Inundações no RS aumentaram incidência de doenças nos animais?

“No momento da calamidade, tivemos problemas de comunicação generalizados, mas houve notificações, mesmo que com atrasos…”

Fernando Groff é chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS – Seapi.

Groff é fiscal estadual agropecuário, médico veterinário e mestre em medicina veterinária preventiva pela Universidade Federal de Santa Maria.

Fernando Groff, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal


AgriBrasilis – As inundações no RS aumentaram a incidência de doenças nos animais?

Fernando Groff – Tivemos um aumento nos sinistros, por causas não infecciosas, geralmente por dano estrutural nas granjas. É possível que a incidência de doenças de rotina possa ter aumentado, pela situação desfavorável a que os animais foram submetidos. Em ambas as situações tivemos aumento de notificações ao Serviço Veterinário Oficial, que foram acompanhadas.

AgriBrasilis – Quais as ações da Divisão de Saúde Animal da Seapi?

Fernando Groff – A missão da DSA é o gerenciamento dos Programas Sanitários Oficiais, que envolve o planejamento e execução das atividades de vigilância em Saúde Animal. As ações são voltadas para o avanço das condições sanitárias dos rebanhos, a prevenção de ameaças (análise e mitigação de risco) e saneamento de focos (gestão de emergência). A atividade garante a viabilidade das cadeias produtivas pecuárias, tanto para consumo interno como para acesso a mercados externos.

AgriBrasilis – Por conta das enchentes, os produtores deixaram de realizar o controle sanitário adequado?

Fernando Groff – No momento da calamidade, tivemos problemas de comunicação generalizados, mas houve notificações, mesmo que com atrasos. Pelas dificuldades logísticas, houve problemas de reposição de insumos, o que pode afetar a saúde dos animais, inclusive causando mortalidade.

AgriBrasilis – A detecção de frangos com Newcastle em Anta Gorda, RS, é um caso isolado?

Fernando Groff – É um caso isolado, em que problemas estruturais causados pelo excesso de chuvas possivelmente causaram uma quebra na biosseguridade do galpão. É importante lembrar que o agente é um vírus que circula em aves de vida livre, e é por isso que galpões de avicultura comercial devem manter boas condições de biosseguridade.

AgriBrasilis – Como essa doença é transmitida e quais são os sintomas? Qual é a estimativa dos prejuízos se esse não for um caso isolado?

Fernando Groff – A doença de Newcastle pode ser transmitida por contato direto ou por secreções/excreções de animais contaminados. A potencial quebra de biosseguridade que causou esse foco, e a investigação epidemiológica conduzida no entorno, comprovou que se tratava de caso isolado. Não houve comprometimento do sistema produtivo na região, ou em outras áreas relacionadas. Os dados de investigação já geraram relatórios aos parceiros comerciais – que bloqueiam preventivamente a importação visando a proteção de seus próprios plantéis avícolas – comprovando a pontualidade do evento.

AgriBrasilis – O prazo para que as granjas de suínos se adequem às normas estabelecidas pela IN 10/2023 foi prorrogado. Que diretrizes são estabelecidas e quando devem entrar em vigor?

Fernando Groff – Foram prorrogados os prazos do inciso I do artigo 29 da IN 10/2023, que é a primeira fase de implantação, até 1º de março de 2025. São medidas bastante simples, mas algumas impactam em obra estrutural, por isso os prazos foram escalonados, permitindo ao produtor se organizar. A primeira fase, que foi prorrogada, é basicamente de ajustes nos planos de trabalho para resolução das pendências de biosseguridade.

Importante frisar que as diretrizes estabelecidas na IN foram acordadas com a cadeia produtiva, e uma série de reuniões, e que granjas novas (a partir da publicação, em 22 de maio de 2023) já devem cumprir a normativa na íntegra.