“É complexo mensurar o custo-benefício, mas se a dessecação é feita no estádio correto e de maneira adequada…”
Alfredo Junior Paiola Albrecht e Leandro Paiola Albrecht, professores da Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina, Departamento de Ciências Agronômicas e supervisores do grupo Supra Pesquisa.
AgriBrasilis – Quais são as opções para a dessecação pré-colheita na soja?
Alfredo e Leandro Albrecht – Temos o diquat, que é o mais utilizado, o glufosinate. e também alguns inibidores da Protox, como carfentrazone, flumioxazin e saflufenacil, que podem ser utilizados em mistura com diquat ou principalmente com glufosinate, com a finalidade de melhorar e/ou acelerar a dessecação.
Temos também uma mistura pronta de diquat com amicarbazone focada na dessecação pré-colheita. Recentemente, neste ano, tivemos o registro do florpyrauxifen-benzyl, que é um novo conceito de produto a ser utilizado para dessecação pré-colheita da soja.
AgriBrasilis – Qual o custo-benefício dos dessecantes glufosinate, diquat?
Alfredo e Leandro Albrecht – A dessecação pré-colheita é utilizada principalmente para uniformizar a lavoura de soja para a colheita, mas também pode antecipar em alguns dias a colheita (o que é muito interessante para antecipar a semeadura do milho segunda safra ou algodão), e até mesmo ajudar no controle de algumas plantas daninhas.
É complexo mensurar o custo-benefício, mas se a dessecação é feita no estádio correto e de maneira adequada, existem sim benefícios superiores ao custo investido na operação, não só no caso do diquat e do glufosinate, mas para outros produtos e misturas que podem ser utilizadas.
Com o banimento do paraquat, o diquat foi seu principal substituto (devido a algumas características similares ao paraquat e também ao preço). O segundo produto que mais substituiu o paraquat foi o glufosinate, que já era utilizado para dessecação pré-colheita de outras culturas. Cabe salientar que hoje temos outros produtos com grande potencial de uso para essa finalidade.
AgriBrasilis – Qual é a eficiência observada para o florpyrauxifen-benzyl e como se compara com os outros produtos?
Alfredo e Leandro Albrecht – É difícil abordar um assunto complexo como esse em poucas palavras. De forma resumida, podemos dizer que esse novo herbicida é uma boa opção para a dessecação pré-colheita da soja, com alta eficiência e grande potencial de uso nos próximos anos. Inclusive, recentemente tivemos um artigo publicado em uma ótima revista cientifica (Florpyrauxifen-Benzyl: A New Chemical Group for Use in Preharvest Soybean Desiccation) e trabalhos apresentados em congresso sobre esse tema, desdobrando o assunto por meio da pesquisa aprofundada.
O florpyrauxifen-benzyl é um produto moderno focado em cultivares mais modernas de soja, que tipicamente apresentam crescimento indeterminado. Ele tem efeito mais lento que o do diquat, por conta das características das moléculas, se aproximando mais da velocidade do glufosinate, mas pode ser aplicado mais cedo na cultura da soja, sem perda de produtividade. Por exemplo: para o diquat, recomentamos aplicação no estádio R7.3 da soja; para o florpyrauxifen-benzyl, recomenda-se em R7.1.
AgriBrasilis – Como são realizados os experimentos que avaliam eficiência e seletividade dos herbicidas?
Alfredo e Leandro Albrecht – Esses experimentos normalmente são realizados em campo ou em casa de vegetação, utilizando as principais plantas cultivadas no Brasil e focados nas principais e mais complexas plantas daninhas presentes em nosso sistema de produção.
Por meio de avaliações visuais, baseadas em escalas cientificas, mensuramos o percentual de controle das plantas daninhas e se a cultura de interesse sofreu alguma injúria ou dano por fitointoxicação. Atualmente isso também pode ser avaliado com análise de imagens.
Também são realizadas aferições de massa das plantas daninhas e da cultura de interesse, além de medições de altura, desenvolvimento, etc. Na cultura de interesse também é indicado avaliar seus componentes de produção. Tudo isso serve para que ao final de uma pesquisa possamos ter um herbicida eficiente no controle das plantas daninhas sem causar danos para as culturas ou para o ambiente. Isso pode ser feito para herbicidas pré e pós-emergentes e nossa equipe tem centenas de trabalhos publicados nessa linha, durante nossos 18 anos de pesquisa aplicada a buscar soluções para o agro.
AgriBrasilis – O que é matointerferência e como é calculada?
Alfredo e Leandro Albrecht – Matointeferência é o dano que a planta daninha pode causar na cultura de interesse. As plantas daninhas podem reduzir a quantidade e qualidade do produto a ser produzido e isso precisa ser mensurado para entendermos como e quando devemos fazer o melhor controle possível dessas plantas infestantes.
Basicamente calculamos o dano que as densidades (quantidade) de plantas daninhas podem causar em uma cultura e/ou os danos que os períodos de convivência dessas plantas daninhas podem causar na cultura. Recentemente tivemos vários trabalhos demostrando, por exemplo, que uma planta de buva por m2 pode resultar em perdas de 14% de soja, e uma planta de capim-pé-de-galinha por m2 pode resultar em até 21% de perda de produtividade na soja.
AgriBrasilis – Por que ocorreu aumento tão acelerado de picão-preto (Bidens spp.) em lavouras de soja do PR e MS?
Alfredo e Leandro Albrecht – Aumentos assim não são causados normalmente por um único fator. No caso do picão-preto, na região mencionada, o principal fator foi o aumento de casos de resistência aos herbicidas.
Há muitos anos o picão-preto já tem resistência a vários herbicidas inibidores da ALS, e, mais recentemente, ocorreu aumento acentuado da resistência ao atrazine (principal herbicida utilizado no milho); ainda mais recentemente, ocorreu resistência ao glyphosate.
Isso proporciona maior dificuldade de controle e maior aumento da dispersão, que pode ocorrer principalmente por máquinas e sementes piratas. Além do fato de PR e MS fazerem fronteira com o Paraguai, onde o picão-preto é uma das principais e mais complexas plantas daninhas.
AgriBrasilis – O uso de herbicidas diminui a qualidade microbiana dos solos?
Alfredo e Leandro Albrecht – Em nossas pesquisas recentes não encontramos efeitos deletérios dos herbicidas pré e pós-emergentes que utilizamos normalmente em nossas lavouras. Mas este é um ponto extremamente importante e que deve ser continuamente estudado, devido sua relevância para a sustentabilidade do nosso sistema de produção.
Sugestão de materiais para se aprofundar nestes e outros assuntos:
Neste link abaixo tem grande parte das nossas publicações recentes:
https://drive.google.com/drive/mobile/folders/1HNQVvX5N1RS1E1dNI1i7fdB7spMA4Dn0?usp=sharing
Temos também nosso canal no YouTube:
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