Inovações no cultivo de trigo tropical: do Cerrado ao Nordeste

“O foco das pesquisas da Embrapa é o desenvolvimento de cultivares mais produtivas, mais resistentes às doenças e adaptadas ao ambiente tropical…”

Vanoli Fronza é pesquisador da Embrapa Trigo, com graduação em agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria, mestrado em fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa, e doutorado em genética e melhoramento de plantas pela ESALQ/USP.


AgriBrasilis – O que é o “trigo tropical”?

Vanoli Fronza – Nós consideramos como trigo tropical todo trigo que não é exigente em frio e que é cultivado em regiões mais quentes do Brasil, abrangendo parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste (Bahia).

AgriBrasilis – Por que plantar trigo no Cerrado?

Vanoli Fronza – O Cerrado é uma vasta região agrícola, que engloba vários estados do Brasil e, em algumas regiões, é possível também o plantio do trigo, tanto no cultivo de sequeiro (sem irrigação) como no cultivo irrigado (utilizando pivô central).

De maneira geral, o plantio do trigo de sequeiro é possível nas regiões com altitude maior que 700 m e em solos com mais de 30% de argila, incluindo também áreas com altitudes menores nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Já o cultivo irrigado seria indicado para áreas com, pelo menos, 400 m de altitude e em solos com mais de 15% de argila.

“O plantio de trigo no Cerrado diversifica a região produtora, visto que mais de 80% da produção está concentrada no Sul”

O trigo é uma excelente alternativa para o sistema de rotação de culturas por fornecer palhada para o sistema de semeadura direta, auxiliar no controle de plantas daninhas (reduzindo os custos com controle na cultura seguinte) e de doenças causadas por fungos de solo, e também por não ser bom hospedeiro para nematoides. Além disso, o plantio de trigo no Cerrado diversifica a região produtora, visto que mais de 80% da produção está concentrada no Sul, aumentando a segurança nacional quanto ao abastecimento de trigo do Brasil e ajudando a reduzir as importações oriundas de outros países, reduzindo a evasão de divisas.

AgriBrasilis – Que pesquisas a Embrapa está desenvolvendo com relação ao cultivo?

Vanoli Fronza – O foco das pesquisas da Embrapa é o desenvolvimento de cultivares mais produtivas, mais resistentes às doenças e adaptadas ao ambiente tropical, por meio dos seus programas de melhoramento genético de trigo de sequeiro e de trigo irrigado. Nos últimos anos a Embrapa também tem realizado estudos de prospecção para o plantio do trigo em outros estados da região Nordeste (como Alagoas, Ceará, Maranhão e Piauí) e na região Norte (como Pará e Roraima).

AgriBrasilis – A brusone (Pyricularia oryzae) é o maior gargalo da pesquisa para adaptação do trigo ao Cerrado. Por quê?

Vanoli Fronza – O motivo principal é que, por causa das temperaturas mais elevadas, a brusone na espiga é uma doença muito comum no ambiente tropical, ao contrário da região Sul, onde a principal doença é a giberela. Além disso, como não existem cultivares totalmente resistentes (imunes) à doença na espiga, e como a aplicação de fungicidas não controla satisfatoriamente a doença quando as condições climáticas forem muito favoráveis, então, sempre há um risco de o produtor ter prejuízo com essa doença.

AgriBrasilis – Além da brusone, que outras pragas e doenças são relevantes?

Vanoli Fronza – Geralmente, não se tem problemas com outras pragas e doenças. Em termos de doenças, pode haver a ocorrência de manchas foliares, principalmente no trigo irrigado. Em termos de pragas, pode haver a ocorrência de lagartas.

AgriBrasilis – Por que o trigo tropical apresenta “ausência absoluta de micotoxinas” e qual é a importância disso para a indústria?

Vanoli Fronza – Como no ambiente tropical a giberela (outra doença que ataca as espigas do trigo e cujo fungo produz toxinas que ficam nos grãos) é quase inexistente, ocorrendo raramente apenas nas regiões mais frias de Minas Gerais e de São Paulo, isso não é um problema para o trigo tropical. Além disso, mesmo que a brusone ataque o trigo tropical, ela não deixa micotoxinas nos grãos, o que é uma vantagem para indústria moageira.

 

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