150 mil toneladas de feijão foram consumidas a mais na pandemia

Publicado em: 4 de novembro de 2020

No mínimo 150.000 toneladas de feijão foram consumidas a mais durante a pandemia: a dinâmica dos pulses no mercado nacional por um especialista.

R$ 21 bilhões é o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do arroz e do feijão. O primeiro representa R$10,75 bilhões e o último R$10,18 bilhões.

Marcelo Eduardo Lüders concedeu à AgriBrasilis uma entrevista exclusiva sobre o mercado nacional de pulses, arroz e feijão. Lüders é presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) e possuí ampla experiencia no mercado.

AgriBrasilis – Quais são os principais mercados de feijões e pulses hoje no Brasil? 
Marcelo Lüders – O nosso próprio mercado é um grande consumidor de cerca de 3 milhões de toneladas de feijão e com potencial de aumento de consumo de pulses, como lentilha, ervilha e grão-de-bico, para algo em torno de 300.000 toneladas destes outros grãos, além do feijão.

AgriBrasilis – A demanda por feijões e demais pulses como fonte de proteína vegetal aumentou durante a pandemia?
Marcelo Lüders – Uma recente pesquisa mostrou que durante a pandemia aumentou em 10% o consumo de feijão. Tomando que isto se deu por cerca de seis meses, representa no mínimo 150.000 toneladas de feijão que foram consumidos a mais durante a pandemia. No entanto, pesquisas indicam que a COVID-19 trouxe uma aceleração na tendência do aumento de consumo de proteínas de origem vegetal. Os mercados de todo mundo estão aumentando o consumo por dois principais motivos:

Maior consciência e nível de informação tornam os países de economias pujantes em mercados com aumento importante de consumo  Países com renda per capita baixo tem na proteína vegetal originada nos pulses a mais acessível fonte de nutrição.

Seja por qual motivo for, a verdade é que o consumo de proteínas vegetais é o mais sustentável, uma vez que é a melhor utilização de recursos naturais por quilo de proteína produzida. As pegadas de carbono também são as menores durante a produção.

AgriBrasilis – Problemas com estoque de feijão podem ser um impeditivo na heterogeneidade dos preços do grão ao longo do ano?
Marcelo Lüders – O feijão-carioca que desde os anos 70 foi responsável por alavancar a produção brasileira, mas acabou por colocar o mercado em um beco sem saída. Quando sobra feijão-carioca, os preços caem abaixo do custo porque não há mercado mundial para esta variedade. Por outro lado, quando temos diminuição de produção como este ano não temos de onde trazer este feijão que é responsável por 70% da produção brasileira. Assim, as oscilações acabam acontecendo.

AgriBrasilis – Muito se comenta sobre o mercado de pulses estar experimentando boom no exterior devido a leguminosas serem um ótimo substituto de proteína animal, como a produção brasileira terá oportunidades neste contexto?
Marcelo Lüders – Não só terá oportunidades pela proatividade do setor no Brasil, como também pela demanda que, sim, põe e coloca o Brasil como principal ator desse setor nos próximos anos. A área irrigada crescente precisa ser acelerada para que tenhamos oportunidade de gerar excedentes de oferta que possam ser escalados para o mercado mundial.

AgriBrasilis – Assim como o feijão, que tem 3 safras todos os anos no Brasil, há espaço em nossa agricultura para difusão dos demais pulses para exportação?
Marcelo Lüders – Vivemos, em algumas variedades de feijões e alguns pulses, o paradoxo de vender pouco porque é caro e ser caro por vender pouco. Maior consciência e nível de informação tornam os países de economias pujantes em mercados com aumento importante de consumo Países com renda per capita baixo tem na proteína vegetal originada nos pulses a mais acessível fonte de nutrição.

Entendemos que com a parceria público-privada teremos oportunidade de acelerar rapidamente as pesquisas e tornar o país também competitivo destes outros pulses e, pela ordem, acreditamos que serão o grão-de-bico, a lentilha e, por fim, ervilha. Outras variedades de feijões também como feijões-rajados, vermelhos, brancos e diferentes variedades de caupis têm merecido atenção dentro de novas parcerias que surgem no mercado. Mas apenas menos de 10% da área de feijão no Brasil é plantada hoje com sementes.

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