“Enquanto a região Centro Sul manteve o mesmo nível de área plantada de cana nos últimos 10 anos, o estado do Mato Grosso do Sul cresceu 37%…”
Martinho Ono é CEO da SCA Brasil, formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
A SCA Brasil é especializada no mercado físico de biocombustíveis, prestando serviços de comercialização de etanol e biodiesel, consultoria em inteligência de mercado e aquisição de insumos e serviços logísticos para empresas do agro.
AgriBrasilis – As queimadas nos canaviais em SP vão aumentar os preços dos combustíveis?
Martinho Ono – A combinação de altas temperaturas, baixa umidade e os ventos provocaram incêndios por toda a região canavieira, não restrito ao estado de São Paulo.
Nós não acreditamos em aumento dos preços do etanol hidratado, pelas seguintes razões:
- A área queimada de cana representa algo em torno de 1,5% a 2,0% do total, portanto um percentual pequeno em relação a área total.
- Da área total disponível para essa safra, devemos considerar que mais de 60% já estava processada, sem impacto na produção dessa safra.
- Cana queimada foi processada, mesmo com prejuízo de sacarose e tonelagem por hectare. Portanto não foi um prejuízo completo.
- A cana queimada dificulta a produção de açúcar, então estamos prevendo um mix mais alcooleiro para essas áreas.
Entendemos que para essa safra o prejuízo de moagem será pequeno, mas com consequências maiores para a próxima safra.
Portanto, a produção e a oferta de etanol não terão grande variação, com preocupação de preços crescentes.
AgriBrasilis – Em que medida as queimadas estão afetando as usinas?
Martinho Ono – As usinas afetadas com incêndios são obrigadas a mudar o ritmo de moagem planejada, tendo necessidade de priorizar o corte dessas canas, muitas delas de forma precoce. Também haverá gastos adicionais não previstos, para recuperação da área queimada, incluindo replantios. Em alguns casos as usinas terão que renegociar os contratos de fornecimento de açúcar.
“Entendemos que para essa safra o prejuízo de moagem será pequeno, mas com consequências maiores para a próxima safra”
AgriBrasilis – O clima seco já era considerado prejudicial para a cana antes das queimadas. Como está a qualidade das lavouras que não foram atingidas pelos incêndios?
Martinho Ono – A falta de chuvas desde o início do ano já vinha reduzindo a produtividade, projetando uma safra menor. As usinas têm reportado dificuldade de produzir açúcar diante das impurezas e produtividade baixa em Toneladas de Cana por Hectare (TCH).
AgriBrasilis – Em que patamar se encontra o mercado de biodiesel no Brasil?
Martinho Ono – Com a mistura de 14% de biodiesel no óleo diesel, ampliamos a participação desse biocombustível, o que foi comemorado pelo setor produtivo. O otimismo foi reforçado com a elevação da mistura prevista para os próximos anos, com a possibilidade de alcançar 25% de mistura, conforme previsto no Projeto de Lei – Combustível do Futuro.
Porém, nós temos encontrado muitas irregularidades de qualidade, uma vez que algumas distribuidoras não têm misturado o biodiesel conforme prevê a regulamentação da ANP – Agência Nacional de Petróleo. Isso acontece porque o biodiesel tem o custo maior do que o diesel A.
AgriBrasilis – Como o Mato Grosso do Sul tem avançado no setor sucroenergético?
Martinho Ono – Enquanto a região Centro Sul manteve o mesmo nível de área plantada de cana nos últimos 10 anos, o estado do Mato Grosso do Sul cresceu 37%, portanto com alto nível de investimento no setor sucroenergético.
Como o MS é um estado com forte vocação na produção de grãos, os investimentos em usinas de etanol de milho têm se intensificado, com 3 unidades novas inauguradas recentemente. O MS caminha para ser um dos estados de maior produção de etanol do país.
AgriBrasilis – O MS fez mudanças tributárias importantes que favorecem a venda do etanol hidratado no mercado interno. Que mudanças são essas e quais tem sido as consequências?
Martinho Ono – A redução na cobrança de ICMS na comercialização dentro do estado aumentou muito a competitividade do biocombustível em relação a gasolina tipo C.
Somente no primeiro semestre de 2024, as vendas de etanol hidratado cresceram 173% ante mesmo período de 2023.
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