Defensivos biodirigidos utilizam RNA para combater pragas agrícolas

“O RNA pode ser utilizado para silenciar genes específicos em insetos-praga, patógenos e plantas daninhas, protegendo as culturas de importância agrícola…”

Hugo Molinari é o diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Sempre Agtech/WIN, ex-pesquisador da Embrapa Agroenergia, e especialista em biotecnologia da CTNBio. Molinari é engenheiro agrônomo e mestre em genética e biologia molecular pela Universidade Estadual de Londrina, com doutorado em agronomia pela Universidade Federal do Paraná.

A Sempre AgTech é uma empresa brasileira sediada em Chapecó, SC, que atua no melhoramento genético de plantas e criação de novas biotecnologias. A empresa está desenvolvendo uma nova tecnologia, denominada de defensivo biodirigido, para combater os percevejos marrom (Euschistus heros) e barriga-verde (Diceraeus melacanthus), pragas que atacam as lavouras de soja e milho.

Hugo Molinari, diretor da Sempre Agtech/WIN


AgriBrasilis – O que são ferramentas de edição genômica? Como podem contribuir para a produtividade agrícola? 

Hugo Molinari – Ferramentas de edição genômica são técnicas que permitem a manipulação do DNA (ácido desoxirribonucleico) de organismos vivos de forma precisa e pontual. Essa modificação pode contribuir para melhorar características como a produtividade, bem como permite o desenvolvimento de plantas com características desejáveis, como resistência à insetos-praga, tolerância a estresses ambientais e maior valor nutricional. Um exemplo dessas ferramentas é o CRISPR/Cas.

AgriBrasilis – O senhor considera que os transgênicos perderão espaço no mercado após o advento da edição genômica? Por quê?

Hugo Molinari – A edição genômica pode levar a uma redução no uso de transgênicos, já que oferece maior precisão e controle sobre as alterações genéticas. No entanto, é difícil prever se os transgênicos perderão espaço completamente, pois ambos os métodos têm suas vantagens e desvantagens.

Um ponto muito favorável para a edição genômica é a possibilidade de gerar organismos que possam ser considerados como convencionais (não transgênicos), assim economizando milhões de dólares no processo de regulamentação ao qual os transgênicos são submetidos.

AgriBrasilis – O que são e como são desenvolvidos os “defensivos biodirigidos”? Quais os custos e tempo para desenvolvimento desses produtos?

Hugo Molinari – Defensivos biodirigidos são produtos biológicos que têm como alvo organismos específicos, reduzindo os impactos ambientais e a resistência aos agroquímicos. Estão sendo desenvolvidos através de pesquisa de longa data, envolvendo conhecimento multidisciplinar.

Os biodefensivos da Sempre AgTech/WIN, por exemplo, possuem como princípios ativos o dsRNA (RNA dupla-fita), que se liga a sequências específicas de genes que se deseja silenciar.

Os custos e o tempo de desenvolvimento variam, mas geralmente são menores do que os defensivos químicos tradicionais. Além disso, são formulados com características “ecofriendly”, pois não afetam humanos, animais, polinizadores e nem o meio ambiente.

O RNA (ácido ribonucleico) é uma molécula essencial para a vida, atuando no processo de expressão gênica. Na agricultura, o RNA pode ser utilizado para silenciar genes específicos em insetos-praga, patógenos e plantas daninhas, protegendo as culturas de importância agrícola. Ainda não existem produtos comerciais a base de RNA no mundo.

AgriBrasilis – Quando esses produtos estarão disponíveis no mercado, destinados para quais culturas? 

Hugo Molinari – Temos previsão de disponibilizar estes produtos no mercado em pelo menos 3 anos.

AgriBrasilis – É possível escalonar a produção dos defensivos biodirigidos? 

Hugo Molinari – A produção de defensivos biodirigidos pode ser escalonada, mas a viabilidade depende da resistência das moléculas à degradação, não sendo algo trivial. Esforços em pesquisa estão sendo realizados para superar esse desafio.

Contamos com parceiros para desenvolver a melhor estratégia para proteger e produzir nossas formulações em larga escala com custos acessíveis e competitivos para o agro.

AgriBrasilis – Que outras pesquisas e inovações estão sendo desenvolvidas pela Sempre AgTech? Quais as parcerias com instituições públicas e privadas?

Hugo Molinari – A Sempre AgTech/WIN está investindo em diversas áreas de pesquisa e desenvolvimento. Destacam-se a edição genômica de linhagens elite de milho para o desenvolvimento de híbridos com maior capacidade de eficiência no uso de nitrogênio, a edição genômica de microrganismos para aumentar a fixação biológica de nitrogênio em plantas de milho, a transformação genética de culturas agronômicas para controle de insetos-praga e doenças de importância econômica, o uso de RNA interferente de uso tópico para controle de insetos-praga, plantas daninhas e doenças de importância agrícola, a seleção assistida via marcadores moleculares para identificação precoce de características de interesse agronômico no programa de melhoramento genético de milho, e o desenvolvimento de nanoformulações para a agricultura 4.0.

A empresa está colaborando com várias instituições públicas e privadas, incluindo a Yosen Nanotechnology, empresa brasileira especializada em desenvolvimento de produtos que unem nanotecnologia e sistemas de liberação lipídicos, além de unidades descentralizadas da Embrapa.

 

LEIA MAIS:

É questão de tempo até o Brasil ter uma AgTech unicórnio