Novo sistema visa controlar população de carrapato do boi sem o uso de carrapaticida

Publicado em: 24 de fevereiro de 2021

Artigo de Renato Andreotti, pesquisador da Embrapa Gado de Corte.

O carrapato do boi é uma das maiores preocupações dos pecuaristas do Brasil. A infestação pelo parasita causa grandes danos aos animais, podendo acarretar em muitos prejuízos para os criadores. 

Renato Andreotti

Formado em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

 (UFMS), mestre em ciências biológicas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e doutor em ciências biológicas pela UNIFESP e University of Winsconsin-Madison, nos EUA. Renato Andreotti possui pós-doutorado em biologia molecular pelo Agriculture Research Service do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Atualmente é pesquisador da Embrapa Gado de Corte e professor na UFMS.

Dr. Renato redigiu um artigo para a AgriBrasilis sobre Sistema de manejo de parasitas ‘Lone Tick’, que visa reduzir a carga parasitária em bovinos sem o uso de acaricidas.


O carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) é encontrado no Brasil, em praticamente todo o território, e sua presença na cadeia produtiva de bovinos no país acarreta perda econômica estimada de US$ 3,24 bilhões/ano.

O nível de infestação do carrapato nos rebanhos varia em função da presença e do grau de raças sensíveis ao carrapato, levando a: inapetência, irritabilidade, perda de sangue pela espoliação acentuada e à anemia e perda de peso. Lesões no local da picada evoluindo para miíases o que, junto com a Tristeza parasitária bovina (TPB). pode levar à morte de animais.

Carrapato do boi

O Nelore, mais resistente ao carrapato e com adaptabilidade ao clima do Brasil central, é usado há décadas em programas de cruzamentos com raças Bos taurus, mais sensíveis. A melhoria genética dos rebanhos pelo ingresso de novas raças bovinas e seus cruzamentos gera animais com maior desempenho produtivo, mas com grandes dificuldades no controle do carrapato.

O controle estratégico do carrapato, principal método de controle atualmente, envolve o uso de acaricidas e se mostra esgotado em função do desenvolvimento de resistência do carrapato. O uso dos acaricidas, tal como é feito, leva à contaminação por meio dos resíduos nos animais, nos trabalhadores, no meio ambiente e nos produtos de origem animal, com risco de contaminar até o consumidor desses produtos.

Sistema Lone tick é uma proposta que permite o controle da infestação do carrapato nas pastagens deixando as larvas “solitárias” (lone em inglês) por meio do distanciamento entre parasito e bovino.

Durante um ano, avaliamos, na EMBRAPA Gado de Corte, esse sistema de controle de carrapato em bovinos da raça Senepol, raça sensível podendo apresentar infestação com mais de 350 carrapatos por animal em média. Utilizamos uma área de 32 hectares divididos em quatro piquetes com pastagem de Brachiaria brizanta, vr. Marandu. Foram utilizados 37 animais da raça Senepol desmamados, castrados e com infestação natural de carrapato. Os animais tiveram um ganho de peso médio diário de 0,425 gramas durante o período experimental com carga animal final de 0,83 UA/ha.

Os animais apresentaram uma média de 10 carrapatos por animal nas observações a cada 28 dias durante um ano, sem utilização de carrapaticida durante o período.

 Os dados mostram que o sistema, após 56 dias, promove um equilíbrio na população de carrapatos com infestação em níveis baixos semelhantes à infestação do Nelore. Assim, o Sistema Lone tick corrige a carga parasitária do rebanho para condições ótimas de controle, que significa: baixa infestação de carrapatos, eliminação dos prejuízos, e animais protegidos da TPB.

Qual a razão do sucesso neste sistema de controle?

O carrapato-do-boi completa o ciclo de vida no bovino em 21 dias; no Sistema Lone tick mudamos os animais com 28 dias no pasto, não dando tempo de reinfestação pelas larvas, que representa 95% da população de carrapatos no ambiente.

Sistema Lone tick oferece uma forma de controle das larvas em vida livre, mantendo as larvas 84 dias sem contato com o hospedeiro, tempo suficiente para que morram por inanição. Não usar acaricidas evita resíduos de produtos químicos e atende uma demanda de mercado internacional.

A estabilidade da população de carrapatos em níveis baixos, traz segurança nas condições sanitárias por reduzir a espoliação com perda de peso e o risco de morte dos animais com a TPB. Com isso, reduz o custo da arroba produzida, aumenta a produção por ha e oferece oportunidade de novos nichos de mercado.