Perdas pós-colheita de grãos no Brasil (Parte 1)

Publicado em: 4 de agosto de 2021

 Para a safra 2020/21 são estimadas 260,80 milhões de toneladas de grãos no Brasil (CONAB, 2021), que ocupa lugar de destaque no cenário mundial de produção de grãos, sendo ainda, considerado o maior produtor de soja.

As condições edafoclimáticas do país são bastante favoráveis a produção, por outro lado, quando se destaca as condições climáticas na época de colheita e pós-colheita, tem-se situações desafiadoras no que se refere a conservação da qualidade dos grãos. 

Professora Solenir Ruffato, da UFMT, Sinop

AgriBrasilis entrevistou a Professora Solenir Ruffato, da UFMT, Sinop, Pós-doutora na área de Pós-colheita pela Universidade Federal de Viçosa, com pesquisas em qualidade de grãos e perecíveis; avaliação de perdas na colheita e pós-colheita; e estudo de alternativas para armazenagem de grãos.

Nesta primeira parte da entrevista Ruffato fala sobre a importância da armazenagem de grãos. Comentando sobre o quanto se perde de produtos em pós-colheita no Brasil e como o valor de perdas no país se compara com o resto do mundo.


Importância da armazenagem de grãos

Grãos são alimentos, sendo, portanto, necessária sua conservação, também é fundamental que haja produtos em estoque para atender a demanda de alimentos no país. Uma vez que a safra por tipo de grão é realizada uma vez ao ano, havendo necessidade de distribuição durante a entressafra.

A armazenagem de grãos permite que o produtor ou o armazenista obtenham melhores oportunidades e lucratividade, visto que ao guardar a safra estes poderão comercializá-la  no momento mais oportuno de mercado. 

Em se tratando de armazenagem própria, a importância e as vantagens são várias como, não sofrer interferência de terceiros no manejo da colheita; oportunidade para produzir e armazenar grãos especiais para mercados altamente exigentes (sair do mercado de commodities); redução de perdas; manutenção da qualidade e maior lucratividade.

A máxima de armazenagem é: grão seco, grão limpo, grão fresco e só atendendo a esses requisitos será possível conservar sua qualidade, não ocasionando perdas. 

Quanto se perde de grãos em pós-colheita no Brasil

Quantificar as perdas pós-colheita de grãos não é uma tarefa simples, pois muitos fatores interagem entre si ou exercem influência isoladamente. Além disso há especificidades de cada região produtora, assim como do tipo de grão produzido.

Regiões que apresentam condições climáticas adversas durante a pré-colheita e colheita possuem desvantagens. Porque o grão se tornará susceptível a amassamento ou quebra em função da umidade alta ou baixa, rompimento do tegumento em função de sucessivos processos de secagem e reidratação ainda no campo, infestação por pragas e microrganismos e produção de avarias (fermentação, ardência, mofo, outros). Um grão comprometido na colheita tenderá a se deteriorar mais rapidamente, assim como contaminar um volume maior de massa.   

Informações relacionadas a perdas pós-colheita no país apontam números divergentes, variando entre 5 a 10%, e as vezes, abaixo ou acima destes valores, com 

Em um trabalho realizado por Péra e seu orientador Caixeta Filho, foram quantificadas perdas por operação na pós-colheita de soja e milho no ano de 2015. Do total de perdas o maior percentual foi observado na atividade logística de armazenagem (67,2%) que considerou todas as atividades da armazenagem na fazenda ou unidade coletora. No caso desta última, foi considerado o escoamento desde a lavoura; o quantitativo de perdas foi seguido pelo transporte rodoviário (13,3%), pelo terminal portuário (9,0%); transporte ferroviário (8,8%) e pelo transporte hidroviário (1,7%). Esses pesquisadores também verificaram perdas totais de soja e milho numa média 1,3 % da produção, porém esta perda foi bastante variável entre estados produtores e cultura, algo entre 0,22 a 1,67%.

Como o valor de perdas no Brasil se compara com o resto do mundo

Dados citados por especialistas revelam que as perdas pós-colheita em países desenvolvidos, principalmente de alimentos não perecíveis, como no caso de grãos, são abaixo de 3%.

Já que a logística de transporte é o ponto de partida, tomando como exemplo os Estados Unidos, menos de 20 % da produção é transportada por rodovias. Enquanto no Brasil mais de 65% é praticado por esse modal.

É comum naquele país, linhas de trem ao lado das unidades produtoras, além do que é cultural para todo produtor possuir sua própria unidade de armazenagem. 

Tomando-se como exemplo o Canadá e o Estados Unidos o percentual de unidades armazenadoras em nível fazenda é acima 65 e 80%, respectivamente. Na Argentina esse percentual é acima 40%, deste valor boa parte da armazenagem é realizada em silos bolsas, pois os Argentinos, entendendo a dificuldade e o custo de investimento em unidades armazenadoras, adaptaram a tecnologia da armazenagem hermética em silo bolsa às suas condições. No Brasil a quantidade de unidades armazenadoras junto a unidade de produção, não passa de 16%.

 

Na próxima semana publicaremos a segunda parte da matéria sobre perdas pós-colheita, em que a Profa. Solenir Ruffato fala sobre os motivos de perdas na pós-colheita, o que poderia ser feito para diminuir as perdas e quais os custos. Por fim quanto se evoluiu na redução de perdas e onde podemos chegar.

 

Referências: 

– Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de grãos – v.8, n.10 (2021), Brasília: CONAB, 2021 Brasília. Disponível em: <http://www.conab.gov.br> Acesso: julho de 2021.

– PÉRA, T. G. Modelagem das perdas na agrologística de grãos no Brasil: uma aplicação de programação matemática. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2017. 180p.