Construindo Carreiras no Agronegócio

Publicado em: 16 de novembro de 2020

Carreiras no agronegócio: Entrevista com quatro jovens profissionais apaixonadas pela agricultura.

A Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) aponta que 21% das decisões no campo são tomadas por produtores entre 26 e 35 anos de idade, atualmente. A participação de jovens no agronegócio é uma realidade, e a AgriBrasilis convidou quatro mulheres expoentes no setor para retratar suas experiências.

 

Andrielle Andrade, formada em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2017, e Representante Técnica Comercial Sementes Agroceres da Bayer. 25 anos.

 

 

Caroline Blumer, Engenheira Agrônoma pela Universidade de São Paulo (ESALQ – USP) em 2011, hoje é Gerente de Franquias na Yuan Longping High-Tech Agriculture Co., Ltd. 33 anos.

 

 

 

Manoela Ribeiro é Zootecnista pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2019, e hoje é auxiliar de laboratório na Eurotec Nutrition. 25 anos.

 

 

Mônica Müller é Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2012), é mestre em fitossanidade e controle alternativo (2015), doutora em proteção vegetal pela Universidade Federal do Paraná (2019), e é pesquisadora na Fundação Mato Grosso. 30 anos.

 

AgriBrasilis – Qual sua atuação profissional e como foi sua trajetória no agronegócio?

Andrielle Andrade – Me formei engenheira agrônoma, e como estágio curricular obrigatório, tive a oportunidade de participar do Programa de Estágio Agro, então na multinacional Monsanto (hoje Bayer). Durante meu estágio, fui parte do time Comercial de Soja, especialmente voltado para a tecnologia Intacta RR2 Pro. Após a conclusão dessa etapa, eu recebi a proposta da companhia para fazer parte do time comercial de Milho. Atualmente, atuo como engenheira agrônoma pela Bayer na divisão Crop Science.

Caroline Blumer – Fiz meu estágio profissionalizante na Monsanto do Brasil em 2011, onde tive o privilégio de conhecer a agricultura do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, depois fui para o Mato Grosso. Ao final, eu fui contratada como RTV da Dekalb para o Mato Grosso do Sul. Em 2015, eu parti para novos desafios em Goiás como RTV de sementes da Dow AgroSciences. Na fusão com a DuPont, assumi um cargo de KAM pela Corteva em Goiânia. Em 2018, assumi o cargo de gerência de franquias na empresa Long Ping High Tech para a marca de sementes de milho Morgan, onde estou desde então.

Manoela Ribeiro – Durante minha graduação, realizei estágio no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por um ano e meio. No decorrer deste período, tive um contato maior com as questões burocráticas envolvendo o controle de qualidade de empresas de rações e aditivos para alimentação animal. Foi então que decidi realizar estágio em uma fábrica de ração. Atualmente, faço parte da equipe do controle de qualidade da Eurotec Nutrition. Além de realizar a verificação e liberação das matérias primas e produtos acabados da empresa, também realizo análises de índice de peróxido e acidez em farinhas, óleos e rações tratadas com os nossos aditivos.

Mônica Müller – Durante minha graduação em agronomia, permeei por várias áreas, e meus últimos projetos de iniciação científica foram na área da fitopatologia, e ênfase em estudos com nematóides. Decidi me especializar mais e seguir o mestrado ainda com nematologia. Finalizando o mestrado, parti para uma experiência no exterior. Na pós-graduação tive um foco muito grande nas doenças de soja. A tão temida ferrugem-asiática da soja, foi uma alavanca que me levou a interações com importantes nomes no meio científico e acadêmico.
Fui para a Alemanha fazer parte da minha pesquisa em uma multinacional renomada, e fui convidada para um pós-doutorado na universidade de Viçosa, mas achei que era o momento de estar no mercado de trabalho. Foi aí que consegui uma vaga de pesquisadora que tanto almejava.

AgriBrasilis – Qual a importância do seu trabalho para sua empresa e para a comunidade agro

Andrielle Andrade – Na minha função hoje, sou responsável por atender 185.000 hectares voltados para a segunda safra de milho, no Mato Grosso do Sul. A Sementes Agroceres é a marca pioneira no lançamento de híbridos no país, lançando um dos principais vetores da tecnificação da cultura. Vejo a história da evolução da cultura do milho no país por muitas vezes se confundindo com a história da marca.

Caroline Blumer – O cargo de gerência é muito importante, porém sempre trabalhamos em conjunto com as outras áreas da empresa, assim temos a máxima efetividade em nossas ações, tais quais: ser responsável pelas franquias de negócio em cada região de atuação, posicionamento correto dos híbridos junto ao desenvolvimento de produto, entre outros.

Manoela Ribeiro – A reciclagem animal é uma etapa de extrema importância para o agronegócio brasileiro, tendo em vista que o Brasil é um grande produtor de carne e consequentemente de resíduos. Estes resíduos gerados são processados e transformados em farinhas e óleos, possuindo um alto valor nutricional.

Contudo, é normal que estes ingredientes apresentem um processo de auto oxidação, o qual pode ser retardado através da utilização de aditivos durante o processamento das matérias primas. A não utilização de antioxidante pode ocasionar perdas no valor nutricional e alterações organolépticas de um ingrediente com grande potencial na nutrição animal e isto irá refletir no desempenho dos animais no campo.

Assegurar a qualidade e funcionalidade dos aditivos que serão utilizados no processamento de ingredientes para alimentação animal é muito importante para a comunidade agro pois isso irá refletir diretamente no trabalho do campo e no produto final da cadeia.

Mônica Müller – Entendo que parte do meu trabalho é fazer o complexo e teórico, virar simples e prático. O meu trabalho é focado em doenças de plantas, principalmente soja, milho e algodão. Estudo os melhores manejos das doenças que incidem nestas culturas, como utilizar ferramentas para reduzir a ocorrência de doenças, em qual momento, visando menor impacto financeiro e o equilíbrio do sistema de produção.

AgriBrasilis – Quais desafios você enfrenta no dia a dia e quais dificuldades para consolidar uma carreira profissional de sucesso?

Andrielle Andrade – Diariamente vamos enfrentar dificuldades, sejam elas com grande ou pequeno impacto no nosso resultado final. Acredito que bons profissionais devem estar preparados para lidar com os momentos de adversidade e conduzir um ambiente que propicie desenvolver soluções, demonstrando resiliência e proatividade. Com as tecnologias, a mudança nos meios de comunicação e até a mudança do perfil do consumidor, nós devemos criar a cultura do “pensar fora da caixa”.

Caroline Blumer – Não acredito em dificuldades para consolidar a carreira no Agro, acredito em foco e assim traçar uma bela estratégia de onde queremos chegar. Requer muita motivação, trabalho árduo e correto, força de vontade, disposição, resiliência e principalmente vontade de vencer e conquistar o seu espaço.

Manoela Ribeiro – Tendo o conhecimento da importância dos produtos acabados da empresa para o agronegócio, ter a responsabilidade de afirmar se uma matéria prima ou produto acabado está apto a ser utilizado e ir para o campo, é um desafio enfrentado diariamente pela equipe.

Quanto ao sucesso profissional, acredito que o perfil de cada pessoa é muito importante para alavancar e consolidar a carreira. E neste breve período no mercado de trabalho, a proatividade, o trabalho em equipe, ter curiosidade por novas tecnologias da área e estar disposta a enfrentar novos desafios tem me ajudado a construir a minha carreira.

Mônica Müller – A jornada para uma carreira profissional não é curta, nem rápida, é constante. É preciso ser persistente e resiliente, ter objetivos claros, foco e principalmente entender qual o seu papel perante a sociedade, e o que você deseja agregar, seja desde um estágio até uma posição de maior influência.

AgriBrasilis – Que situação profissional foi mais crítica em sua carreira?

Andrielle Andrade – A primeira mudança para assumir a posição de representante técnica de vendas. Mudar de região e assumir a responsabilidade da função foi sair da zona de conforto. O medo de arriscar pode te impedir de errar, porém, também te bloqueia do grande acerto. No meu ponto de vista, é praticamente impossível evoluir e adquirir experiências ou conhecimentos sem passar por novos desafios.

Caroline Blumer – Eu sempre me vi como uma profissional, nunca me enxerguei a partir de gêneros e sim de competências e onde eu vislumbrava estar, independente se eu era homem ou mulher. Tenho muito orgulho das mulheres do agro, cada vez mais assumindo cargos e posições de destaques nas empresas e tudo isso com muita competência e disposição!

Manoela Ribeiro –  A situação em que encarei um grande desafio profissional foi na minha primeira visita ao cliente, naquela ocasião eu estava sem toda a equipe que trabalho no dia a dia e toda a estrutura laboratorial em que realizo as análises. Neste momento tive que me reinventar para realizar as análises e trabalhar com colegas de campo que não havia tido contato ainda.

Mônica Müller – Acredito que as fases mais críticas são as de incertezas, que geram insegurança, portanto considero a maior.

AgriBrasilis – Quais são as oportunidades para os jovens no agronegócio, em sua visão?

Andrielle Andrade – O agronegócio é um mundo de diferentes oportunidades… vocês conseguem se lembrar do nosso setor há 20 anos atrás? Nível baixíssimo de tecnologia de máquinas à processos de produção. Agora, tentem imaginar como produziremos alimentos daqui a 20 anos. Máquinas autônomas, rastreabilidade, novas fontes de energia, e tantos outras coisas que possivelmente nem existem hoje ainda.

E cada vez mais eu tenho a percepção de uma maior aproximação entre as gerações, e um sentimento de compartilhamento que une os aprendizados da experiência ao novo. Mais uma vez trago a importância da iniciativa e do protagonismo do profissional em estar atento às mudanças e as exigências do mercado antecipando as demandas e assim se destacando. Sem criar rótulos das gerações, mas acredito que nunca na história do setor do agronegócio o mercado esteve tão aberto para receber os jovens.

Caroline Blumer – O Agro não para! Tenho um orgulho imenso de fazer parte desse setor que só cresce no Brasil. Para os jovens do agro, o que posso falar é para sempre seguirem em frente, na faculdade buscarem estágios para se profissionalizarem, nas férias irem atrás do que mais lhe atraem e também fazer estágios. O agro está sempre atrás de novos talentos que tenham a cara de cada empresa e que possam fazer a diferença.

Manoela Ribeiro – O agronegócio brasileiro é um setor imenso. A pesquisa para desenvolvimento e melhoria dos diferentes segmentos do agronegócio e a utilização e desenvolvimento de tecnologias para facilitar a gestão e rastreabilidade dos produtos gerados são realidades no agronegócio e apresentam oportunidades diversas para os jovens brasileiros. Na zootecnia, as oportunidades estão distribuídas na área da nutrição, melhoramento genético, bem-estar animal. Mas o agronegócio é um setor multidisciplinar, ele abrange outras áreas de conhecimento.

Mônica Müller – O agronegócio oferece um leque de possibilidades enorme! O agronegócio é dinâmico, deixou de ser tradicional para se tornar tecnificado, aberto à inovação. Antes o jovem saia do campo por ter poucas oportunidades de ser protagonista. O campo exigia experiência e força bruta, quase todo o trabalho era manual. Hoje temos máquinas cada vez mais independentes, processos cada vez mais robotizados e àqueles que têm informação são cada dia mais necessários para trazer soluções, estratégias e tomar decisões. Vejo que os jovens tem muito dinamismo e sabem usar as tecnologias atuais oferecidas pelo o mercado, isso dá a ele importantes ferramentas competitivas.