Fernando Oreja<\/strong>, especialista em plantas daninhas<\/p><\/div>\n
\nAgriBrasilis \u2013 Por que a popula\u00e7\u00e3o de plantas daninhas resistentes na Argentina est\u00e1 aumentando?<\/strong><\/p>\nFernando Oreja \u2013 <\/strong>A popula\u00e7\u00e3o de plantas daninhas do pa\u00eds est\u00e1 aumentando devido ao uso repetido dos mesmos herbicidas. A mudan\u00e7a no sistema de semeadura, do preparo convencional para o sistema de plantio, eliminou o controle mec\u00e2nico de plantas daninhas e seu controle passou a depender exclusivamente de herbicidas. Al\u00e9m disso, o plantio direto foi poss\u00edvel gra\u00e7as \u00e0 ado\u00e7\u00e3o de culturas tolerantes a herbicidas, que permitiram a aplica\u00e7\u00e3o dos produtos quantas vezes fosse necess\u00e1rio,\u00a0 mesmo com a cultura estabelecida. Isto aumentou a press\u00e3o de sele\u00e7\u00e3o para os herbicidas, principalmente no caso do glifosato.<\/p>\nAgriBrasilis \u2013 Quais s\u00e3o as perspectivas para a resist\u00eancia de plantas daninhas no pa\u00eds? Quantos casos de resist\u00eancia m\u00faltipla existem?<\/strong><\/p>\nFernando Oreja –<\/strong> Na Argentina, at\u00e9 o momento em que publicamos nossa \u00faltima pesquisa, existem 43 popula\u00e7\u00f5es de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, que pertencem a 24 esp\u00e9cies diferentes. Dessas 43 popula\u00e7\u00f5es, existem 9 popula\u00e7\u00f5es com resist\u00eancia m\u00faltipla, sendo a grande maioria resistente ao glifosato.<\/p>\nO herbicida com mais casos de resist\u00eancia \u00e9 de longe o glifosato, com 92% das popula\u00e7\u00f5es resistentes, seguido pelos inibidores de ALS, com 29%, e aux\u00ednicos, com 17%. Apenas 8% das popula\u00e7\u00f5es s\u00e3o resistentes aos inibidores de ACCase, e 4% aos PPOs.<\/p>\n
AgriBrasilis – O glifosato \u00e9 o herbicida com mais casos de resist\u00eancia. As empresas agroqu\u00edmicas forneceram orienta\u00e7\u00f5es sobre a aplica\u00e7\u00e3o adequada do produto?<\/strong><\/p>\nFernando Oreja \u2013 <\/strong>Sim. No come\u00e7o, considerava-se que esse herbicida apresentava uma baixa probabilidade de aparecimento de popula\u00e7\u00f5es resistentes ante outros herbicidas, mas uma vez que come\u00e7aram a aparecer casos de resist\u00eancia, as empresas de pesticidas come\u00e7aram a fazer recomenda\u00e7\u00f5es para reduzir o surgimento de novas popula\u00e7\u00f5es resistentes. Por exemplo, algumas dessas recomenda\u00e7\u00f5es s\u00e3o: aplicar a dose comercial do herbicida, com o tamanho de planta sugerido nos r\u00f3tulos dos produtos, utilizar \u00e1gua de qualidade adequada, e evitar misturas de herbicidas com antagonismo, etc.<\/p>\nAgriBrasilis \u2013 Quais plantas daninhas s\u00e3o mais preocupantes e em quais culturas? Quais regi\u00f5es da Argentina s\u00e3o as mais afetadas?<\/strong><\/p>\nFernando Oreja \u2013 <\/strong>As plantas daninhas mais preocupantes s\u00e3o os carurus, ou Amaranthus hybridus<\/em> e Amaranthus palmeri<\/em>, seguidas pelo azev\u00e9m perene e anual (Lolium perene<\/em> e Lolium multiflorum<\/em>) e esp\u00e9cies pertencentes \u00e0 fam\u00edlia Brassicaceae, como Raphanus sativus<\/em>, Brassica rapa<\/em>, Brassica napus<\/em> e Hirschfeldia incana<\/em>. A buva (Conyza sumatrensis<\/em> e Conyza bonariensis<\/em>) tamb\u00e9m \u00e9 uma planta daninha importante.<\/p>\nA cultura com maior n\u00famero de popula\u00e7\u00f5es resistentes \u00e9 a soja, com 74% das esp\u00e9cies, com muita resist\u00eancia ao glifosato e aos inibidores de ALS, seguida pelo milho, com 40% de resist\u00eancia ao glifosato e aos inibidores de ALS. O trigo \u00e9 a terceira cultura com maior n\u00famero de popula\u00e7\u00f5es, com 30% (maior incid\u00eancia de resist\u00eancia dos inibidores de ACCase).<\/p>\n
As regi\u00f5es mais afetadas do pa\u00eds s\u00e3o a Zona Central e Zona Sul das prov\u00edncias de Santa F\u00e9 e C\u00f3rdoba, onde predominam as esp\u00e9cies de plantas daninhas de ver\u00e3o, e a zona sul da prov\u00edncia de Buenos Aires, t\u00edpica \u00e1rea de trigo, onde predominam as esp\u00e9cies de inverno.<\/p>\n
AgriBrasilis \u2013 Que medidas podem mitigar o problema das plantas daninhas resistentes? O \u201cManejo Integrado\u201d \u00e9 a \u00fanica resposta?<\/strong><\/p>\nFernando Oreja \u2013 <\/strong>Sim. Como o aparecimento de plantas daninhas resistentes \u00e9 um fen\u00f4meno evolutivo, retirar o fator que est\u00e1 selecionando os indiv\u00edduos (nesse caso, o herbicida) \u00e9 a melhor forma de reduzir o crescimento dessas popula\u00e7\u00f5es.<\/p>\nRetirar o herbicida do sistema agr\u00edcola pode n\u00e3o ser uma tarefa simples, e para isso consideramos que devem ser adotadas medidas de gest\u00e3o integrada, que considerem todas as op\u00e7\u00f5es de controle: dist\u00e2ncia entre linhas, densidade de plantio, plantio de gen\u00f3tipos mais competitivos, modifica\u00e7\u00e3o de datas de semeadura, rota\u00e7\u00e3o de culturas, ado\u00e7\u00e3o de culturas de cobertura, a rota\u00e7\u00e3o de herbicidas com diferentes modos de a\u00e7\u00e3o, combina\u00e7\u00e3o de herbicidas residuais e de contato, uso de doses comerciais de herbicidas e com plantas de tamanho adequado, utiliza\u00e7\u00e3o do controle mec\u00e2nico quando poss\u00edvel, etc.<\/p>\n
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