Gestão de riscos no Agronegócio brasileiro

“O agricultor produz com excelência, mas peca na gestão”

José Luís Bassani é coordenador de projetos educacionais e de sucesso do aluno na Agrinvest Commodities e consultor executivo da Finfarms.

Bassani é formado em economia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, com MBA pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP.

José Luís Bassani, coordenador na Agrinvest Commodities


AgriBrasilis – O que o senhor quis dizer com “se não tem seguro da produção, é perda de capital na certa”?

José Bassani – Quando ocorre algum evento climático extremo, por consequência haverá perdas na produção agrícola. Se o agricultor não tiver seguro para indenizar ao menos o custo de produção, o capital investido na lavoura irá se perder.

AgriBrasilis – O que envolve a gestão de riscos no agronegócio?

José Bassani – A gestão de riscos envolve uma série de providências que precisam ser adotadas para mitigar perdas financeiras.

Além dos seguros rurais, que podem proteger o patrimônio, a renda e rentabilidade do produtor, é preciso: ter atenção com a gestão do fluxo de caixa; adotar estratégias de proteção contra riscos da oscilação dos preços das commodities, como mercado futuro, a termo e opções; mapear os riscos ambientais, trabalhistas, operacionais, legais e outros que podem provocar paralisação das atividades, gerando perda de renda.

AgriBrasilis – Quais são os desafios relativos à análise de risco de crédito no agro? O que os agricultores precisam saber?

José Bassani – O agricultor precisa ter consciência do nível do seu endividamento. Um bom índice de monitoramento é avaliar o quanto ele está alavancado com relação ao resultado operacional, e o índice aceitável apresenta um valor abaixo de 3,5.

Quando os agricultores vão buscar crédito, eles têm o que chamamos na economia comportamental de viés do otimismo excessivo. Isso significa que as projeções de renda serão sempre positivas e crescentes, por exemplo. Isso não condiz com a realidade: vivemos de ciclos econômicos de altas e baixas. É difícil prever isso, mas é preciso considerar.

A assimetria de informação do agro, necessária para que seja feita uma análise de crédito segura por parte dos financiadores, diminuiu, mas ainda é grande.

AgriBrasilis – Quais os principais erros de gestão financeira cometidos pelos agricultores?

José Bassani – Os principais erros são a omissão na gestão do fluxo de caixa e a dificuldade de separar as finanças pessoais com as do negócio. O produtor tem que ser protagonista na sua gestão e tomada de decisão, e não terceirizar, deixar que outros decidam por ele.

O agricultor produz com excelência, mas peca na gestão, principalmente quando vai vender a produção. Por isso, buscar conhecimentos sobre o gerenciamento de riscos é importante para a continuidade dos negócios.

AgriBrasilis – De que formas o crédito pode ser utilizado como ferramenta para crescimento e proteção do patrimônio no agro?

José Bassani – Quando vai proporcionar aumento de renda na atividade. Por exemplo: para iniciar uma nova atividade agropecuária, para a aquisição de um equipamento que vai gerar maior eficiência e renda, etc. Esses são fatores que contribuem para um maior faturamento, e se o faturamento é bem gerenciado, haverá crescimento do patrimônio.

Sobre a proteção do patrimônio através do crédito, se a terra é hipotecada, o agricultor deve contratar um seguro que protege todas as instalações vinculadas naquela garantia.

AgriBrasilis – Os agricultores enfrentam restrições de crédito? Por que 27,4% dos agricultores estão devendo?

José Bassani – Existe excesso de otimismo quando se contrata crédito, muitas vezes baseando-se na intuição, nas emoções, sem avaliar a real situação. Por exemplo, o agricultor, ao achar que os preços das commodities continuariam a subir, pode ter tomado decisões precipitadas. Um exemplo claro é a decisão de trocar de máquina quando não precisava.

A falta de gestão do fluxo de caixa também é um motivador desse percentual. O descasamento entre entradas e saídas em meio a um vencimento acarreta atrasos, e por consequência inadimplência.

AgriBrasilis – Como o produtor rural deve gerenciar o fluxo de caixa de sua fazenda, visando um negócio mais eficiente e sustentável?

José Bassani – É preciso ter consistência e analisar o fluxo com frequência, conhecer todas as despesas possíveis que envolvem o negócio, estabelecer regras e orçamentos, definir quanto vai retirar de pro labore para manutenção familiar, e mensurar o resultado final, se deu lucro ou prejuízo. Quando der lucro, é necessário estabelecer quanto se destinará para reinvestir no negócio. O agricultor precisa ter uma visão empreendedora sempre.

 

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