Julio Jacintho, diretor da Agropecuária Jacintho conta sobre a tecnificação da pecuária no Brasil
Com 162,3 milhões de hectares destinados apenas à pecuária, que somam 19,06% da área total do País, desde o ano de 2018, o Brasil sustenta o título de maior rebanho comercial do mundo¹, com aproximadamente 222 milhões de cabeças, como pode ser conferido no seguinte gráfico ²:

Em 2019, o Brasil foi o maior produtor mundial de carne bovina, com 10,2 milhões de toneladas equivalentes em carcaça. O balanço financeiro do mesmo período, gerou valor bruto de produção de R$ 219,8 bilhões², com média de capacidade de engorda de 4,5@/ha/ano³.
O crescimento econômico brasileiro pode ser considerado graças ao agronegócio, o qual representava 21,4% do PIB do país, ou R$ 1,55 trilhão, em 2019. Dentre os segmentos, a pecuária corresponde a 32%, num total de R$ 494,8 bilhões⁴.
Em comparação ao período de janeiro a junho de 2019, neste mesmo período em 2020 o PIB do agronegócio no Brasil cresceu 5,26%, representando R$ 85 bilhões. No ramo pecuário houve aumento de 10,41%, equivalente a R$ 52 bilhões⁴.
Atento a este crescente mercado, o pecuarista Julio Jacintho, graduado em engenharia agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), e mestre em Economia Agrícola pela Universidade da Flórida, conta para a AgriBrasilis sobre o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) que conduz na Fazenda Três Irmãos, tendo 9.000 hectares em ILP, dos quais são divididos entre áreas de pastagem, confinamento e produção de grãos.

Julio Jacintho
AgriBrasilis – Onde se localizam as áreas do grupo e qual sua capacidade anual de abate?
Julio Jacintho – A Agropecuária Jacintho é uma Empresa Familiar que atua no Mato Grosso do Sul com propriedades em Naviraí, Campo Grande, Porto Murtinho, Bela Vista, e Paraíso das Águas. Na pecuária de corte fazemos ciclo completo, com produção de animais Nelores de corte, e cruzamento industrial com Angus, Bonsmara e Canchim. Abatemos 13 mil cabeças por ano, sendo 8 mil em confinamento.
AgriBrasilis – Quais são as técnicas de manejo empregadas, e quais os resultados em relação ao aumento da produtividade?
Julio Jacintho – Na agricultura, produzimos soja com manejo integrado de controle biológico e na safrinha temos áreas que são reservadas para pastos de inverno usando braquiárias semeadas após soja. As áreas de milho são consorciadas com braquiária na entrelinha de tal sorte que a produção de palhada e matéria orgânica seja maximizada.
Na pecuária de cria temos estação de monta curta e definida, com IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) em 35% das matrizes, e uso de touros melhoradores para cobertura a campo. Os bezerros desmamados são transferidos para a Fazenda Vaca Branca / Três Irmãos – Naviraí.
A Fazenda Vaca Branca tem 2.000 ha em pecuária (sendo 9.000 cabeças e abate de 8.500 por ano), e 7.000 ha em agricultura. No inverno pós desmama, os bezerros vão para áreas com pasto de inverno (“braquiária safrinha”), bem manejadas – divididas em parcelas de 60 ha, com água de qualidade e sal mineral. Nos 100 dias de pastejo entre maio a setembro o GPD (Ganho de Peso Diário) é acima de 600 gramas/dia.
No início de setembro, todos são transferidos para piquetes próximos do confinamento e recebem no cocho dieta total pelos próximos 60 dias. Neste período de suplementação estratégica conseguimos manter ganhos acima de 600 gramas/dia. Nas pastagens intensivas trabalhamos com 03 UA por hectare. Os animais são manejados no sistema de pastejo rotacionado, recebendo suplementação proteico-energética. As pastagens são adubadas, garantindo qualidade da forragem.
Nossa meta é conseguir GPD de 700 gramas/dia nos 365 dias de hospedagem pós-desmama. Os garrotes vão ao confinamento com peso acima de 400 kg em média. Os GPD no confinamento são muito bons. O peso médio de abate é de 22@, aos 24 meses de idade (em média). A produção da fazenda em engorda é de 32@/ha/ano, com um CPV (Custo de Produto Vendido total – incluindo DAF, imposto, depreciação, amortização e arrendamento) de R$ 174,00/@.
A rentabilidade do sistema se torna muito atrativa com preços em patamares acima de R$ 180,00/@.

Cocho com soja provinda do
sistema de integração na Fazenda Três Irmãos
AgriBrasilis – Como é o sistema de integração e qual sua importância? Há algum sistema específico em uso nas propriedades do grupo?
Julio Jacintho – Na Fazenda Vaca Branca, plantamos braquiária (ruziziensis e pitã) na safrinha em 20% da área agrícola. Estes pastos de inverno são bem manejados, com parcelas de 60 ha em média, e os bezerros passam o inverno com ganho de peso muito bom, conforme descrito acima.
AgriBrasilis – Como a genética tem contribuído para obter maiores ganhos na propriedade? Como é realizado o processo de escolha das raças e demais cruzamentos de taurinos?
Julio Jacintho – Sou a terceira geração de pecuaristas da família. Meu avô se interessou pelo Zebu logo no início das importações dos anos 1950. Meu pai, Chichico Jacintho, foi melhorista de Nelore Mocho e da Raça Canchim.
Há 18 anos iniciamos a criação de Bonsmara. Atualmente fazemos o tricross (terminal) com IATF de sémen melhorador Angus em matrizes meios sangue Bonsmara ou Canchim.
Nosso plantel de Nelore está sempre em melhoramento programado. A produção de F-1 Angus em matriz Nelore é o rumo natural a ser seguido, acredito.
AgriBrasilis – Quais são as principais dificuldades de se realizar a terminação em animais oriundos de cruzamento industrial?
Julio Jacintho – No nosso sistema o cruzamento industrial tem apenas uma dificuldade: carrapato. Como adotamos um manejo sanitário adequado, as vantagens do cruzamento são apreciáveis, e o rendimento de carcaça é muito bom, dado ao peso elevado que os animais são oferecidos ao mercado (600 – 680 kg).

Pastejo na Fazenda Três Irmãos
AgriBrasilis – O Brasil sustenta o título de maior rebanho comercial do mundo, contudo as médias de produtividade ainda são muito baixas e os pastos degradados ainda são uma realidade. Na sua opinião, o que é necessário e quais ações são importantes para a pecuária brasileira ganhar ainda mais destaque?
Julio Jacintho – Acredito no mercado. A pecuária vai evoluir na medida que esta conseguir ser competitiva com outras atividades agrícolas, soja e milho em particular.
No nosso caso, hoje produzimos mais carne em 25% da área inicialmente dedicada à pecuária. Temos, portanto, 75% da propriedade em agricultura, que compete com a atividade pecuária para ganhar ou perder espaço. A legislação brasileira é rígida em todos os aspectos que concernem nossa atividade rural.
Nós, produtores rurais, somos conservacionistas natos, somos comprometidos com o bem-estar de nossos colaboradores e colocamos o bem-estar geral da sociedade como prioridade em nossas ações.
O preponderante para a pecuária brasileira, e demais atividades rurais aqui desenvolvidas, é passar ao mundo essa informação: O Brasil é onde se produz o melhor alimento do mundo, conservando o meio ambiente e buscando melhorias sociais de forma entusiasta.
AgriBrasilis – O senhor, que atua na pecuária há mais de 30 anos, quais foram as principais diferenças que na bovinocultura brasileira nestes anos? Quais foram as principais transformações nestes anos e quais são os desafios para se manter no campo hoje?
Julio Jacintho – Todo o processo produtivo mudou muito. Faço a seguinte comparação: a agricultura evoluiu em 40 anos, e seguirá trazendo avanços tecnológicos. Pois o mesmo processo está em andamento na pecuária. A diferença é que como o ciclo agrícola é mais curto, os avanços são mais notórios. Ocorre que essa roda está girando cada vez mais rápida, e os avanços na pecuária também vão se mostrando cada vez mais.
Como disse acima, o mercado é soberano, e a produção na agropecuária hoje é matemática. Portanto, na hora de resolver uma questão produtiva no meio rural as variáveis estão ficando mais restritas (“intensificar ou não? Adubar pastagens? Suplementar? Investir em saúde e genética?”) e as soluções se resumem a uma realidade: manter a atividade viável e saudável.
Notas:
¹Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea);
²Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA);
³Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);
⁴Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
