Cooperativa Holambra fatura R$ 1 bi com 160 cooperados

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Publicado em: 2 de junho de 2021

Não é novidade que apesar da pandemia, o agro brasileiro continuou crescendo. Um exemplo é a Cooperativa Holambra, que pela primeira vez em sua história ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão em vendas líquidas em 2020.

Shandrus Carvalho Cooperativa Holambra

Shandrus Carvalho, Presidente Executivo

Fundada em 1960, com sua sede localizada no município de Paranapanema (SP), tem características diferentes, pois normalmente as cooperativas têm foco no número de cooperados, chegando às vezes aos milhares, já a Holambra tem cerca de 160 cooperados, somando mais de 70 mil hectares de área explorada.

Desde junho de 2020 a cooperativa conta com um novo Presidente Executivo, Shandrus Hohne de Carvalho, 46, graduado em Comunicação Social em 1997 pela PUC de Campinas, com MBA em Marketing pela FGV e Certificação em Gerenciamento de Estratégia de Mercado pela Universidade de Nova York. Entre 2011 e 2014, assumiu a direção de Marketing Global da Bosch, divisão de Ferramentas para Jardim e Irrigação nos EUA. Posteriormente atuou como Diretor de Marketing América Latina da Bosch até 2017. Entre 2017 e 2020, Shandrus foi Diretor de Marketing e Inovação da multinacional FMC Agricultural Solutions. 

A AgriBrasilis o convidou para compartilhar a história e perspectivas da cooperativa. 


AgriBrasilis – Qual a origem da Cooperativa Agro-Industrial Holambra e qual a área e atividades de atuação? 

Shandrus de Carvalho – Ela tem origem me 1960 com a vinda dos holandeses para cá, iniciativa dos governos brasileiro e holandês, no pós guerra, em que Europa passava por dificuldades, para dar uma oportunidade para pessoas que queriam imigrar da Europa para outras regiões, e vieram então alguns navios da Holanda para cá, trazendo imigrantes com o sonho e a promessa de ter oportunidade de emprego, de ter terra para plantar. Essa região foi escolhida porque a terra era mais barata, era um lugar muito pobre e uma região seca, mas era o que se podia adquirir, pois era financiado pelo governo, mas tinha um custo. Precisaram começar o negócio do zero, abrindo as áreas na enxada, muitos trouxeram no navio o que tinham na Holanda, sacos de semente, pequenos tratores, ferramentas.

Por ser região de clima pouco favorável muitos quebraram e voltaram para a Holanda. Os que ficaram começaram a investir na década de 1980/90 em irrigação, para poder produzir e garantir que as áreas fossem mais produtivas. Hoje abrange média de 160 cooperados, entre 800 e 900 ha, com a irrigação fazemos até 3 safras no ano. As principais culturas são soja, milho, trigo, algodão, cevada. Também frutas, cuja produção já foi maior no passado, mas ainda assim tem bastante frutas, pêssego, atemoia- que é exportada para fora do país, e está crescendo a área de citros, já produz em torno de 4 milhões de caixas por ano.

Em dezembro fizemos 60 anos, e estamos trabalhando para estrutura os próximos 60.

AgriBrasilis-A Cooperativa anunciou um projeto de incentivo para produção de algodão. Este projeto já está sendo implementado e no que ele consiste? 

Shandrus de Carvalho – O projeto chama se Ouro Branco, por que é um cultivo muito bonito e traz um resultado importante para a cooperativa. O algodão na região, diferente do Mato Grosso e Bahia, é plantado na mesma janela que a soja e milho, então o produtor compara a rentabilidade entre as três culturas. A rentabilidade do algodão é equivalente à da soja e milho juntas, e como os preços estão ótimos das commodities, a área de algodão flutua muito de ano a ano, então vimos a oportunidade de fomentar mais essa cultura para ter regularidade de área plantada, gerando benefício para o cooperado, haja visto que temos duas usinas de beneficiamento de algodão, super modernas, top de linha.

A demanda pelo algodão brasileiro vem aumentando, a demanda na China vem aumentando, e pela qualidade temos potencial de fazer um excelente negócio e exportar o algodão Holambra. O algodão da nossa região não perde nada para o da Bahia e Mato Grosso, em qualidade em fibra, comprimento. 98% é nível exportação, consegue-se preços ótimos, também é o primeiro a ser colhido [por volta de abril], o dos estados já citados é mais pra frente, em junho, julho. 

Esse projeto começou esse ano, para plantio da safra 21/22 e seguirá. Ele visa algumas áreas importantes para os produtores, como assistência técnica, parcerias para colheita – que envolve maquinários específicos e caros em que o produtor não quer investir, melhor qualidade na execução do beneficiamento e redução de custos. Outra coisa é melhorara o uso do que sobra, caroço e fibrilha, nunca trabalhou bem a venda do caroço, e agora está vendendo a preços bons e retornando para o cooperado. Estamos também construindo ferramentas de crédito, viabilizando mais liquidez, ao invés de esperar a comercialização.

Esperamos garantir em alguns anos o plantio de 8 a15 mil ha de algodão todo ano.

AgriBrasilis – Como a Cooperativa está lidando com a transformação digital?

Shandrus de Carvalho – Esse é um ponto relevante na estratégia da cooperativa daqui pra frente. Não é fácil, digitalização passa por uma série de fatores que devem ser levados em consideração; a empresa precisa estar prepara para isso, precisa capacitar seus funcionários, ter gente que conhece dessa área de tecnologia da informação e negócios, operação, e alguém para liderar isso.

Estamos pensando em construir uma plataforma de CRM, para analisar os dados dos cooperados e dados de negócios que vem da cooperativa, transformar isso em uma plataforma de gestão para o cooperado, melhorar a nossa comunicação e as informações da cooperativa e suas iniciativas para o cooperado. O início da transformação digital passa por construir uma base, o alicerce, coisas mais básicas, até pra ir criando uma identidade, uma cultura com as ferramentas digitais, e no futuro as transações começam a ser mais digitais, por exemplo assistência técnica, poderia ter informações que alimentam o banco de dados, faz toda a análise e isso vai na palma da mão do cooperado, do gerente da fazenda, para tomar decisão, inclusive para fazer compra de insumos.

 AgriBrasilis – Quais as perspectivas para a cooperativa em 2021? 

Shandrus de Carvalho – As melhores possíveis. Temos grande preocupação com a pandemia, que apesar de não ter afetado o resultado do negócio, nossa preocupação é com as pessoas: com os cooperados, com os funcionários nas fazendas. 

Até o fim de abril o resultado tem sido excelente, a perspectiva é ter o maior crescimento da história. Em 2019, faturou R$ 980 milhões e esse ano deve chegar a R$1,7 bilhão, está quase dobrando de tamanho, com muito pé no chão, planejamento e trabalho. Agora o desafio é fazer com que isso seja sustentável, e para isso temos um planejamento claro de 5 anos.

A produtividade de soja foi excelente, média de 91 sacos/há, e estamos concluindo agora a safra de milho e sorgo, depois vêm as culturas de inverno. Estamos um pouco preocupados com a seca, porque na sequência vem a cultura de feijão que é muito importante e precisa de muita água. Mesmo sendo irrigado precisa de água para encher os açudes. Mas a perspectiva é boa.