produtor.

O número de micoinseticidas registrados no Brasil mais que quadriplicou em apenas 6 anos. Entre os anos de 2017 e 2018, existiam cerca de 40 registros, contemplando três espécies de fungos: Metarhizium anisopliae, 63%, Beauveria bassiana, 34% e Cordyceps fumosorosea, 3%.

Hoje, temos 196 produtos já registrados, e vários em fases de desenvolvimento e registro. Desses produtos, 39% são a base de B. bassiana, 36% de M. anisopliae, 19% de B. bassiana + M. anisopliae, 4% de C. fumosorosea, 1% de Cordyceps javanica, 1% de Metarhizium rileyi e 1% de B. bassiana + C. javanica, atuando principalmente para controle de mosca branca (Bemisia tabaci), cigarrinha das pastagens, broca do café (Hypothenemus hampei), bicudo da cana de açúcar (Sphenophorus levis), moleque da bananeira (Cosmopolites sordidus), psilídio dos citros (Diaphorina citri), ácaros, percevejos, etc.

Além do crescimento, houve também uma diversificação de espécies e o surgimento de novas tecnologias, como a possibilidade de empregar duas espécies de fungos em um mesmo produto, criando um produto com amplo espectro de ação.

Com o aumento da busca e utilização dessas ferramentas para o manejo de insetos praga, houve uma maior capacitação e aprendizado dos extensionistas, pesquisadores, consultores e produtores, consolidando a transferência de tecnologia.

Parcerias entre universidades e instituições de pesquisas com empresas do setor aceleraram o desenvolvimento de produtos. Vejo isso como um caminho de mão dupla, onde a pesquisa acadêmica se remodela em desenvolver soluções inovadoras e as empresas transferem conhecimento prático e soluções aos produtores.

A forma de se desenvolver produtos biológicos tem mudado com o avanço das pesquisas. Anteriormente, as empresas focavam em quantidade de biomassa (conídios/concentração) dentro do produto. Hoje, o mercado já entende mais sobre a qualidade do microrganismo produzido, sobre a virulência das cepas. As empresas enxergam a necessidade de ter produtos com maior diversidade de cepas e espécies, melhores formulações, além de buscarem por outras tecnologias, através de estudos sobre os genes (genômica) e os metabólitos secundários (metabolômica), por exemplo.

Fungos estão presentes nas lavouras desde o início da agricultura, mas ainda existe muito potencial para explorá-los. Devemos resolver nossa carência de métodos de produção automatizados em larga escala para atender a todo esse mercado. Precisamos de produtos com maior tempo de prateleira para determinadas espécies e propágulos, de um maior alcance de alvos hoje não controlados, de maior compatibilidade dos microrganismos com métodos e produtos existentes. Devemos prospectar por novas espécies/cepas e até mesmo inovar em produzir espécies fastidiosas em meio artificial.

Precisamos conhecer melhor os microrganismos, para entender quais as necessidades reais deles. Sou otimista em dizer que o Brasil está caminhando para preencher todas essas lacunas e inovar, sendo uma grande referência mundial em controle biológico.

 

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