Nicole Renn\u00f3 \u2013<\/strong> \u00c9 importante fazer algumas considera\u00e7\u00f5es sobre a metodologia de c\u00e1lculo do Cepea e da CNA. Como existem diferen\u00e7as ante a metodologia do PIB do IBGE, isso costuma gerar um pouco de confus\u00e3o.<\/p>\nO Cepea acompanha o PIB de toda a cadeia do agroneg\u00f3cio \u201cdentro e fora da porteira\u201d. O IBGE, quando fala em PIB agropecu\u00e1rio, considera s\u00f3 a agropecu\u00e1ria, ou seja, s\u00f3 \u201cdentro da porteira\u201d. Agroind\u00fastrias, por exemplo, fazem parte do setor industrial para o IBGE.<\/p>\n
Para o Cepea, os desempenhos das ind\u00fastrias \u201cantes e depois da porteira\u201d, da agropecu\u00e1ria e dos agrosservi\u00e7os s\u00e3o todos computados. O resultado do PIB do agroneg\u00f3cio \u00e9 uma m\u00e9dia dos desempenhos desses segmentos.<\/p>\n
Outra diferen\u00e7a \u00e9 que as varia\u00e7\u00f5es de PIB do IBGE que estamos acostumados a acompanhar s\u00e3o varia\u00e7\u00f5es de volume. Na metodologia do Cepea e da CNA, nosso interesse \u00e9 acompanhar como est\u00e1 a renda real do agente do agroneg\u00f3cio<\/strong>. Ent\u00e3o, al\u00e9m das varia\u00e7\u00f5es de volume, analisamos e computamos varia\u00e7\u00f5es nos pre\u00e7os dos produtos agropecu\u00e1rios e agroindustriais, e as varia\u00e7\u00f5es dos custos das atividades que comp\u00f5em o setor.<\/p>\nPIB da agricultura<\/strong><\/p>\nO que causou a queda do PIB do agroneg\u00f3cio em 2022? Essa foi uma queda, vale mencionar, frente ao PIB recorde alcan\u00e7ado em 2021. Essa queda se concentrou no lado agr\u00edcola do PIB, no ramo da agricultura, principalmente \u201cdentro da porteira\u201d, mas tamb\u00e9m nas agroind\u00fastrias.<\/p>\n
O principal fator foi o aumento dos custos com insumos, principalmente no campo. 2022 foi um ano de pre\u00e7os altos; os pre\u00e7os agropecu\u00e1rios e agroindustriais estavam num patamar elevado, mas os custos subiram numa intensidade muito maior. Isso pressionou a renda real do agente do agroneg\u00f3cio, que \u00e9 o que buscamos representar quando demonstramos essa queda de 4,22%.<\/p>\n
A quebra da safra da soja pesou bastante. Essa \u00e9 a principal cultura dentro do PIB agr\u00edcola. O que acontece com a soja tem um reflexo importante no resultado agregado e, como a gente teve uma quebra significativa devido ao clima, isso se refletiu no PIB.<\/p>\n
N\u00f3s tivemos tamb\u00e9m algumas agroind\u00fastrias com produ\u00e7\u00e3o menor, como a ind\u00fastria florestal. A produ\u00e7\u00e3o de madeiras, de m\u00f3veis, as ind\u00fastrias de vestu\u00e1rios e t\u00eaxteis tiveram um desempenho fraco em termos de volume.<\/p>\n
PIB da pecu\u00e1ria<\/strong><\/p>\nO PIB da pecu\u00e1ria apresentou alta. O setor apresentou al\u00edvio nos custos frente ao recorde que tinha sido alcan\u00e7ado em 2021. Ao mesmo tempo, em 2022 os pre\u00e7os de v\u00e1rios produtos ficaram em bom patamar.<\/p>\n
Assim como a soja para a agricultura, no caso da pecu\u00e1ria a produ\u00e7\u00e3o de bovino pra corte \u00e9 muito importante no PIB e o Brasil obteve ganhos de produ\u00e7\u00e3o depois de alguns trimestres seguidos com a produ\u00e7\u00e3o de boi em queda. Essa produ\u00e7\u00e3o subiu em 2022 e impulsionou o PIB do ramo pecu\u00e1rio.<\/p>\n
AgriBrasilis – Qual a participa\u00e7\u00e3o do agroneg\u00f3cio na infla\u00e7\u00e3o de 2022, que fechou em 5,79% ao ano? Por que certos setores apontam o agroneg\u00f3cio como vil\u00e3o da infla\u00e7\u00e3o?<\/strong><\/p>\nNicole Renn\u00f3 \u2013<\/strong> O agroneg\u00f3cio teve uma participa\u00e7\u00e3o importante na infla\u00e7\u00e3o de 2022. Talvez por isso tenha sido denominado por certos setores como vil\u00e3o da infla\u00e7\u00e3o.<\/p>\nTivemos uma infla\u00e7\u00e3o elevada, acima da meta medida pelo IPCA, e de fato o grupo de alimentos e bebidas, mais relacionado com o agroneg\u00f3cio, esteve entre os que mais subiu.<\/p>\n
Pre\u00e7os agropecu\u00e1rios e agroindustriais estavam em patamar elevado, embora n\u00e3o tanto quanto os custos, mas designar o agroneg\u00f3cio como vil\u00e3o indicaria de alguma forma que esse aumento de pre\u00e7os estava sob controle do produtor rural, e isso n\u00e3o \u00e9 verdade.<\/p>\n
N\u00f3s tivemos, desde 2019, uma sequ\u00eancia de problemas clim\u00e1ticos e sanit\u00e1rios, al\u00e9m da guerra entre R\u00fassia e Ucr\u00e2nia. O aumento de pre\u00e7os de alimentos no ano passado e retrasado foi global, n\u00e3o foi um fator especifico do Brasil. No Brasil, ela chegou at\u00e9 com mais for\u00e7a porque o c\u00e2mbio estava desvalorizado, mas todos esses fatores que eu mencionei est\u00e3o fora do controle do produtor.<\/p>\n
Agribrasilis – A quantidade de empregos no agroneg\u00f3cio diminuiu 17% em apenas uma d\u00e9cada. Por que isso ocorreu? Qual o n\u00edvel de qualifica\u00e7\u00e3o no setor?<\/strong><\/p>\nNicole Renn\u00f3 \u2013<\/strong> A quantidade de empregos que reduziu durante essa d\u00e9cada foi na agropecu\u00e1ria \u201cdentro da porteira\u201d, que apresentou queda de 15%.<\/p>\nConsiderando o agroneg\u00f3cio como um todo, essa queda entre 2012 e 2022 foi de apenas 3%, porque a quantidade de pessoas trabalhando nas ind\u00fastrias \u201cantes da porteira\u201d aumentou. A quantidade de pessoas trabalhando nos agrosservi\u00e7os aumentou tamb\u00e9m. Nas agroind\u00fastrias esse patamar ficou estagnado.<\/p>\n
A queda na popula\u00e7\u00e3o empregada \u201cdentro da porteira\u201d \u00e9 um movimento que acontece j\u00e1 h\u00e1 algumas d\u00e9cadas, e n\u00e3o \u00e9 especifico do Brasil: acontece ao longo do processo de desenvolvimento dos pa\u00edses. A agropecu\u00e1ria tende a perder espa\u00e7o como empregadora \u00e0 medida que se moderniza, substitui trabalho por capital, por m\u00e1quinas, tecnologias que poupam trabalho. Essa moderniza\u00e7\u00e3o vem acontecendo na agropecu\u00e1ria brasileira. Tamb\u00e9m existe uma tend\u00eancia dos trabalhadores de<\/p>\n
Esse movimento de queda do n\u00famero de empregos na agropecu\u00e1ria deve continuar acontecendo nos pr\u00f3ximos anos, embora a taxas decrescentes.<\/p>\n
Em rela\u00e7\u00e3o ao n\u00edvel de qualifica\u00e7\u00e3o no setor, ele ainda \u00e9 baixo comparado com a m\u00e9dia do mercado de trabalho brasileiro. Proporcionalmente, temos no agroneg\u00f3cio muito mais gente com escolaridade at\u00e9 o ensino fundamental e muito menos gente com ensino superior completo, se comparado com o cen\u00e1rio brasileiro.<\/p>\n
Por outro lado, na \u00faltima d\u00e9cada esse n\u00edvel de qualifica\u00e7\u00e3o tem crescido de forma muito mais acelerada no agroneg\u00f3cio do que no Brasil como um todo, o que reflete a moderniza\u00e7\u00e3o do setor, e a demanda por trabalhadores mais qualificados, que saibam lidar com novas tecnologias, com toda a complexidade da gest\u00e3o que existe na agropecu\u00e1ria hoje em dia.<\/p>\n
AgriBrasilis – Qual a atual situa\u00e7\u00e3o do mercado de trabalho do agro?<\/strong><\/p>\nNicole Renn\u00f3 \u2013<\/strong> Nos \u00faltimos dois anos, o mercado de trabalho do agroneg\u00f3cio tem apresentado bom desempenho. Isso ocorre devido a forte recupera\u00e7\u00e3o ap\u00f3s o impacto inicial da pandemia e como consequ\u00eancia da conjuntura favor\u00e1vel que tem marcado o setor.<\/p>\nCom rela\u00e7\u00e3o ao PIB, os anos de 2020 e 2021 foram o melhor bi\u00eanio da nossa s\u00e9rie hist\u00f3rica. Tivemos recordes de rentabilidade, de renda real do produtor, que \u00e9 o agente do agroneg\u00f3cio. Isso, naturalmente, tornou o mercado de trabalho aquecido tamb\u00e9m.<\/p>\n
O mercado de trabalho do agro est\u00e1 numa situa\u00e7\u00e3o atual positiva e a gente espera que isso se mantenha com certa estabilidade ao longo do 2023.<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
LEIA MAIS:<\/p>\n