Oswaldo Ribeiro<\/strong>, presidente da Acrimat<\/p><\/div>\n
\nAgriBrasilis – O produtor n\u00e3o determina os pre\u00e7os da arroba do boi. Como esse valor \u00e9 estipulado? <\/strong><\/p>\nOswaldo Ribeiro –<\/strong> Infelizmente o produtor de gado n\u00e3o consegue determinar o valor do seu produto. Em qualquer com\u00e9rcio ou ind\u00fastria, quando voc\u00ea faz suas contas, voc\u00ea tem seus custos e sua margem de lucro, e ent\u00e3o voc\u00ea determina o seu pre\u00e7o final. A pecu\u00e1ria \u00e9 totalmente diferente, j\u00e1 que o pecuarista n\u00e3o consegue determinar o pre\u00e7o.<\/p>\nO pecuarista vai ao frigor\u00edfico e oferece seus animais. O que determina o pre\u00e7o \u00e9 o frigor\u00edfico e a sua escala de abate, al\u00e9m da lei da oferta e demanda. Isso \u00e9 uma situa\u00e7\u00e3o ruim, porque voc\u00ea nunca pode programar seus custos.<\/p>\n
Se a venda for acarretar em preju\u00edzo, mesmo assim o produtor tem que vender. Os confinadores sofrem mais ainda: se voc\u00ea n\u00e3o tem um pasto, tem que lidar com o animal na hora. O confinador n\u00e3o pode passar nem dois ou tr\u00eas dias com o animal esperando. O boi confinado \u00e9 como uma fruta madura, que deve ser colhida e vendida na hora. Caso se espere apenas dois ou tr\u00eas dias, o produtor perde muito dinheiro, pois o custo de manuten\u00e7\u00e3o do boi no confinamento \u00e9 enorme. Infelizmente o produtor fica ref\u00e9m dos frigor\u00edficos.<\/p>\n
Outro ponto que vale lembrar \u00e9 que n\u00e3o \u00e9 o produtor que determina o pre\u00e7o final do produto que vai para as prateleiras dos mercados. Recebemos muitas perguntas sobre a raz\u00e3o do aumento ou redu\u00e7\u00e3o no pre\u00e7o da carne, mas isso \u00e9 algo que n\u00e3o podemos definir. O frigor\u00edfico determina o pre\u00e7o da arroba e depois o varejo coloca o pre\u00e7o como bem entende, de acordo com a sua necessidade – promo\u00e7\u00f5es, pre\u00e7os maiores para carnes premium<\/em>, etc.<\/p>\nQuando vendemos o animal, n\u00e3o sabemos se a carne vai pra China, ou se vai para um a\u00e7ougue premium<\/em>. A gente s\u00f3 entrega o material pronto para ser abatido e depois eles fazem o que querem.<\/p>\nAgriBrasilis – Essa baixa dos pre\u00e7os n\u00e3o \u00e9 parte do ciclo pecu\u00e1rio normal?<\/strong><\/p>\nOswaldo Ribeiro –<\/strong> O pre\u00e7o tamb\u00e9m est\u00e1 relacionado ao ciclo pecu\u00e1rio, mas o pecuarista sabe disso e sempre esteve preparado nesse sentido.<\/p>\nPrincipalmente nessa \u00e9poca em que estamos, de muita incerta financeira e econ\u00f4mica, de inseguran\u00e7a jur\u00eddica no campo, o pecuarista est\u00e1 com medo de investir, de comprar mais animais, de aumentar sua propriedade, de aumentar seus custos. Ent\u00e3o o pecuarista fica em um ritmo de espera, e essa crise vem durando quase dois anos.<\/p>\n
Al\u00e9m disso, os pre\u00e7os da arroba n\u00e3o reagem. Acreditamos que a arroba tenha finalmente chegado no fundo do po\u00e7o e a tend\u00eancia \u00e9 que ocorra um certo \u201crefluxo\u201d. Pode ocorrer um aumento pequeno at\u00e9 o final do ano, pelo menos at\u00e9 janeiro, quando as festas de fim de ano costumam acarretar em um aumento no consumo de carne. Ficamos na expectativa dessa incerteza nacional, que est\u00e1 gerando uma inseguran\u00e7a para os pecuaristas, que precisam investir pensando no longo prazo. Os pecuaristas precisam se programar, mas n\u00e3o est\u00e3o conseguindo.<\/p>\n
AgriBrasilis – Por que os pecuaristas est\u00e3o “pedindo socorro\u201d?<\/strong><\/p>\nOswaldo Ribeiro –<\/strong> Os pecuaristas est\u00e3o pedindo socorro porque n\u00e3o conseguem mais se planejar. Antes, o pecuarista se baseava no ciclo pecu\u00e1rio para saber, por exemplo, quando o pre\u00e7o do bezerro ia diminuir. Dessa forma, o produtor fazia a recria, pensava em aumentar seu plantel, em comprar bezerras f\u00eameas para usar como matrizes. Hoje o pecuarista n\u00e3o consegue fazer nada disso, pois n\u00e3o sabe se vai conseguir vender. O produtor agora est\u00e1 focado em evitar preju\u00edzos.<\/p>\nMuitos confinadores ou terminadores est\u00e3o vendendo o garrote pronto pelos R$ 3500 reais que pagaram no bezerro, o que \u00e9 um grande preju\u00edzo. Ent\u00e3o \u00e9 imposs\u00edvel planejar pensando nos pr\u00f3ximos um a dois anos, pois n\u00e3o se sabe o que vai acontecer. O pecuarista fica temeroso. A inseguran\u00e7a jur\u00eddica, as invas\u00f5es de propriedades, a quest\u00e3o do marco temporal, a inseguran\u00e7a no caso dos insumos, as movimenta\u00e7\u00f5es do mercado… tudo isso \u00e9 uma incerteza muito grande.<\/p>\n
V\u00e1rios pequenos pecuaristas, que n\u00e3o se planejaram e n\u00e3o t\u00eam muito lastro financeiro, est\u00e3o deixando a atividade. Est\u00e3o restando apenas os grandes e m\u00e9dios produtores. A pecu\u00e1ria \u00e9 uma atividade democr\u00e1tica, e ela envolve tamb\u00e9m o pequeno produtor de leite ou de carne, que tem entre 30 e 40 cabe\u00e7as de gado e produz pra subsist\u00eancia, por exemplo. \u00c9 com eles que estamos preocupados, porque com certeza est\u00e3o saindo do mercado.<\/p>\n
AgriBrasilis – Por que a Acrimat prop\u00f5e a redu\u00e7\u00e3o de taxas para abate de f\u00eameas?<\/strong><\/p>\nOswaldo Ribeiro –<\/strong> Hoje pagamos uma taxa de abate para o governo, chamada de FETHAB (Fundo Estadual de Transporte e Habita\u00e7\u00e3o). Ela \u00e9 igual tanto para o macho e para a f\u00eamea, mas o pre\u00e7o da f\u00eamea \u00e9 muito menor quando se vende para o abate. O valor da arroba \u00e9 menor, a f\u00eamea pesa menos. Ou seja, o valor da f\u00eamea \u00e9 quase 60% menor que o valor do macho, mas a taxa \u00e9 a mesma para ambos. Isso n\u00e3o \u00e9 justo.<\/p>\nEstamos pedindo para o governo desde janeiro que seja realizada a equaliza\u00e7\u00e3o desse valor. N\u00e3o nos importamos de pagar taxas e impostos desde que sejam justos e caibam no or\u00e7amento. Hoje temos muita dificuldade porque, quanto mais baixo o valor da arroba no caso das f\u00eameas, mais o rombo aumenta. O governo precisa atender essa demanda dos pecuaristas.<\/p>\n
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