<\/p>\n

Com o advento da tecnologia em benef\u00edcio das atividades agr\u00edcolas e do crescimento sustentado do segmento de biodefensivos no mundo, e em particular no Brasil, aumentou a possibilidade do agricultor adotar t\u00e9cnicas preconizadas no sistema de Manejo Ecol\u00f3gico de Pragas. Este sistema evoluiu do sistema de Manejo Integrado de Pragas (MIP) por enfocar mais em t\u00e1ticas ecol\u00f3gicas, ancorando-se no forte setor de biodefensivos agregado por bioestimulantes e na restaura\u00e7\u00e3o da microbiologia do solo. Esses s\u00e3o fatores inestim\u00e1veis para a agricultura sustent\u00e1vel, saud\u00e1vel, produtiva e sob primados ecol\u00f3gicos t\u00e3o desejados pela humanidade. \u00c9 claro que o equil\u00edbrio na aduba\u00e7\u00e3o joga, ao mesmo tempo, no intuito de aumentar ou manter a produtividade j\u00e1 impl\u00edcita na variedade e evitar surto de pragas; enquanto os defensivos qu\u00edmicos, biodefensivos e bioestimulantes, jogam na prote\u00e7\u00e3o direta e indireta da produtividade alcan\u00e7ada pelos primeiros, gerando todos, custos de produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Os quatro princ\u00edpios do Manejo Ecol\u00f3gico de Pragas (MEP) geraram evolu\u00e7\u00e3o no sistema de MIP, e por qu\u00ea? Porque o MIP, apesar de ter o seu conceito registrado como permanente na FAO, \u00e9 entendido por muitos como uma jun\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicas. Precisava-se de uma pegada mais forte em t\u00e1ticas ecol\u00f3gicas para torn\u00e1-las mais s\u00e9rias na pr\u00e1tica. Em primeiro lugar, n\u00e3o \u00e9 apenas jun\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicas, pois a palavra integrada sup\u00f5e uma t\u00e9cnica que se harmoniza com outra. Por\u00e9m, o foco tinha que ser maior em t\u00e1ticas ecol\u00f3gicas e, portanto, nos propusemos em emitir quatro princ\u00edpios b\u00e1sicos para direcionar melhor as inten\u00e7\u00f5es – tornando o sistema mais ecol\u00f3gico:<\/p>\n

1. Toda praga tem inimigos naturais: prote\u00e7\u00e3o e aumento \u00e9 o foco do MEP;<\/p>\n

2. Toda cultura tolera pragas: evitar aplica\u00e7\u00f5es preventivas de toler\u00e2ncia zero;<\/p>\n

3. Todo controle pode ser seletivo de alguma forma: seletividade fisiol\u00f3gica e ecol\u00f3gica;<\/p>\n

4. Todo ambiente pode ser manipulado contra a praga e a favor dos inimigos naturais.<\/p>\n

Portanto, no MEP, a \u00eanfase se d\u00e1 nos princ\u00edpios 1 e 4, sendo o segundo de suporte – burocr\u00e1tico, mas importante – pois \u00e9 por ele que conseguimos adotar o chamado \u201cn\u00edvel de n\u00e3o-a\u00e7\u00e3o\u201d. Ou seja, de acordo com a popula\u00e7\u00e3o do predador ou parasit\u00f3ide chave da praga alvo do manejo, podemos decidir aplicar ou n\u00e3o o defensivo qu\u00edmico ou biol\u00f3gico, dando prefer\u00eancia por este \u00faltimo no agroneg\u00f3cio sustent\u00e1vel. Por este segundo princ\u00edpio, acabamos por dar maior import\u00e2ncia ao inimigo de ocorr\u00eancia natural (primeiro princ\u00edpio) e o biodefensivo, que \u00e9 o inimigo natural artificial.<\/p>\n

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Toler\u00e2ncia zero ao Greening<\/strong><\/p>\n

Considerando a situa\u00e7\u00e3o dos Citros no Brasil – um exemplo de cultura em situa\u00e7\u00e3o extremamente dif\u00edcil perante esta doen\u00e7a bacteriana e um tremendo desafio para o MEP ser desempenhado em sua plenitude – apresentaremos possibilidades de implementar a t\u00e9cnica apesar dos obst\u00e1culos aparentemente intranspon\u00edveis ao MEP.<\/p>\n

A excelente produtividade do agroneg\u00f3cio citros est\u00e1 garantida nesta safra, apesar da seca e \u00e0 custa de calend\u00e1rios fixos de pulveriza\u00e7\u00f5es de inseticidas de larga a\u00e7\u00e3o para toler\u00e2ncia zero – a psil\u00eddeo Diaphorina citri<\/em> para evitar a bact\u00e9ria Liberibacter asiaticus<\/em>. Mesmo assim, o parque citr\u00edcola foi reduzido em 20% pela doen\u00e7a. Ao mesmo tempo, h\u00e1 uma campanha para tornar a citricultura mais sustent\u00e1vel. A sugest\u00e3o que fazemos de in\u00edcio \u00e9 adotar o sistema de dois manejos: Manejo do Psil\u00eddeo e o Manejo Ecol\u00f3gico das outras pragas. Para isso, uma provid\u00eancia urgente \u00e9 resgatar a fun\u00e7\u00e3o do Inspetor de Pragas (Pragueiro), para manter a inspe\u00e7\u00e3o regular do psil\u00eddeo e das outras pragas dos citros nos pomares.<\/p>\n

Tamb\u00e9m o manejo de resist\u00eancia deve ser levado mais a s\u00e9rio, tanto do psil\u00eddeo como das outras pragas – principalmente do \u00e1caro da leprose dos citros, Brevipalpus yothersi<\/em>. Para que o primeiro e o quarto princ\u00edpios sejam de maior peso no MEP, \u00e9 preciso aliviar a carga de defensivos qu\u00edmicos de alta toxicidade aos inimigos naturais no Manejo do Psil\u00eddeo. Deve-se, pelo menos no calend\u00e1rio mensal, alternar os 12 produtos em grupos qu\u00edmicos como modos de a\u00e7\u00e3o diferentes (se poss\u00edvel). Incluir biodefensivos e reguladores de crescimentos aos poucos, com garantia de controle [do alvo biol\u00f3gico] de pelo menos 80%, como s\u00e3o os qu\u00edmicos. Com os estudos do Fundecitrus j\u00e1 \u00e9 poss\u00edvel, para novos pomares, utilizar a t\u00e9cnica de Faixa de Borda (Cultura Isca). Ela consiste em 14 ruas pulverizadas com o trator, sendo estas necess\u00e1rias para cercar os psil\u00eddeos que iriam adentrar ao pomar. Estas 14 ruas agem como uma barreira aos psil\u00eddeos, e onde seriam feitas as 12 pulveriza\u00e7\u00f5es de qu\u00edmicos anuais – uma aplica\u00e7\u00e3o por m\u00eas -, quinzenal ou semanal dependendo da regi\u00e3o e preservando a \u00e1rea central, onde pode ser feito o MEP pleno, para pomares m\u00e9dios ou superiores.<\/p>\n

Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s t\u00e9cnicas ecol\u00f3gicas em uso, em um pomar de tangerina sem sementes, isolado de outras planta\u00e7\u00f5es de citros – com cercas-vivas nos contornos de grupo de talh\u00f5es e quebra-ventos em volta de talh\u00f5es unit\u00e1rios – existe o psil\u00eddeo controlado. Por\u00e9m, utilizando manejo fisiol\u00f3gico para produ\u00e7\u00e3o normal, apesar de algumas plantas sintom\u00e1ticas de greening, com aplica\u00e7\u00e3o constante de composto de microrganismos ao solo e equil\u00edbrio nutricional de adubos nitrogenados, realizado o MEP.<\/p>\n

Duas t\u00e9cnicas ecol\u00f3gicas j\u00e1 s\u00e3o reais e efetivas:<\/p>\n

1. Libera\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica da vespinha, Trichogramma pretiosum<\/em>, parasita de ovos do lepid\u00f3ptero Bicho-fur\u00e3o Gymnandrosoma<\/em> aurantiana<\/em>, via Drone. Esta libera\u00e7\u00e3o \u00e9 feita de tal forma que as vespinhas emergem de onde ca\u00edram e procuram um ovo isolado colocado em frutas isoladas, onde iriam penetrar e s\u00f3 aparecer na colheita quando algu\u00e9m, ao descascar, se deparasse com a lagarta entre os gomos. Muitas v\u00e3o se perder. A evolu\u00e7\u00e3o desta t\u00e9cnica est\u00e1 na esp\u00e9cie, sendo estudada na ESALQ\/USP e podendo passar de pretiosum<\/em> para atopovirilia<\/em>, mais eficiente ainda.<\/p>\n

2. Controle de Moscas-das-frutas Ceratitis capitata<\/em> por atra\u00e7\u00e3o massal via subst\u00e2ncias nutricionais de forte poder atrativo de nome comercial CERATRAP. A implementa\u00e7\u00e3o parece dif\u00edcil, mas os benef\u00edcios superam o esfor\u00e7o, ao meu ver.
\nS\u00e3o instaladas de 80 a 100 armadilhas por hectare e, depois, a subst\u00e2ncia \u00e9 apenas reposta para continuar na atra\u00e7\u00e3o das moscas e evitando que elas ataquem as frutas. \u00c9 um controle ambientalmente amig\u00e1vel. Outro controle biol\u00f3gico a ser aplicado sistematicamente contra cochonilhas, moscas brancas e \u00e1caros com alta efici\u00eancia, s\u00e3o os biodefensivos \u00e0 base de fungos ben\u00e9ficos Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea<\/em>, com destaque para este \u00faltimo que est\u00e1 bem-sucedido no mercado.<\/p>\n

Finalmente, o bom e velho BT, Bacillus thuringiensis<\/em>, bem utilizado para as lagartas, completam o MEP dos citros, mesmo tendo \u00e0 frente a terr\u00edvel barreira do Greening – que envolve ainda a toler\u00e2ncia zero ao vetor da bact\u00e9ria do greening, devastadora doen\u00e7a que amea\u00e7a ainda os pomares de citros brasileiros.<\/p>\n

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Notas:
\n\u00b9 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria (Embrapa – Meio Ambiente)
\n\u00b2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria (Embrapa Cerrados) \/ Dunhan Trimmer<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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