Produtor e consultor em citricultura traz panorama do mercado de citros brasileiro
AgriBrasilis convidou Maurício Mendes, Engenheiro Agrônomo, para fazer uma breve análise sobre o mercado de citros brasileiro.
Formado em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP, fez pós-graduação em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, mantida pela Fundação Getulio Vargas (FGV-EASP). Mendes é consultor do GCONCI (Grupo de Consultores em Citrus) e citricultor, fundador da Hifarm, joint-venture entre a DATAGRO e Agriplanning Consultoria, que atua na assessoria financeira, técnica e estratégica na negociação de propriedades rurais e ativos agroindustriais no Brasil e América Latina.

Maurício Mendes, consultor sobre o mercado de citros brasileiro
AgriBrasilis – Quais as perspectivas em relação ao mercado de citros esse ano?
Maurício Mendes – Esse ano tem sido uma safra difícil e atípica, que veio de um ano anterior muito seco, com baixa média de chuvas (2020 e 2021). Tem sido uma safra de frutos pequenos, menores do que normalmente se colhe nessa época. É um problema para os citricultores e para a indústria, pois diminui muita quantidade do fruto colhido: a receita do produtor diminui e o rendimento industrial é ruim.
AgriBrasilis – E as recentes geadas, tem atrapalhado?
Maurício Mendes – As geadas foram fortes no estado todo, no cinturão citrícola, com ênfase na região central do estado.
Essa geada não atingiu só as regiões tradicionalmente mais frias, como a região sudoeste do estado, mas também a região central e norte. Ela pegou principalmente plantas mais jovens, com dano significativo para plantas menores e em alguns lugares as frutas caíram devido ao frio.
Os danos teriam sido menores se as plantas não estivessem tão debilitadas pela seca.
AgriBrasilis – Sobre exportação de suco, quais tem sido as melhores variedades para exportar para a Europa e para a China?
Maurício Mendes – São dois tipos de suco que a indústria brasileira produz: o concentrado, que tem 66% de concentração (Graus Brix), e o não concentrado, que é o NFC, com uma concentração próxima do natural e só pasteurizado.
As variedades para produzir esse suco, são chamadas de industriais. Desde as precoces, Hamlin, Westin e Rubi, até as tardias, Natal e Valência. As mais nobres são Pêra, Natal e Valência, pois dão um rendimento de suco maior.
O mercado internacional não classifica por variedade de laranja, mas pelo tipo de suco concentrado, natural ou NFC.
AgriBrasilis – Na formação dos pomares, quanto tem sido para mesa e para suco? Como está essa dinâmica no Brasil atualmente?
Maurício Mendes – Normalmente, a safra está entre 400 e 500 milhões de caixas. 2020 e 2021 foram anos menores, então a safra total está em torno de 400 milhões de caixas, sendo que 260/270 milhões estão no Cinturão Citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro).
Dessa laranja do Brasil como um todo, em torno de 80/100 milhões de caixas (20% da produção total) vão para o consumo doméstico. Já o restante vai para a indústria de suco e, principalmente, para a exportação, embora tenhamos nos últimos anos, um crescimento muito grande de suco sendo produzido para o mercado interno.
AgriBrasilis – Como estão os custos dos pomares atualmente?
Maurício Mendes – Existe uma fonte muito respeitada que trabalha com custo de produção de laranja que é o Cepea da ESALQ – USP, coordenado pela Professora Margarete Boteon.
Ela apresentou recentemente um custo em torno de 23 reais por caixa produzida. A metodologia envolve custo direto e custo total (que envolve investimentos também). Levando em consideração os investimentos feitos, esse valor chega próximo a 30 reais por caixa.
AgriBrasilis – Os preços pagos pela caixa são remuneradores em relação a esse custo?
Maurício Mendes – Não tanto. A maior parte dos produtores tem contratos com prazo mais longo, pois foram feitos 2 ou 3 anos atrás, e estão na faixa de 23 a 25 reais. Os novos contratos, possivelmente, vão estar em patamares mais elevados, próximos a 30 reais.
Já o mercado interno, de mesa e fruta fresca, está pagando bem melhor, acima de 30 reais, já há alguns locais em que pagam 40 reais pela caixa. Principalmente em pomares irrigados, os quais conseguem manter as frutas em uma situação muito melhor para o consumo por não terem problema com seca.
AgriBrasilis – Quantos pomares são irrigados no Brasil?
Maurício Mendes – No Brasil inteiro não existe esse número, mas no Cinturão Citrícola, o percentual de pomares irrigados está entre 27% a 30%, embora nem todos atendido a necessidade hídrica dos pomares nesses últimos dois anos.
Existe uma evidente falta de disponibilidade de água em muitas regiões. Com a deficiência hídrica geral do estado, tem pomares com projetos de irrigação que não conseguem atender a necessidade das plantas. O prejuízo pela seca foi muito grande para o estado todo.
AgriBrasilis – Como o greening está afetando as plantações, existem variedades mais resistentes?
Maurício Mendes – Existem variedades menos resistentes e mais sensíveis. Por exemplo, a tangerina Ponkan é muito sensível, já o limão-taiti e o siciliano são mais resistentes e tolerantes ao greening. Mas, no geral, todas as variedades são sensíveis.
Esse é um tema que nos preocupa muito, a evolução dessa doença é muito grande, por ser bacteriose que ataca o floema das plantas. Nessas condições de déficit hídrico, as plantas apresentam mais sintomas evidentes. É possível ver praticamente em todos os pomares uma queda muito grande de frutas devido ao greening.
AgriBrasilis – A recomendação para greening é remover a planta?
Maurício Mendes – A recomendação é remover plantas sintomáticas e fazer o controle do vetor psilídeo. Essas duas frentes são as principais atividades para controlar o aumento da doença.
AgriBrasilis – isso está gerando muito replantio esse ano?
Maurício Mendes – Vai gerar. Creio que ainda não, pois, com a seca, o replantio é postergado para setembro e outubro, que são meses com mais chuva, mas com certeza haver grande replantio.
O que precisa ser verificado mais pra frente é como o citricultor vai se comportar financeiramente, se vai continuar replantando. É muito difícil para o citricultor: em alguns casos a doença é tão severa no pomar que ele não consegue fazer a erradicação e o replantio.
AgriBrasilis – Além do estresse hídrico e da geada, tem outro fator que está causando o aumento do greening?
Maurício Mendes – Não se sabe exatamente. Era de se esperar que, com as adversidades climáticas, a população do vetor do greening diminuísse, mas ele continua em níveis elevados.
A Fundecitrus tem alertado sobre aumento de população em praticamente todas as regiões. O greening é uma doença de vetor com comportamentos recentes na história. Não é uma doença antiga, então a pesquisa e os citricultores estão aprendendo ainda. Mas o que nós vimos nos últimos dois anos foi só aumento, e por isso o aumento das plantas sintomáticas nos pomares.
AgriBrasilis – Por fim, em relação aos nossos concorrentes internacionais, como está a concorrência do suco no mercado de citros?
Maurício Mendes – O Brasil tem destaque na citricultura, não existe país que consiga concorrer com o Brasil no mercado internacional de sucos pois somos muito competitivos. Não existem países com estrutura para produção tanto agrícola como industrial como o Brasil.
O nosso grande concorrente era a Flórida – EUA, mas nos últimos anos, depois do problema do greening que chegou para eles em 2006 (2 anos depois de chegar no Brasil), caiu demais a produção. Em 2004, a Flórida produzia 240 milhões de caixas e, atualmente, produz em torno de 50 milhões de caixas. Então, o Brasil, embora tenha vários problemas, é disparado o primeiro lugar em exportação. Não precisamos nos preocupar com concorrentes e sim com os problemas internos, principalmente o greening.
