Pecuária no México e queda no consumo de carnes

Raw pork Mexico carne de porco Photo credit: StuartWebster
Publicado em: 30 de setembro de 2021

Pecuária no México: Queda no consumo de carnes bovina e suína, e aumento para o frango no México

A produção pecuária do México continua a crescer e se mostrou resistente contra a recessão econômica e a pandemia, enquanto que as importações de carne bovina e suína diminuíram devido à desaceleração econômica e o câmbio desfavorável.

Os consumidores do varejo estão mudando de fontes mais caras de proteína animal para fontes mais acessíveis, como carne de porco e frango, devido à perda de empregos e à diminuição da renda.

ernesto seyffert comecarne

Ernesto Seyffert, Presidente da CoMeCarne

AgriBrasilis entrevistou Ernesto Hermosillo Seyffert, formado em sistemas de computação e mestre em administração de empresas, ambos os graus obtidos no ITESM, Campus Monterrey. Ele também participou de programas de desenvolvimento de gestão sênior, estratégia e capital humano, ministrados pelo ITESM e pela Harvard University School of Business.

Seyffert é presidente do CoMeCarne (Conselho Mexicano de Carne), uma organização formada por diversas empresas dedicadas à indústria de proteína de carne. É diretor de modelo de gestão do Grupo BAFAR. Seyffert atuou no serviço público em desenvolvimento econômico do estado de Chihuahua, além de organizações como CANACO (Cámara de Comércio), COPARMEX (Confederação Patronal da República Mexicana) e foi presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado de Chihuahua.


AgriBrasilis – O que se espera da produção mexicana de frango de corte em 2022?

Ernesto Seyffert – De acordo com o Serviço de Informação Agroalimentar e Pesqueira (SIAP), que é um órgão independente da Secretária de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, o inventario avícola cresce 2,1% ao ano.

Além disso, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê maior produção[1], consumo e importação de carne de frango em 2022, na medida em que a economia do México se recupera e aumenta a produção de carne de frango para processamento.

AgriBrasilis – Qual a influência dos fatores externos, como os altos preços do milho, na produção de frango?

Ernesto Seyffert – O CoMeCarne não tem informações sobre os planos de ação implementados no nível das Unidade de Produção Primárias (UPP), porém os resultados de suas ações têm beneficiado o crescimento da produção: de janeiro a julho houve um crescimento de 2% em relação ao mesmo período no ano passado.

AgriBrasilis – Mesmo com tarifas alfandegárias, o Brasil é um grande exportador de frango para o México. Como você vê essa relação comercial entre os dois países? Poderia explicar os impactos da nova cota de importação (com isenção tarifária) que o governo mexicano abriu para outras nações produtoras?

Ernesto Seyffert – Desde antes da abertura de uma cota, as importações brasileiras de frango já haviam aumentado, mesmo com as tarifas, devido aos preços baixos que eram oferecidos. Sobre os efeitos da cota, foi autorizado um volume de 30 mil toneladas e anualmente são importadas mais de 800 mil toneladas de frango.

Até o momento, foram importadas uma média de 75 mil toneladas por mês. O volume que foi aberto com a cota não é suficiente para causar qualquer efeito no mercado interno, mas foi observada uma substituição na origem das importações de certos cortes (peito, asas, etc.).

Tradicionalmente, os Estados Unidos abastecem cerca de 95% do que se importa de frango. Quando a cota foi aberta para o Brasil, substituiu-se parte desse mercado. As cotas servem para importar de qualquer país com o qual se tenha uma preferência tarifária, mas a maior parte é utilizada com o Brasil.

AgriBrasilis – A carne suína é a segunda mais consumida no país, depois do frango, mas o preço da carne suína aumentou. Isso está relacionado com o aumento das exportações para a China?

Ernesto Seyffert – Não necessariamente, os preços dependem de múltiplos fatores e seus aumentos não são comparáveis com os registrados para os frangos, especialmente no final de 2020 e início de 2021.

AgriBrasilis – Quais são as perspectivas para a produção de carne no México nos próximos anos?

Ernesto Seyffert – Esperamos que siga mantendo sua tendência de alta. Anualmente cresce 3,5% considerando gado, porco, frango, ovelha, cabra e peru.

Durante o ano de 2020, as três principais proteínas (boi, porco e frango) fecharam o ano com crescimento de em sua produção (3% para os dois primeiros e 4% para o frango). Ao manter-se estável a produção, os preços sofreram grandes volatilidades. Desde o final do ano, o frango teve um aumento nos preços, mas não se sabe claramente as causas que originaram o fenômeno inflacionário. No caso do consumo, o frango cresceu 2%, a carne bovina reduziu 0,2% e a suína reduziu 3%.

Não podemos perder de vista que a carne é um produto altamente sensível à renda das famílias, que foram afetas durante a crise (desemprego, diminuição da renda e perda do poder aquisitivo). Atualmente a produção continua crescendo e o consumo tem se recuperado.

AgriBrasilis – Qual o impacto da Covid 19 na cadeia produtiva da carne e nos preços no México?

Ernesto Seyffert – O setor pecuário, como tantos outros, sofreu o impacto da situação sanitária devido a perda de poder aquisitivo dos consumidores. Porém, algo favorável no panorama internacional tem sido a demanda positiva de carne em países asiáticos principalmente de bovinos e suínos, colocando maior enfoque na saúde, qualidade e segurança por parte dos países importadores e do consumidor final.

Os subsetores (bovino, suíno e carne congelada) têm sido afetados em diferentes áreas em maior e menor grau, respectivamente, por fatores como, diminuição dos canais de consumo (atacadistas, hotéis, restaurantes, etc.), redução do emprego, desincentivo ao consumo gerado pela contração económica.

Contudo, o subsetor avícola cresceu em sua produção e consumo. Isto pode ser atribuído ao fato de ser uma proteína de menor custo, pelo aumento do consumo nas residências e pela mudança nos hábitos de consumo devido a contração económica e ao desemprego.

Durante a pandemia, para as empresas que fazem parte da CoMeCarne, a segurança e saúde de seus colaboradores tem sido prioridade, por isso os protocolos sanitários foram reforçados para evitar o fechamento das fábricas de produção e minimizar o risco de contágio dentro das empresas.

[1] USDA: https://www.fas.usda.gov/data/mexico-poultry-and-products-annual-7