“O tucura sapo consome todo o material verde em seu caminho e causa danos produtivos significativos aos agricultores…”

Daniel López, coordenador regional da Patagônia na Câmara de Sanidade Agropecuária e de Fertilizantes – Casafe
Daniel López é coordenador regional da Patagônia na Câmara de Sanidade Agropecuária e de Fertilizantes – Casafe e engenheiro agrônomo pela Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Nacional de Cuyo.
Casafe é uma associação empresarial da Argentina que representa o setor de proteção e nutrição vegetal, promovendo as boas práticas agrícolas e a gestão responsável dos produtos fitossanitários.

Área afetada por tucuras (Fonte: Senasa)
AgriBrasilis – Por que o tucura sapo se tornou uma ameaça para as plantações na Patagônia?
Daniel López – O tucura sapo (Bufonacris claraziana) é um inseto herbívoro endêmico da Patagônia, que se estende desde o sul de Río Negro e Neuquén até o sul de Santa Cruz. É uma das espécies mais nocivas para as plantas forrageiras na Patagônia.
O tucura sapo consome todo o material verde em seu caminho e causa danos produtivos significativos aos agricultores e comunidades indígenas da região.
AgriBrasilis – Em quais culturas sua incidência é relevante?
Daniel López – É uma espécie polífaga, podendo se alimentar de diferentes espécies de plantas. Suas explosões populacionais podem ter efeitos devastadores nas pastagens por onde passam, reduzindo seriamente a forragem disponível. A partir daí, foi decretada emergência fitossanitária em 31/03/2021, que estabeleceu a obrigatoriedade de denúncia quanto à detecção da presença da praga. (Resolução Senasa: 135/2020).
AgriBrasilis – Qual é o papel da Casafe nesse contexto?
Daniel López – A Casafe tem entre suas funções a divulgação e promoção das boas práticas agropecuárias para o cuidado das pessoas, do meio ambiente e da alimentação.
Capacitamos produtores, aplicadores, órgãos oficiais, instituições de ensino e estabelecimentos sobre o uso correto de produtos fitossanitários, o uso correto de equipamentos de proteção, interpretação de rótulos de produtos fitossanitários, calibração de pulverizadores costais, tecnologia de aplicação e uso de produtos biológicos, entre outros.
AgriBrasilis – Que danos e perdas econômicas o tucura sapo pode causar?
Daniel López – Em anos de superlotação populacional, como em 2017, o inseto causou graves perdas econômicas em toda a região patagônica. Naquele ano, o tucura sapo destruiu totalmente as pastagens, deixando o gado, que é o sustento de muitos dos pequenos produtores, sem comida. Ao mesmo tempo, o inseto causa danos às plantações hortícolas e prejudica as cidades com a contaminação dos poços de água.
AgriBrasilis – Como é realizado o controle do tucura sapo?
Daniel López – O Manejo Integrado de Pragas é essencial. Dentro disso, o monitoramento desempenha um papel importante. Começa em julho e é realizado a cada 7 ou 15 dias em busca dos primeiros estágios das ninfas, pois são mais sensíveis ao controle, que acaba sendo mais eficiente.
Dentro da Gestão Integrada você pode fazer:
- Controlo biológico: através de diferentes aves como abibes, emas, bandurrias ou até mesmo perus e galinhas;
- Controle cultural: realização de controle mecânico em áreas de oviposição, que expõem os ovos à superficie;
- Controle com iscas: à base de farelo de trigo e inseticida;
- Controle químico: com produtos autorizados pelo Senasa e recomendação de um engenheiro agrónomo;
- Controle através da construção de valas de contenção.

Detectado o aparecimento de ninfas, é realizado um controle químico na área
AgriBrasilis – Como o clima afetou o aparecimento desta praga?
Daniel López – Esta praga, como o resto dos insetos, está diretamente relacionada ao clima. O tucura sapo passa o inverno na forma de ovo, enterrado no solo, e entre os meses de julho e agosto ocorrem os primeiros nascimentos. Se houver ocorrência de neve nesse momento, pode-se atrasar o aparecimento das primeiras ninfas.
Segundo os registros históricos, repetem-se ciclos de três anos em que há explosão populacional da peste, o que motivou a criação de um comité interinstitucional para o seu controle. Os produtores também participam, alertando quando os primeiros insetos são detectados. Caso haja detecção, é emitido um alarme regional.
Em tempos de alerta precoce, o papel desempenhado pela mídia é muito importante, pois contribui para o controle antecipado da praga.
AgriBrasilis – Que outros insetos praga ameaçam a região da Patagônia e por quê?
Daniel López – Outra praga que se espalhou amplamente no território patagônico é a mosca-de-asa-pintada (Drosophila suzukii), que afeta muito os frutos finos da região: mirtilos, framboesas, morangos e cerejas. A mosca também é encontrada em frutas nativas, como rosa mosqueta e amoras.
É uma praga que tem crescido muito nos últimos tempos. Seu controle é muito complexo e também requer uma gestão integrada adequada, combinando diferentes técnicas.

Fruto de mirtilo danificado pela mosca-da-asa-pintada
