Chile se consolidou como potência em avelãs

Published on: September 24, 2025

“…um elemento-chave tem sido a transferência de conhecimento aos produtores locais por meio de programas permanentes de capacitação…”

Camillo Scocco é gerente geral da AgriChile, agrônomo com mestrado pela Università Cattolica del Sacro Cuore Piacenza.  

A AgriChile é a subsidiária agrícola da Ferrero no Chile, no país desde 1991.  


Camillo Scocco, gerente geral AgriChile

AgriBrasilis – Como o Chile chegou a se tornar o terceiro maior produtor de avelãs do mundo? 

Camilo Scocco – O Chile se consolidou como um ator estratégico para o abastecimento global de avelãs da Ferrero. Atualmente, é o segundo país em importância dentro do mix de origens da companhia e, pela primeira vez, projeta-se que se tornará também o segundo maior produtor mundial, depois da Turquia. Esse posicionamento é resultado do crescimento sustentado do setor, refletido tanto no aumento da área plantada como nas projeções de colheita recorde para 2025. Segundo dados da Oficina de Estudos e Políticas Agrárias (Odepa), em 2014 havia 8.686 hectares de aveleira europeia plantados no Chile, número que subiu para 49.263 hectares em 2024. 

Há mais de 30 anos, promovemos um modelo inovador para a produção de avelãs no Chile, priorizando qualidade, eficiência e cuidado com o meio ambiente. Nesse sentido, um elemento-chave tem sido a transferência de conhecimento aos produtores locais por meio de programas permanentes de capacitação, o que ajudou a posicionar o Chile como um ator relevante no mercado mundial. 

AgriBrasilis – Quais são as vantagens de produzir fora do calendário europeu? 

Camilo Scocco – Isso permite que o Chile ofereça uma segunda colheita fresca de avelãs, apoiando assim o fornecimento global durante todo o ano. Além disso, essa produção fora do calendário é um elemento importante para manter o padrão de qualidade dos produtos Ferrero.
Os países fornecedores incluem os históricos centros produtores de avelãs da Europa, como Itália e Turquia, onde seguimos comprometidos com nossas alianças, trabalhando junto a produtores e especialistas para promover inovação, sustentabilidade e excelência produtiva em todas as regiões. 

AgriBrasilis – Qual é o perfil do produtor de avelãs e a rentabilidade do cultivo? 

Camilo Scocco – O Chile oferece condições favoráveis para o cultivo de avelãs, o que permitiu o desenvolvimento de uma cadeia de valor diversa e robusta. Hoje trabalhamos com uma ampla variedade de produtores, que vão desde pequenos agricultores até fundos de investimento. Esses perfis transversais são chave para o crescimento sustentável do setor e refletem a abertura e o dinamismo do modelo chileno. 

Nos últimos anos, as colheitas tiveram bons resultados no Centro e Sul do país. Como empresa, estamos focados em apoiar os agricultores interessados nesse cultivo, acompanhando-os em todo o processo produtivo. 

O controle de pragas e doenças no cultivo da aveleira europeia, embora menos exigente que em outras frutíferas, continua sendo um desafio relevante para a indústria…

AgriBrasilis – Ainda há espaço para expandir a produção no país? 

Camilo Scocco – Estamos presentes na região centro-sul do Chile, especificamente nas regiões de Maule, Ñuble e Araucanía. Em relação à Araucanía, acreditamos no potencial agrícola da região e em seu papel no desenvolvimento das avelãs europeias no Chile. 

Como empresa, adotamos uma visão de longo prazo, centrada em fortalecer nossas operações atuais e continuar trabalhando em estreita colaboração com os produtores para promover o crescimento sustentável da indústria. 

AgriBrasilis – Quais são as práticas de manejo mais comuns e os principais problemas fitossanitários? 

Camilo Scocco – O controle de pragas e doenças no cultivo da aveleira europeia, embora menos exigente que em outras frutíferas, continua sendo um desafio relevante para a indústria. Entre as principais preocupações estão os insetos de solo, especialmente o gênero Aegorhinus, que afeta a produtividade no sul do Chile. Em relação às pragas da folhagem, ainda se investiga o ciclo completo do Leptoglossus chilensis, presente principalmente na zona central, que pode comprometer a qualidade do fruto. 

No âmbito das doenças, a bacteriose causada por Xanthomonas arboricola pv. corylina (Xac) representa risco importante se não forem aplicados manejos adequados. A aquisição de mudas em viveiros certificados é considerada essencial para garantir um bom estabelecimento e prevenir a propagação de fitopatógenos. 

Para enfrentar esses desafios, trabalhamos ativamente por meio do nosso departamento de P&D+T+I. Além disso, foi criada uma mesa técnica composta por 33 atores do setor público, acadêmico e privado, entre eles universidades (Universidade Católica de Temuco, Universidade da Fronteira, Universidade Austral do Chile, Universidade de Los Lagos), o Instituto de Pesquisas Agropecuárias, consultores e produtores de Araucanía, Los Ríos e Los Lagos. Essa instância tem como objetivo gerar conhecimento científico, analisar o impacto econômico de pragas como o Aegorhinus spp., propor soluções aplicadas e difundir boas práticas entre os produtores.

 

LEIA MAIS:

Tarifaço dos EUA e mitos sobre a economia brasileira