Agricultura digital ainda anseia pela conectividade do campo

Publicado em: 11 de fevereiro de 2021

Gustavo Schaper, Head de Operações da Syngenta Digital 

Com os avanços da tecnologia, um movimento global tem sido notado no agronegócio, chamado agricultura 4.0. Se trata de um investimento massivo em soluções tecnológicas, com objetivo de reduzir os custos, auxiliar na tomada de decisões do produtor, que hoje pode contar com a eficiência da informação para realizar o uso racional de seus recursos e recuperar seu investimento em curto prazo.

Imerso neste contexto a AgriBrasilis entrevistou Gustavo Schaper, Head de Operações da Syngenta Digital, que pode contar sobre sua experiência neste mercado. Gustavo Schaper é engenheiro de produção pela Universidade Federal de Minas Gerais, e possui pós graduação pela Université de Lausanne em mercado de negócios estratégico.


AgriBrasilis – Quais são os desafios da agricultura moderna no Brasil levando em consideração a diferença entre pequenas empresas no modelo de startups voltadas ao desenvolvimento de tecnologias e investimentos em P&D realizados por empresas de atuação global como a Syngenta?

Gustavo Schaper A exigência dos mercados consumidores trouxe para a agricultura moderna novos contornos, que, agora, pedem um olhar mais diligente, capaz de administrar uma quantidade inimaginável de variáveis.

A rastreabilidade e a transparência de toda a cadeia de produção de alimentos, bem como o aumento dos cuidados com a sustentabilidade e o uso consciente dos recursos são alguns exemplos. Somando a isso as altas volatilidades dos mercados e do câmbio, e o contexto da pandemia, temos um cenário de grandes desafios para se produzir alimento no Brasil.

Todo esse novo contexto vem ano após ano aumentando o ecossistema de startups focadas na indústria do agro. Da mesma forma, as multinacionais do setor investem cada vez mais em desenvolvimento de soluções digitais. Pela dimensão e importância do agro brasileiro, tanto empresas globais quanto startups têm seu papel nas transformações digitais.

Um bom exemplo encontramos aqui dentro de casa. Nós iniciamos nossa jornada como Strider, a agtech que, em um primeiro momento, foi adquirida pela Syngenta. Em junho do ano passado, como parte de um movimento global, a Syngenta Digital Brasil foi lançada, unindo de modo inovador a agilidade da startup com a capilaridade e força de uma multinacional digital.

Esse ponto é muito importante, pois se por um lado as startups conseguem testar e encontrar novas soluções com uma agilidade incrível, são as empresas globais do agro que possuem a capacidade de operar com a dispersão das áreas de país continental e com a necessidade de coordenar diversas técnicas/produtos para solucionar um problema real do produtor.

Mais uma vez vale o exemplo da Syngenta Digital: sua plataforma global de produtos, a Cropwise, é o resultado vivo da sinergia de soluções desenvolvidas em inúmeros países e que, hoje em dia, têm a possibilidade de serem aplicadas em outros mercados, distintos daqueles em que foram concebidas. Claro, isso se a aplicação da tecnologia fizer sentido em outro contexto, já que cada país possui suas características agronômicas.

 

AgriBrasilis – Como a falta de conexão pode afetar as tecnologias desenvolvidas? E o que se tem feito para lidar com tal realidade?

Gustavo Schaper A construção de um ecossistema maduro, conectando todos os elos da cadeia, está ocorrendo, porém deve ser acelerado para aumentar a competitividade do agro brasileiro. Neste sentido, nós temos um papel fundamental nesse desenvolvimento: vindos de uma startup (a Strider), e agora como Syngenta Digital, entendemos a importância e dificuldade dessa conexão.

Muitas startups possuem soluções verticais (especialistas) muito boas, porém enfrentam o desafio de acessar o mercado e validar a solução em escala. Esta complexidade na escalada se dá pelo tamanho do Brasil, pelas distâncias e pela baixa cooperação nacional para o uso de novas soluções digitais.

Conhecendo esse panorama, alguns polos regionais começam a ganhar força e desempenhar um papel importante nessa coordenação, principalmente identificando os focos e as soluções que mais possuem aderência. Sem esse movimento estruturado o produtor fica sufocado por tantas pequenas soluções, que estão buscando sua sobrevivência no mercado, e acaba escolhendo um ou outro produto digital ou, até mesmo, postergando a experimentação e o início da jornada de transformação.

Desde a nossa constituição como Syngenta Digital, que é o fruto de aquisições de startups em diferentes regiões do mundo, temos esse pensamento de conexão e estamos ativamente buscando influenciar empreendedores para trabalharmos de forma mais colaborativa, concatenando diferentes tecnologias e expertises para que, de fato, consigamos reduzir as distâncias entre as “Digitais” e aumentar nossa capacidade de oferecer soluções completas para os produtores.

 

AgriBrasilis – Qual é a aposta da empresa em relação ao panorama da agricultura digital para os próximos 20 anos no Brasil?

Gustavo Schaper Sempre brincamos que 20 anos em digital corresponde a 100 anos em outras indústrias, devido à grande velocidade das transformações.

Como o agricultor brasileiro possui uma forte característica empreendedora, apostamos que o Brasil continuará a ser um polo de desenvolvimento e uso em escala de soluções digitais.

A aceleração das capacidades de processamento de dados; utilização inteligente de imagens e sensores; e uso avançado de aprendizado de máquina são temas que provavelmente terão maior destaque nos próximos 20 anos na agricultura brasileira.

Mesmo com temas futuristas como máquinas autônomas e uso de robôs no campo, o foco de Syngenta Digital será sempre estar ao lado do produtor como o parceiro conhecedor de tecnologia para resolvermos, juntos, os problemas reais do dia a dia das fazendas e caminharmos na evolução do agro.