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Fernando Ramirez-Mu\u00f1oz<\/strong>, pesquisador da Universidade Nacional da Costa Rica<\/p><\/div>\n AgriBrasilis – Porqu\u00ea proibir os pesticidas na Costa Rica?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz – <\/strong>Al\u00e9m da elevada utiliza\u00e7\u00e3o de pesticidas na Costa Rica, certos pesticidas j\u00e1 proibidos em outros pa\u00edses devido ao seu elevado perigo para a sa\u00fade e o ambiente continuam a ser utilizados.<\/p>\n De acordo com o parecer da ONU, deveria ser iniciada uma retirada de pesticidas, especialmente aqueles considerados Altamente Perigosos, por causarem efeitos graves e irrevers\u00edveis no longo prazo. Existem pesticidas que continuam a causar muitos problemas de contamina\u00e7\u00e3o nas fontes de \u00e1gua pot\u00e1vel: este foi o caso do bromacil, por exemplo, que j\u00e1 est\u00e1 proibido por esse motivo, depois de muitos anos de espera pela sua retirada; tamb\u00e9m \u00e9 o caso do clorotalonil, etoprof\u00f3s, glifosato, paraquate, etc.<\/p>\n AgriBrasilis – Voc\u00ea considera alarmante o uso de agrot\u00f3xicos no pa\u00eds?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz \u2013 <\/strong>Sim, principalmente em algumas culturas como hortali\u00e7as, banana e abacaxi. O consumo aumenta a cada d\u00e9cada, e a intensidade do uso se acelera, causando muitos problemas aos vizinhos das planta\u00e7\u00f5es que utilizam esses produtos. A biodiversidade, fonte de divisas para o pa\u00eds devido \u00e0 atra\u00e7\u00e3o de turistas, \u00e9 reduzida e afetada pelo uso intensivo de agrot\u00f3xicos.<\/p>\n Em rela\u00e7\u00e3o aos herbicidas, por exemplo, a Costa Rica possui sete esp\u00e9cies de plantas consideradas daninhas que desenvolveram resist\u00eancia a diversos herbicidas, em diversas culturas. Os demais pa\u00edses da Am\u00e9rica Central possuem apenas uma esp\u00e9cie desse tipo cada, o que indica a alta press\u00e3o de sele\u00e7\u00e3o de resist\u00eancia devido ao uso frequente de herbicidas.<\/p>\n AgriBrasilis – Por que faltam novas mol\u00e9culas?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz – <\/strong>Na Costa Rica existe um sistema de registo muito robusto, que leva em conta os aspectos sanit\u00e1rios e ambientais, e n\u00e3o apenas a efic\u00e1cia agr\u00edcola que os produtos apresentam para o controle de pragas. Por isso, muitas mol\u00e9culas novas que apresentam caracter\u00edsticas de alta persist\u00eancia ou toxicidade n\u00e3o s\u00e3o registradas, apesar de serem de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m existe falta de pessoal para realizar avalia\u00e7\u00f5es de risco ambiental dessas subst\u00e2ncias, al\u00e9m de uma falta de interesse por parte da ind\u00fastria qu\u00edmica em registar pesticidas em culturas que n\u00e3o geram lucros elevados.<\/p>\n AgriBrasilis – Os pesticidas vendidos atualmente s\u00e3o obsoletos?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz – <\/strong>Nem todos. Existe uma vasta gama de princ\u00edpios ativos, sendo que alguns s\u00e3o muito antigos, como acontece com o 2,4-D, organofosforados e at\u00e9 organoclorados, e subst\u00e2ncias contendo ars\u00eanico, com reconhecidas propriedades cancer\u00edgenas. Existem tamb\u00e9m alguns agrot\u00f3xicos de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o que j\u00e1 est\u00e3o apresentando problemas de resist\u00eancia.<\/p>\n Fonte: Instituto Regional de Estudos Sobre Subst\u00e2ncias T\u00f3xicas da Costa Rica<\/p><\/div>\n AgriBrasilis – 80% dos agrot\u00f3xicos utilizados no pa\u00eds s\u00e3o considerados \u201caltamente perigosos\u201d. Por que isso ocorre? Quais s\u00e3o as subst\u00e2ncias mais utilizadas?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz \u2013 <\/strong>Essa informa\u00e7\u00e3o \u00e9 correta: 80% dos pesticidas utilizados na Costa Rica s\u00e3o considerados \u201caltamente perigosos\u201d. Algumas culturas como a banana, com grandes \u00e1reas e utiliza\u00e7\u00e3o muito elevada, utilizam mancozebe, clorotalonil, paraquate, glifosato, e outros produtos que s\u00e3o considerados \u201caltamente perigosos\u201d.<\/p>\n O mancozebe, por exemplo, representa 40% do uso total de pesticidas na Costa Rica, e \u00e9 aplicado principalmente por via a\u00e9rea em planta\u00e7\u00f5es (50.000 ha) principalmente de banana e banana-da-terra.<\/p>\n O glifosato \u00e9 utilizado sem controle em lavouras, \u00e1reas urbanas, beiras de estradas, canais e estradas. Um caso especial \u00e9 o do paraquate, usado principalmente por pequenos agricultores (sem qualquer tipo de prote\u00e7\u00e3o) e em planta\u00e7\u00f5es de abacaxi, em doses assustadoramente altas: at\u00e9 20 litros\/ha de paraquate 20%, ou seja, 4 kg\/ha – um pecado ambiental.<\/p>\n AgriBrasilis \u2013 O senhor poderia comentar sobre o uso do glifosato e suas alternativas?<\/strong><\/p>\n Ramirez-Mu\u00f1oz – <\/strong>O glifosato \u00e9 o principal herbicida utilizado no pa\u00eds, e o segundo pesticida mais utilizado em termos de quantidade. \u00c9 utilizado em todas as culturas (para prepara\u00e7\u00e3o do terreno antes da semeadura) e em culturas perenes v\u00e1rias vezes (at\u00e9 8 vezes por ano); tamb\u00e9m em \u00e1reas urbanas, quintais, para secar cana-de-a\u00e7\u00facar, nas margens de oleodutos e ferrovias, para limpar terrenos baldios, etc.<\/p>\n Existem muitas alternativas ao glifosato, para as mais diversas situa\u00e7\u00f5es. Troc\u00e1-lo por outro herbicida n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica op\u00e7\u00e3o. A agroecologia, por exemplo, \u00e9 vista como elemento-chave para a mudan\u00e7a do sistema produtivo. N\u00e3o podemos continuar a produzir alimentos \u00e0 base de produtos altamente t\u00f3xicos e perigosos, que contaminam importantes recursos, como o solo, o ar, os trabalhadores agr\u00edcolas, os animais, etc.<\/p>\n
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