Irrigação: a quarta revolução agrícola

“A infraestrutura de energia elétrica é um desafio significativo para a adoção da irrigação em áreas rurais, pois muitas regiões ainda carecem desse serviço…”

Rodrigo Christofoletti Bernardi é especialista em produtos na Lindsay América Latina, empresa focada em soluções para irrigação, infraestrutura e tecnologia industrial. Bernardi é técnico em meio ambiente e engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras.

Rodrigo Christofoletti, especialista em produtos na Lindsay América Latina


AgriBrasilis – Qual é a importância da irrigação para o Brasil?

Rodrigo Bernardi – A irrigação pode ser considerada a “quarta revolução agrícola” para o Brasil devido a sua capacidade de aumentar a produtividade, tornar a agricultura mais resiliente às mudanças climáticas, expandir a área cultivada, promover o uso eficiente dos recursos hídricos e gerar impacto socioeconômico positivo nas regiões rurais.

AgriBrasilis – O que falta para alcançarmos essa revolução? Por que os agricultores irrigam tão pouco?

Rodrigo Bernardi – A infraestrutura de energia elétrica é um desafio significativo para a adoção da irrigação em áreas rurais, pois muitas regiões ainda carecem desse serviço. Além disso, a obtenção de licenças ambientais e outorgas para o uso de água é uma etapa importante, mas não necessariamente negativa, para garantir a sustentabilidade ambiental dos projetos de irrigação.

Com relação ao financiamento, o fortalecimento dos créditos através de bancos privados pode impulsionar o desenvolvimento do setor agrícola, permitindo que mais produtores tenham acesso aos recursos para investir em sistemas de irrigação. No caso específico da Lindsay, o papel do DLL como parceiro estratégico tem sido fundamental para viabilizar as negociações e facilitar o acesso dos produtores aos equipamentos de irrigação.

“A infraestrutura de energia elétrica é um desafio significativo para a adoção da irrigação em áreas rurais, pois muitas regiões ainda carecem desse serviço”

AgriBrasilis – Que tecnologias estão sendo desenvolvidas para irrigação?

Rodrigo Bernardi – A Lindsay está introduzindo no Brasil o primeiro Corner de alta performance, um equipamento projetado para expandir a área irrigada das fazendas, alcançando áreas que os pivôs centrais padrão não conseguem atingir. Além disso, a nova plataforma do FieldNET Next Gen facilita o uso da tecnologia na irrigação, permitindo que os produtores monitorem, gerenciem e controlem seus equipamentos de irrigação de qualquer lugar através de um aplicativo fácil de usar, com informações em tempo real.

Uma novidade importante é a parceria global da Lindsay com a Pessl, empresa fornecedora das estações meteorológicas da Metos. Essas estações fornecem informações atualizadas sobre o clima, ajudando os produtores a gerenciar o sistema de irrigação de forma mais eficiente para aumentar a produtividade do campo.

AgriBrasilis – Como funcionam os pivôs do tipo “corner” e quais são seus benefícios?

Rodrigo Bernardi – O Corner é uma extensão inteligente do pivô central, permitindo um acréscimo de até 90 metros de raio, ajustável conforme a área onde está instalado. Em locais onde a presença de estradas, linhas de energia, matas e outros obstáculos impossibilitaria a instalação de um novo vão de pivô, o Corner se adapta a esse terreno irregular, abrindo e fechando o último vão conforme necessário. Isso resulta em aumento médio de 25% na área produtiva irrigada em projetos realizados no Brasil.

Além do aumento na área irrigada, que antes não era plantado, os benefícios do Corner incluem a otimização das operações agrícolas, como plantio, tratos culturais e colheita, que antes eram necessárias muitas manobras nos tratores (onera o custo). Essa melhoria na eficiência é acompanhada pela uniformidade na aplicação de água, bem como no gerenciamento, através da plataforma FieldNET, a mesma utilizada para o pivô central.

AgriBrasilis – Como tem evoluído a expansão da área irrigada no país? Que projetos existem para ampliar a área irrigada?

Rodrigo Bernardi – O governo brasileiro tem se dedicado à modernização e expansão da infraestrutura de irrigação, promovendo a construção e aprimoramento de sistemas de transmissão de energia, além de aprovar legislações para o uso de barragens. Também está revendo os processos de outorga de água e licenciamentos ambientais, muitas vezes considerados antiquados e desatualizados.

A adoção de tecnologias avançadas de irrigação, incluindo o monitoramento remoto, tem desempenhado papel crucial na utilização mais eficiente dos recursos hídricos, contribuindo para expandir a área irrigada em diversas culturas. Em várias regiões, o aproveitamento de fontes de água subterrânea, como aquíferos, tornou-se uma estratégia fundamental, especialmente onde o uso de água superficial não seria viável.

A Lindsay, por exemplo, tem expandido sua rede de distribuidores, permitindo acesso a áreas anteriormente não atendidas, o que é fundamental para o avanço da irrigação em regiões diversas.

AgriBrasilis – Altas temperaturas exigem mudanças no manejo da irrigação? Por quê?

Rodrigo Bernardi – Altas temperaturas exigem mudanças no manejo da irrigação devido ao aumento da taxa de evapotranspiração das plantas, que leva a um estresse hídrico mais rápido e uma maior perda de água por evaporação do solo. É necessário fornecer água adequadamente para as plantas enfrentarem o calor, ajustando o cronograma e a quantidade de irrigação. Maximizar a eficiência do uso da água é essencial, evitando tanto o desperdício quanto a escassez.

Outro fator importante da irrigação é a climatização: durante a aplicação de água, é criado um microclima na área do pivô. Temperaturas altas não só causam a evapotranspiração, mas podem também causar dano físico à planta.

AgriBrasilis – Quais são os ganhos em produtividade e os custos da irrigação para grandes culturas?

Rodrigo Bernardi – A irrigação possibilita um fornecimento controlado de água às plantas, resultando em aumento significativo na produção por hectare, especialmente em regiões com escassez de água. Com a irrigação, as plantas têm acesso contínuo à água, minimizando o risco de perdas devido à seca e garantindo colheitas mais consistentes e previsíveis. Em algumas regiões, a irrigação permite o cultivo ao longo de todo o ano, aumentando a utilização da terra e possibilitando múltiplas safras anuais (5 safras em 2 anos). O uso de tecnologias de automação, como o FieldNET, que ajuda o produtor a potencializar o uso da irrigação, aumenta a produtividade e reduz custos com mão de obra e custos com insumos, como a energia elétrica.

 

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