“Consiste na manipulação da paisagem agrícola, via diversificação estratégica da vegetação, para aumentar as populações dos inimigos naturais das pragas…”
Madelaine Venzon é agrônoma pela Universidade Federal de Pelotas, mestre em fitossanidade pela Universidade Federal de Lavras, Ph.D. em biologia populacional pela University of Amsterdam e pós-doutora pela University of California.
Venzon é pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig e docente da pós-graduação em entomologia, mestrado profissionalizante em defesa sanitária vegetal e no curso de proteção de plantas da Universidade Federal de Viçosa.
A Epamig estuda estratégias diversificadas de manejo para o controle de pragas em diferentes culturas, dentre elas o café. Uma das estratégias é o controle biológico conservativo, que utiliza plantas espontâneas na atração de inimigos naturais.
AgriBrasilis – No que consiste a técnica de controle biológico conservativo? Como deve ser aplicada em grandes culturas, como a do café?
Madelaine Venzon – Consiste na manipulação da paisagem agrícola, via diversificação estratégica da vegetação, para aumentar as populações dos inimigos naturais das pragas (predadores, parasitoides e entomopatógenos) que já existem na natureza, mas em número baixo nas monoculturas.
Na cultura do café, podem ser aplicadas diversas estratégias de controle biológico conservativo*, como as descritas abaixo, desenvolvidas pela Epamig e seus parceiros.
- Uso de coberturas verdes nas entrelinhas do café, contendo trigo mourisco (Fagopyrum esculentum), crotalária (Crotalaria juncea), crambe e nabo forrageiro (Raphanus sativus L.);
- Arborização dos plantios com arbustos de erva-baleeira (Cordia verbenacea);
- Arborização dos plantios com árvores de ingá (Inga spp.);
- Arborização dos plantios com árvores de fedegoso (Senna occidentalis).
AgriBrasilis – Qual a importância de pesquisas na área de agroecologia e quais avanços para a produção agrícola?
Madelaine Venzon – A importância se dá pelo fato de se aliar a produção com a manutenção da biodiversidade, sempre respeitando o meio ambiente.
Dentre os benefícios para a produção, estão o aumento de polinizadores, do controle biológico, a diminuição da degradação dos solos, o aumento da fertilidade dos solos, diminuição de plantas invasoras, e menor dependência de insumos externos, o que gera mais lucro para o produtor.
O resultado final é um ambiente saudável para os trabalhadores, para os consumidores, através de produtos sem resíduos, e para o meio ambiente.
AgriBrasilis – O que são estratégias de agricultura climaticamente inteligente?
Madelaine Venzon – São estratégias que podem ser utilizadas pelo produtor para amenizar os impactos negativos das mudanças climáticas e também resultar em ganhos, como aumento dos serviços ecossistêmicos, como a polinização, a ciclagem de nutrientes e o controle biológico de pragas.
AgriBrasilis – Como se dá a aplicação de técnicas e pesquisas desenvolvidas na Epamig?
Madelaine Venzon – As parcerias podem ser desenvolvidas com universidades, empresas e diretamente com os produtores. As pesquisas seguem diversas etapas, iniciando em laboratórios, casas-de-vegetação, seguindo para os campos experimentais da Epamig, e, por último, unidades demonstrativas em fazendas dos produtores. Durante essas etapas os resultados vão sendo divulgados via eventos e publicações técnicas da Epamig.
AgriBrasilis – Quais os principais estudos na área de agroecologia e o que é esperado?
Madelaine Venzon – Nossos estudos se concentram em controle biológico conservativo e estamos sempre pesquisando novos arranjos de plantas multifuncionais que diminuam o impacto das pragas no café. Também trabalhamos com extratos de planta para uso como medida curativa, caso haja necessidade.
Esperamos que com o passar do tempo mais produtores estejam utilizando essas estratégias e fiquem cada vez menos dependentes de insumos externo para o manejo de pragas, e livres de agrotóxicos.
*O controle biológico conservativo, diferente do controle biológico aumentativo, não libera inimigos naturais das pragas diretamente nas plantações de café, privilegiando práticas que modifiquem a paisagem agrícola no médio-longo prazo. Isso faz com que os inimigos naturais das pragas que já existam no local aumentem suas populações e promove aumento benéfico da biodiversidade de insetos no ambiente.