Tendências na formulação de agroquímicos

“Formulações mais estáveis, compatíveis e com melhor distribuição do ingrediente ativo são mais eficientes…”

Marcia Werner é diretora global de pesquisa e tecnologia no segmento agro da Croda, multinacional inglesa de química e especialidades. Werner é bióloga formada pela PUC, com especialização em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa.

Marcia Werner, diretora de pesquisa e tecnologia agro da Croda


AgriBrasilis – Quais são as tendências no desenvolvimento de formulações de agroquímicos?

Marcia Werner – Os agroquímicos possuem características físico-químicas e modos de ação distintos, o que exige ajustar o tipo de formulação conforme a situação. Com restrições ao registro de produtos tóxicos e banimento de algumas químicas, há menos opções de ingredientes ativos disponíveis. Além disso, a resistência de pragas a certos modos de ação levou ao desenvolvimento de formulações combinando múltiplos ingredientes ativos e ao investimento em sistemas de entrega mais eficazes, como nanotecnologia e encapsulados. Outra grande tendência, impulsionada por empresas comprometidas com sustentabilidade, é o desenvolvimento de formulações menos tóxicas ao homem e ao meio ambiente, que preferencialmente utilizem matérias-primas renováveis, biodegradáveis e/ou livres de microplásticos.

AgriBrasilis – A maioria dos defensivos no Brasil pertence as formulações EC, SC, SL e WG. O que as siglas indicam e quais são as diferenças entre esses produtos?

Marcia Werner – SL (Concentrado Solúvel) são formulações onde o ingrediente ativo é completamente solúvel e estável em água. Esse tipo de formulação é favorável por ser à base de água, fácil de produzir e de baixo custo. No entanto, há poucos ingredientes ativos que podem ser formulados dessa maneira; o glifosato é um exemplo.

Para ingredientes não solúveis em água, as formulações preferenciais são EC, SC e WG. EC (Concentrado Emulsificável) são formulações à base de solvente, onde o ingrediente ativo é solubilizado e são adicionados emulsionantes para distribuição adequada na calda.

SC (Suspensão Concentrada) é a principal escolha atualmente, sendo à base de água, livre de solventes, com o ingrediente ativo suspenso em finas partículas estabilizadas por tensoativos e polímeros.

WG (Granulado Dispersível) são formulações sólidas em grânulos, onde os ingredientes ativos são moídos a seco com surfactantes e polímeros, proporcionando alta molhabilidade e suspensão das partículas na água. Este tipo de formulação permite concentrar o produto e reduzir impactos de embalagem, transporte e armazenamento.

AgriBrasilis – O que faz uma formulação ser mais eficiente do que outra?

Marcia Werner – Produtos com o mesmo ingrediente ativo podem apresentar resultados diferentes devido ao tipo de formulação e seus componentes. Formulações mais estáveis, compatíveis e com melhor distribuição do ingrediente ativo são mais eficientes. A adição de adjuvantes na formulação também pode melhorar a eficácia biológica do ingrediente ativo.

AgriBrasilis – Que fatores afetam a compatibilidade dos produtos fitossanitários e por quê?

Marcia Werner – Incompatibilidades ocorrem quando produtos são misturados sem conhecimento prévio das possíveis reações químicas entre ingredientes ativos e/ou componentes.

A instabilidade física pode ser causada pela qualidade da água de diluição e presença de eletrólitos, que podem degradar ativos e componentes ou alterar os estabilizantes da formulação, resultando em floculação e sedimentação, que entopem bicos e comprometem a aplicação. A ordem de adição de produtos e o baixo volume de água de diluição podem intensificar esses problemas.

AgriBrasilis – Os adjuvantes, por exemplo, não possuem legislação própria. Nesse sentido, como a senhora enxerga o aspecto regulatório para componentes de agroquímicos?

Marcia Werner – A regulamentação atual exige que todos os componentes das formulações sejam descritos, incluindo suas proporções de uso. Isso restringe possíveis ajustes de fórmula, pois qualquer alteração requer um processo demorado e custoso para as empresas. Isso inibe, por exemplo, melhorias na estabilidade ou a adição/substituição de componentes por opções mais eficientes, sustentáveis ou de menor custo.

É contraditório não haver regulamentação para adjuvantes, enquanto há um supercontrole dos componentes da formulação. Acho interessante que haja flexibilização no processo de registro dos componentes, mas é importante que existam critérios para garantir que o produto final não tenha impacto negativo na toxicologia humana e ambiental.

 

AgriBrasilis – Por que existem adjuvantes utilizados na indústria de formulação e também adjuvantes utilizados no campo pelos agricultores? Por que esses produtos não vêm prontos de fábrica?

Marcia Werner – Um grande fator é falta de espaço na formulação: os adjuvantes precisam de uma dose mínima para fazer efeito e, às vezes, não há espaço na composição do produto.

A indústria tem evoluído no desenvolvimento de componentes multipropósito, adjuvantes mais eficazes e tecnologias de formulação que permitem maior incorporação de adjuvantes, como microemulsões e dispersões oleosas. No entanto, além da barreira técnica, há uma questão de custo e competitividade dos produtos.

A incorporação de adjuvantes nas formulações acontece principalmente nos novos lançamentos, em produtos de maior valor agregado, onde a escolha do adjuvante é otimizada para o ingrediente ativo. Embora seja ideal a incorporação de adjuvantes já na composição do produto, os adjuvantes adicionados em mistura em tanque pelos agricultores não cairão em desuso. Eles permanecem como importante aliados na tecnologia de aplicação e impacto na eficácia biológica dos defensivos agrícolas.