Podridão abacaxi pode diminuir produtividade de canaviais em até 40%

sugarcane with pineapple rot
Publicado em: 13 de abril de 2022

“Com o aumento do plantio mecanizado, expansão das área de plantio, e uso de mudas de má qualidade, a podridão abacaxi tem se tornado mais presente nos canaviais.”

Juliana Velasco de Castro Oliveira é pesquisadora no Laboratório Nacional de Biorrenováveis, graduada em ciências biológicas e doutora em biotecnologia pela Universidade de São Paulo. Velasco coordena estudo que descobriu bactérias do gênero Pseudomonas capazes de inibir o crescimento e causar a morte do fungo responsável pela podridão abacaxi, doença que ataca canaviais.

Juliana Velasco, pesquisadora no Laboratório Nacional de Biorrenováveis


AgriBrasilis – Quais as principais doenças causadas por fungos que afetam a cana-de-açúcar?

Juliana Velasco – A incidência das doenças depende muito da região, época de plantio, variedades de cana-de-açúcar utilizadas, manejo do solo, entre outros, mas, de forma geral, podemos dizer que as principais doenças são: podridão abacaxi, carvão, ferrugem e podridão vermelha.

AgriBrasilis – O que é a podridão abacaxi e quais suas causas? Qual é a relação com a produtividade da cana?

Juliana Velasco – A doença é causada pelo fungo Thielaviopsis ethacetica e até pouco tempo atrás não era considerada importante. Com o aumento do plantio mecanizado, expansão das área de plantio, e uso de mudas de má qualidade, a podridão abacaxi tem se tornado mais presente nos canaviais.

O fungo penetra por aberturas naturais ou ferimentos que podem ser causados pelo processo de mecanização no tolete, por exemplo. Pode-se observar um encharcamento do tolete e uma diminuição de até 50% da germinação, bem como a morte de mudas novas. Quando a cana consegue se desenvolver, pode haver o comprometimento de seu conteúdo, que adquire coloração avermelhada até tons mais escuros dado a proliferação do fungo e produção de esporos nos feixes vasculares.

É muito comum que canas infectadas exalem um odor semelhante à essência de abacaxi, o que deu o nome da doença. De forma geral, a doença pode diminuir a produtividade entre 30 e 40%.

AgriBrasilis – Como é o mecanismo de ação das bactérias inibidoras de crescimento do fungo da podridão abacaxi?

Juliana Velasco – Por se tratar de uma área nova de estudo, ainda há muito a ser desvendado. Entretanto, descobrimos que após o tratamento com as bactérias, o fungo deixa de expressar genes essenciais para seu crescimento, como aqueles para metabolismo de carbono. Em adição, verificamos que os compostos, direta ou indiretamente, ocasionam dano ao DNA do microrganismo, bem como sua morte. Para esses achados, utilizamos técnicas de biologia molecular, microscopia e espectroscopia.

AgriBrasilis – Em que estágio se encontra a pesquisa e quais impactos se espera desse trabalho?

Juliana Velasco – Importante ressaltar que esse é o primeiro trabalho com esse tipo de moléculas inibindo esse fitopatógeno de cana-de-açúcar, fruto do trabalho da aluna de Doutorado Carla Freitas, que dedicou mais de 4 anos para esta pesquisa.

Olhando para como estas moléculas atuam, a gama de possibilidades que podemos explorar é enorme. Embora resultados interessantes tenham sido observados em laboratório, para isso se tornar uma realidade, muitos outros estudos são necessários para comprovar a eficácia da bactéria no campo e sua segurança para a saúde humana, animal e ao meio ambiente.

Embora as bactérias tenham sido isoladas do solo de canaviais, estes estudos são essenciais. Outra alternativa seria a aplicação das biomoléculas mais promissoras e, novamente, novas pesquisas seriam necessárias para desenvolver um microrganismo que as produza em grandes quantidades. De forma geral, é esperado que o uso do microrganismo e/ou das moléculas seja menos agressivo que os químicos hoje existentes, e, por ser de origem biológica, pode apresentar melhor biodegradabilidade. Por fim, poderia representar uma alternativa biológica desenvolvida no país, capaz de diminuir nossa dependência da importação de agroquímicos, o que onera o setor e representa uma fragilidade em nosso agronegócio.