Preço de máquinas agrícolas acompanha aumento das commodities

Publicado em: 8 de abril de 2022

“…indústria tem recebido sucessivos aumentos de preços e não tem outra saída a não ser repassar os preços para o produtor…”

Rodrigo Junqueira é gerente geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson América do Sul.

AGCO Corporation é uma fabricante multinacional com foco em desenvolvimento, fabricação e distribuição de equipamentos agrícolas para 140 países, com sede em Duluth, USA. A empresa é detentora das marcas GSI, Fendt, Massey Ferguson e Valtra.

Rodrigo Junqueira, gerente geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson América do Sul.

AgriBrasilis – O que tem motivado o excelente desempenho do mercado de máquinas agrícolas nos últimos anos? Qual o tamanho do mercado?

Rodrigo Junqueira – Estamos em um momento muito positivo para o agronegócio brasileiro, com preços das commodities agrícolas em alta. Com expectativa de contínuo crescimento da demanda, safras recordes e preços elevados para os grãos e, consequente aumento de renda, o agricultor reinveste em sua propriedade, buscando tecnologias que contribuam para melhorar os resultados no campo, e as máquinas agrícolas são parte essencial desse processo de tecnificação. É uma equação de ganha-ganha: o mercado aquecido e aumento de demanda tem potencial de impactar positivamente o fabricante de máquinas e equipamentos e toda sua cadeia de fornecimento.

Também há uma questão de comportamento. Os agricultores brasileiros estão entre os que têm mais interesse em tecnologia, principalmente em relação à performance e custo-benefício dos equipamentos.  Essa característica é ainda mais marcante com a entrada das novas gerações no campo, que buscam renovar o maquinário com o que há de mais tecnológico para obter maior rentabilidade, redução de consumo de combustível e menor tempo para execução das atividades agrícolas.

AgriBrasilis – Qual a idade média da frota de tratores e quando se recomenda a renovação? Que mercado isto representa?

Rodrigo Junqueira – O Brasil é o único país que o produtor chega a ter até três safras por ano, além de possuir condições de topografia que exigem muito dos maquinários agrícolas, como o Cerrado, por exemplo, com grandes extensões de áreas. Diferentemente do produtor europeu, que tem pequenas áreas, menos safras ao ano, possui máquinas algumas vezes superdimensionadas e troca de maquinário em um período mais curto, o produtor brasileiro geralmente utiliza os maquinários por mais tempo do que seria recomendável. Considerando esses fatores, há uma demanda de atualização de frota com maior frequência.

Por exemplo, a vida útil de um trator agrícola pode ter entre 10 mil e 15 mil horas de trabalho, em média. No entanto, este período está diretamente ligado ao tipo de aplicação, cultura (cana, por exemplo, exige mais esforço de trabalho) e quantas vezes o equipamento entra na lavoura. O trator é utilizado para operações diversas, tal como preparo de solo e plantio, mas o pulverizador é a máquina que mais entra na lavoura – chega a entrar 20 vezes durante o ciclo do algodão. Portanto, a robustez da máquina e as revisões diárias e periódicas, preventiva ou corretiva, são pontos importantes para manutenção e maior vida do equipamento.

Segundo dados da Cogo Consultoria, a frota que possui mais de 20 anos em campo é representativa: 39% dos tratores e 48% das colheitadeiras somam mais de 2 décadas. A partir desse recorte, é possível perceber o expressivo potencial de renovação de frota, seja por desgaste ou adesão a novas tecnologias.

AgriBrasilis – Os preços das commodities agrícolas acompanham os preços de máquinas?

Rodrigo Junqueira – A alta nos preços das commodities agrícolas favorece a remuneração do produtor rural, gerando condições de absorver os custos dos reajustes dos preços das máquinas, mantendo a relação de troca favorável. A indústria tem recebido sucessivos aumentos de preços e não tem outra saída a não ser repassar os preços para o produtor.

AgriBrasilis -Nos últimos anos ocorreram atrasos na entrega de máquinas agrícolas. Quais são os motivos? Qual a perspectiva para 2022?

Rodrigo Junqueira – O fornecimento de máquinas agrícolas permanece instável, ainda impactado pela escassez de matéria-prima nos últimos dois anos. Isso porque, as atividades nas industrias, que ficaram paralisadas durante os meses mais críticos da Covid-19, não foram retomadas no mesmo ritmo das demandas, o que interfere diretamente em questões de logística e transporte. Temos realizado um trabalho contínuo junto aos fornecedores, buscando equalizar o cenário, e temos a perspectiva de que o segundo semestre deste ano seja mais favorável.  Por isso também alertamos para a importância de o produtor programar o investimento em tecnologia, fazendo um bom planejamento para a aquisição de máquinas e não aguarde o momento do plantio ou da colheita.

AgriBrasilis – O Brasil é dependente de componentes do exterior para fabricação de máquinas agrícolas? Em qual porcentagem? O que pode ser feito para minimizar esta dependência?

Rodrigo Junqueira – Parte dos itens utilizados na montagem dos equipamentos é importada, principalmente os componentes eletrônicos e de tecnologia, que necessitam de altos investimentos em ferramentais (por exemplo, transmissões), mas a tendência é que a participação de fornecedores nacionais aumente ano após ano. Para minimizar a dependência por componentes importados, estamos incentivando o desenvolvimento da indústria local em capacidade produtiva e incentivando a instalação de fábricas de fornecedores líderes de tecnologia que não estão presentes no Brasil.

A AGCO está fortemente comprometida na parceria e no desenvolvimento de sua base de fornecedores, aumentando o volume de negócios e o número de componentes localizados. A nossa estratégia é ter um número otimizado de fornecedores nacionais e internacionais, com um relacionamento muito próximo em ganho de capacidade, produtividade, competitividade, qualidade e desenvolvimento de novas soluções e tecnologias.