“…etanol de cana é um exemplo bem sucedido em alta escala do que a bioeconomia é capaz. Uma cultura permanente, com alta produtividade, capturando altas quantidades de carbono e gerando produtos que substituem integralmente os fósseis. Tudo isso é sinônimo de sustentabilidade…”

Jaime Finguerut, diretor e gerente do conselho no ITC – Instituto de Tecnologia Canavieira
Jaime Finguerut é engenheiro químico e trabalha há mais de 40 anos na indústria sucroenergética, com ênfase na produção de etanol de cana e de milho. Finguerut liderou o desenvolvimento do processo industrial no Centro de Tecnologia Copersucar e depois no Centro de Tecnologia Canavieira, onde também foi gestor de inteligência industrial. Em 2017, formou o Instituto de Tecnologia Canaviera, que se dedica a encontrar, desenvolver e implantar novas tecnologias de descarbonização nas Biorrefinarias de Cana e de Milho.
AgriBrasilis – Qual é o cenário de produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil?
Jaime Finguerut – Temos aqui no Brasil condições excelentes para o uso de biocombustíveis e para o etanol em particular. Temos uma enorme frota flex, onde o condutor pode optar livremente em usar etanol ou gasolina, dependendo da sua conveniência. Temos também um sistema regulatório que já contempla altas misturas de etanol na gasolina, como também temos uma gasolina e uma frota de veículos do Ciclo Otto que é compatível com essas altas misturas. Essas condições são únicas para o nosso país. Além disso, temos ainda novas políticas inteligentes já em uso e em evolução para incentivar o uso de etanol, o RenovaBio que permite enxergar a previsibilidade necessária para permitir novos investimentos em redução de custos e aumento de produção, seja em instalações existentes, seja em novas instalações (greenfields). No entanto o etanol de milho, principalmente em regiões de alta disponibilidade de grãos e de biomassa (cavacos de eucalipto) como no Mato Grosso, tem vantagens em relação à cana, devido ao menor investimento em capitais, à maior velocidade de início da produção desde a decisão do investimento, à geração de co-produtos com valor e ainda operando a produção o ano todo, pois o grão é armazenável, coisa que a cana não é.
AgriBrasilis – Qual o potencial do etanol de cana dentro do contexto da bioeconomia?
Jaime Finguerut – O etanol de cana é um exemplo bem sucedido em alta escala do que a bioeconomia é capaz. Uma cultura permanente, com alta produtividade, capturando altas quantidades de carbono e gerando produtos que substituem integralmente os fósseis. Tudo isso é sinônimo de sustentabilidade. Além disso a indústria gera centenas de milhares de empregos, promovendo crescimento no interior do país além de locais de alto desenvolvimento humano,técnico e científico como Piracicaba, que fecha um círculo virtuoso de evolução.
AgriBrasilis – Quais os desafios enfrentados pelas usinas produtoras de etanol?
Jaime Finguerut – Como na produção de etanol (e açúcar e bioeletricidade) a partir da cana, o maior custo de produção é a matéria-prima (açúcar na cana), o desafio é aumentar a eficiência no seu processamento, o que não é fácil pois se trata de uma indústria muito madura, com equipamentos muito grandes, em vista do fato de que a maior escala de produção leva a custos menores. Assim, melhorar algo que já está bom é muito mais difícil do que melhorar algo que está no seu começo. Outro desafio é aumentar a produção sem ocupar mais área agrícola, ou crescer verticalmente, aumentando a produtividade da cana, o que também não é fácil pois a cana já tem a maior produtividade entres as plantas produzidas no mundo, em quantidade maior do que um bilhão de toneladas. É possível? Sim, através do uso das novas técnicas disruptivas de biotecnologia vegetal, porém este uso enfrenta o desafio de se tratar de uma planta extremamente complexa do ponto de vista genético, fruto de séculos de manipulação por cruzamentos e seleção visando obter mais açúcar.
LEIA MAIS:
